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Quem foi Marielle Franco e quais eram as lutas da vereadora

A história e as histórias da vereadora do PSOL assassinada na noite da última quarta-feira, 14, no Rio de Janeiro.

Por Isabella Otto Atualizado em 16 mar 2018, 12h09 - Publicado em 15 mar 2018, 13h13

Parece injusto dizer “quem foi Marielle Santos”. Então, entenda o uso do tempo verbal apenas como uma regra gramatical. Marielle continua “presente, hoje e sempre”. Essa é, inclusive, a frase que o PSOL, partido que a vereadora era afiliada, está usando para fazer jus ao legado deixado pela socióloga de 38 anos, assassinada na noite da última quarta-feira, 14, na região central do Rio de Janeiro.

Site Oficial da Marielle Franco/Reprodução

Marielle entrou para a vida política em 2005, após perder uma amiga para a violência carioca, vítima de bala perdida. Nascida e criada no Complexo da Maré, bairro localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro, marcado pela forte presença de comunidades, se engajou de imediato em campanhas contra a violência policial em favelas. Recentemente, havia sido nomeada relatora da comissão da Câmara Municipal que fiscalizaria a intervenção militar que está rolando no estado. Na tarde da última quarta-feira, 14, moradoras da Maré, que convivem com o exército desde 2014, quando rolou a Copa do Mundo no Brasil, temiam o retorno em peso das Forças Armadas. “A nossa experiência com o Exército foi péssima. Éramos revistados 20 vezes por dia. Sob acusação de desacato, mais de 500 pessoas foram presas e levadas para o Tribunal Militar”, denunciou Gizele Martins, de 32 anos, ao Jornal do Brasil. A “cria da Maré”, como era conhecida a ativista, foi assassinada poucas horas depois.

Aliás, muito se fala sobre ser ativista, mas você sabe o que essa palavra realmente significa? O significado é amplo, mas, basicamente, ser ativista é ser engajada em uma causa, que, geralmente, está vinculada a um ou vários movimentos sociais. O ativismo de Marielle era, por exemplo, contra a violência nas comunidades e a falta de segurança urbana. Mas o ativismo da carioca ia além! A vereadora também lutava pelas mulheres, tendo como foco as negras e lésbicas. #AssédioNãoÉPassageiro, Lei das Casas de Parto, Espaço Coruja/Espaço Infantil Noturno e Pra Fazer Valer o Aborto Legal no Rio eram alguns dos projetos de lei propostos pela vereadora do PSOL. Abaixo, resumimos brevemente o que cada um defende:

1. #AssédioNãoÉPassageiro: estimular denúncias de assédio que acontecem no transporte público do RJ que não são feitas por medo.

2. Lei das Casas de Parto: criar mais Casas de Parto no estado, que contribuem para a saúde da mãe e do bebê, geram menos custos para o Município e amenizam as sobrecargas das maternidades de grande porte.

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3. Espaço Coruja/Espaço Infantil Noturno: ajudar milhares de mães e pais que estudam ou trabalham à noite, e não têm com quem deixar suas crianças pequenas, com a criação desses espaços infantis.

4. Pra Fazer Valer o Aborto Legal no Rio: lutar contra os profissionais que se negam a atender mulheres que têm o direito legal ao aborto e informar as garotas sobre seus direitos.

O ativismo em prol das mulheres começou relativamente cedo, quando Marielle tinha 19 anos e se tornou mãe. Após concluir o ensino médico no Colégio Estadual Professor Clóvis Monteiro, a adolescente teve que abandonar os estudos para cuidar da filha, Luyara, hoje estudante de Educação Física na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Quase 20 anos depois, contudo, Franco conseguiu uma bolsa integral na PUC do Rio, onde, em 2002, cursou Ciências Sociais. Como mãe jovem moradora da Maré, Marielle sabia exatamente as necessidades de suas companheiras e lutava diariamente na Câmara por elas.

‘Já é final da noite mas vim me declarar pra mulher que eu mais amo, que me dá orgulho todo dia, que me ensinou que só a luta muda vida’, escreveu Luyara, filha de Marielle, para a mãe no Dia Internacional da Mulher. Facebook/Luyara Santos/Reprodução
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Mesmo tendo que parar os estudos por um período, a educação sempre muito muito presente na vida da ativista, que depois se tornou mestra em Administração Pública pela UFF (Universidade Federal Fluminense). Em 2016, Marielle Franco foi a 5ª vereadora mais votadas entre os 51 eleitos. Presidente da Comissão de Defesa da Mulher, ela trouxe os desafios da mulher negra em discussão, criando outros projetos de lei, como incluir o Dia de Tereza de Benguela e o Dia da Mulher Negra no calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro. Marielle também tentou incluir o Dia da Visibilidade Lésbica ao calendário, mas teve o projeto reprovado pelos vereadores. “Eu sou porque nós somos” era um movimento (mais um) levantado pela carioca em nome de todas as mulheres.

 

Antes de ser assassinada, Marielle também coordenava a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Quatro dias antes de ser morta, denunciou a morte de dois jovens negros em Acari, bairro na Zona Norte do Rio, e classificou a equipe da Polícia Militar que atua na área como “batalhão da morte”. O tweet abaixo foi um dos últimos postados pela vereadora:

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Marielle Franco foi uma das protagonistas do projeto “Vereadores Que Queremos”, parceria da Mídia Ninja e Rede Livre. No documentário, a ativista fala sobre representar as mulheres negras, lésbicas e faveladas: “uma coisa é você morar na favela, outra é você reivindicar e usar desse lugar de favelada pra estar fazendo política de outra maneira(…) A gente vai entrar, a gente vai sair, a gente vai fazer política, a gente vai resistir“.

Reprodução/Reprodução

A gente vai, sim, Marielle! 

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Comportamento
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A história e as histórias da vereadora do PSOL assassinada na noite da última quarta-feira, 14, no Rio de Janeiro.

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