Você provavelmente já deve ter escutado de alguém que não basta tirar o título de eleitor, apenas. É preciso exercer o voto consciente, já que ele é um forte instrumento de mudança política e social. Parece simples mas, com o volume de informações pela internet – sem falar nas consequências de saúde mental e aprendizagem provocadas pelo isolamento na pandemia – como aprender a exercer, de fato, essa consciência em 2022?
“O voto consciente é capaz de transformar a gestão pública de um município, estado ou nação – e, consequentemente, a vida de todos que estão ali inseridos. O voto consciente é nosso maior instrumento para mudar a realidade“, aponta Barbara Ravena, estudante de Ciências Políticas e primeira mulher presidente do CEJUVE-MG (Conselho Estadual de Juventude de Minas Gerais) em conversa com a CAPRICHO.
Segundo ela, o que chamamos de voto consciente pode ser traduzido também como a importância de escolher candidatos para os cargos públicos que estejam alinhados com o que você deseja para o futuro do país. Um primeiro passo seria, então, colocar no papel quais são as transformações que você gostaria que ocorressem, suas prioridades (meio ambiente, educação, saúde) e, em seguida, procurar nomes que estejam alinhados.
Não custa lembrar que, a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º, afirma que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”. Ou seja, a juventude, com potencial eleitoral, tem um importante instrumento de mudança social nas mãos: o voto. Ele é a possibilidade de exercer o seu poder de cidadão, de fato.
Mas a gente entende que esta não é uma tarefa fácil e o mundo parece muito complexo e difícil de compreender. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até fevereiro de 2022 apenas 830 mil adolescentes já tinham o seu título de eleitor em mãos. Nas últimas eleições municipais, em 2020, 23% das pessoas com idade entre 16 e 17 anos estavam aptas para votar. Esse ano, essa porcentagem caiu para 13%.
“Nos últimos anos, a política partidária tem sido desgastada por escândalos de corrupção, caixa 2, funcionários laranjas… Essas notícias negativas afastam o jovem da política e reforçam a ideia de que todos os políticos são corruptos”, explica Bárbara, ao sinalizar uma possível resposta para esta falta de engajamento do público jovem registrada neste ano. “É natural ficar apreensivo na primeira eleição, mas o mais importante é pesquisar bastante, não ir na onda de familiares ou conhecidos, e nunca deixar de votar ou votar por votar“.
Tamires Fakih, especialista em Gestão Pública e presidente do coletivo Todaz na Política, afirma que há formas de mudar isso. “A política ainda é muito dominada por famílias tradicionais, por pessoas que já estão no poder e usam esse poder para se reeleger. A política tem que ter a nossa cara. A gente tem que se olhar e se ver.”
Mas por onde começar?
Deu pra perceber que escolher em quem você vai votar é uma tarefa de extrema responsabilidade, certo? E talvez a primeira pergunta que você deva fazer para iniciar essa busca por representantes seja: “Como eu gostaria que o Brasil fosse?”.
Ok. Possíveis nomes de candidatos escolhidos? Só que surgiu um impasse: o partido político. Será que é preciso levá-lo tanto em consideração? As especialistas ouvidas pela CAPRICHO afirmam que não. “A gente vive uma fase de mudança social com relação aos partidos. Em outra época, eles tinham um papel muito mais forte. Cada dia mais as lideranças passam a se filiar a determinados partidos muito mais por estratégia, para chegar àquele espaço de decisão, do que por convergência ideológica e política “, explica Tamires.
Imaginar um futuro diferente é um direito nosso, e a gente precisa exercer esse direito. Se o país é para todos, a política também precisa ser
Tamires Fakih
Ou seja, na prática, é preciso entender se essa liderança escolhida por você está nesse partido há muitos anos ou se ela optou por aquele partido por determinada estratégia, mas governará para além dele. “O primeiro passo é verificar a vida pregressa daquela pessoa [candidato (a)]: se ela já está na política há muito tempo, o que ela fez para mudar a realidade do seu território, se a postura dela não inviabiliza outras existências, etc”, lista Bárbara. “Acreditar que todo político é igual é um erro. É importante analisar o perfil de cada candidato e conhecer também o cargo ao qual ele está concorrendo”.
E a ação do voto consciente não para por aí. Caso seu candidato seja eleito, é preciso acompanhar esse mandato. Afinal, essa pessoa está lá trabalhando pelo coletivo, não por causas individuais. “O candidato eleito trabalha pra gente e é muito importante ter isso em mente. Cobrar e fiscalizar o trabalho do representante é uma responsabilidade do cidadão”, sinaliza Tamires.
Pensar, discutir e se engajar de alguma forma é muito importante. E a gente não faz isso apenas votando ou se candidatando, por exemplo. “Quando a gente não olha para a política, o espaço que fica vazio é ocupado por pessoas da velha política, por aquela caricatura que conhecemos bem: um homem, branco, de meia idade, rico, que vai defender os interesses da sua classe e apenas isso”, dá o recado Tamires. “Imaginar um futuro diferente é um direito nosso, e a gente precisa exercer esse direito. Se o país é para todos, a política também precisa ser!”.