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Por que o seu repost no Instagram pode eleger o próximo presidente

A forma como usamos as redes sociais pode moldar a nossa visão política, influenciar outras pessoas e ditar os rumos de uma eleição, sabia?

Por Marcela de Mingo, especial para a Capricho Atualizado em 16 nov 2022, 19h09 - Publicado em 26 abr 2022, 18h16
A gente está falando sobre isso tudo por um motivo: as redes sociais nos mantêm conectados uns com os outros, mas de uma forma muito rasa
A gente está falando sobre isso tudo por um motivo: as redes sociais nos mantêm conectados uns com os outros, mas de uma forma muito rasa Getty Images/Getty Images

Ok, a gente admite: não dá para viver sem acesso à internet. Parece até loucura pensar num mundo sem o online (mas, acredite, ele existiu!). Acontece que, em ano de eleição, a gente sabe também que essa tal internet gera um monte de polêmica e, principalmente, desinformação. 

Tá, mas por que isso importa, Capricho? Porque, se você não lembra, nas últimas eleições a internet e as fake news tiveram um papel muito importante nas eleições presidenciais – e não de uma forma positiva, mas no sentido de influenciar muitos eleitores e gerar uma bipolaridade política (a famosa divisão “esquerda” e “direita”) muito maior do que antes. 

Nesse aspecto, a maneira como a gente usa as redes sociais importa, sabe? Porque é nelas que a gente passa boa parte dos nossos dias, onde a gente se informa sobre o mundo, acompanha os acontecimentos globais e até locais, do nosso entorno. 

Bora entender a fonte do problema?

As plataformas trabalham em cima dos famigerados algoritmos, aqueles códigos que a gente não entende super bem, mas que definem o que vai aparecer no nosso feed
As plataformas trabalham em cima dos famigerados algoritmos, aqueles códigos que a gente não entende super bem, mas que definem o que vai aparecer no nosso feed Getty Images/Getty Images

A gente está falando sobre isso tudo por um motivo: as redes sociais nos mantêm conectados uns com os outros, mas de uma forma muito rasa. Pensa no TikTok, por exemplo. A gente ama os vídeos rápidos, dinâmicos, as músicas chicletes… mas vamos combinar que não dá para entender tudo sobre um assunto assistindo alguns vídeos de 15 segundos? 

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Fora que essas plataformas trabalham em cima dos famigerados algoritmos, aqueles códigos que a gente não entende super bem, mas que definem o que vai aparecer no nosso feed e os tipos de conteúdos que as próprias plataformas vão sugerir para a gente, em uma tentativa de nos manter lá dentro por mais tempo. 

“As redes sociais são os lugares onde as pessoas estão falando de política, mas isso é feito de uma maneira muito rasa, porque a própria maneira como a rede se organiza é rasa e tendenciosa”, explica Isabela Rahal, diretora de articulação política da organização Elas no Poder. “Você acaba sempre falando com os seus e confirmando o que você pensa. Você não aprende a dialogar, porque você nem tem contato com outras perspectivas.”

Você acaba sempre falando com os seus e confirmando o que você pensa. Você não aprende a dialogar, porque você nem tem contato com outras perspectivas

 

 

Sacou o problema nisso, né? Some a essa superficialidade dos assuntos o fato de que a internet se tornou um lugar bastante tóxico para falar de política e, muitas vezes, a gente prefere nem participar da conversa para não brigar com desconhecidos (ou pessoas muito conhecidas e próximas) pela internet.

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Tem também a questão da representatividade. Se a gente olhar para a nossa política, é difícil encontrar pessoas que nos representem. Boa parte dos nossos governantes segue o padrão homem-branco-de-meia-idade, com discursos que não dialogam com as nossas necessidades. E considerando que muitas vezes (como a exemplo das eleições de 2018) são essas pessoas que se utilizam das notícias falsas e dos spams de WhatsApp para conseguir eleitores, é fácil perceber porque a gente quer se manter longe dessas conversas. 

A pesquisa Juventudes e Democracia na América Latina, desenvolvida pela Unifesp, mostra como isso vai além: estamos não só insatisfeitos com a nossa democracia e a maneira como ela tem sido governada, mas também com o surgimento de ondas populistas e, principalmente, nos sentindo desconectados emocionalmente e afetivamente das instituições democráticas. E, não, as redes sociais e a internet não ajudam nisso. 

“As pessoas engajam na base da emoção”, continua a Isabela. “Muitas pessoas que estão se envolvendo na política são inclinadas a trabalhar com posts e conteúdos que despertam mais emoções, para engajar mais. Temos poucos influenciadores que falam com menos emoção e mais razão.”

As próprias redes sociais têm o seu papel nesses discursos inflamados. Entender como elas funcionam – e que, sim, elas têm interesses econômicos – faz parte do processo de bom uso das redes e fuga das fake news e dos conteúdos polêmicos. Entre diminuir o alcance de conteúdos políticos como um todo (e não barrar as fake news, especificamente) e estimular um alto número de cliques e engajamentos, elas quase que colaboram para um sistema nocivo e coloca a gente cada vez mais distante da política de verdade e mais perto das brigas e discussões rasas e que não chegam a lugar nenhum. É uma cortina de fumaça. 

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É importante a gente ter esse entendimento: as redes sociais não são neutras e que o que a gente publica sofre censura ou interferência, e isso pode ter consequências legais

“Crescemos ouvindo que a internet é uma terra sem lei”, diz Luã Cruz, pesquisador do programa de direitos digitais do Instituto Brasileiro do Direito do Consumidor (IDEC). “Só que não é isso que acontece. O ambiente online tem uma série de regras que são impostas, tanto pelas plataformas, quanto pelo próprio Estado, que de alguma forma tentam regular o que pode e o que não pode ser publicado, qual conteúdo vai ser visto ou não. É importante a gente ter esse entendimento: as redes sociais não são neutras e que o que a gente publica sofre censura ou interferência, e isso pode ter consequências legais.”

Isso vai desde de um conteúdo falso que a gente vê na timeline até aquele comentário ofensivo que alguém deixa em um post que fizemos nas redes, passando por um post que exibe os mamilos femininos (que são sempre censurados, caso você não saiba, ao contrário dos mamilos masculinos). 

O anonimato, aliás, é outra grande mentira das redes sociais. De posse das legislações em vigor hoje, no Brasil, é possível uma investigação oficial descobrir quem escreveu um conteúdo, de onde esse conteúdo foi publicado e quando, incluindo informações pessoais, como endereço e CPF daquele usuário. 

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O problema disso está no volume: são conteúdos e conversas demais para fiscalização de menos. E isso gera uma brecha para as fake news, os spams, os conteúdos inflamatórios… tudo o que a gente conhece e que torna a conversa política na internet quase impossível.

Muitos conteúdos políticos são recheados de emoção, então, da próxima vez que você se deparar com um post ou comentário cheio de exclamações e jargões emotivos (como “canalhas!”, por exemplo), pense duas vezes antes de deixar o seu like e comentário. Respire fundo, conte até 10 e veja se vale mesmo a pena participar dessa discussão, lembrando que quanto mais engajamento, mais chances desse conteúdo ter ainda mais alcance e gerar ainda mais engajamento. 

A dica principal é se fazer uma pergunta fundamental: esse post está me ensinando algo de útil ou gerando uma polêmica? Se for o segundo caso, faça como no Tinder e dê um bom “swipe left” – é bem provável que esse conteúdo só queira cliques e engajamento, sem qualquer desejo genuíno de gerar consciência política nos usuários da rede em questão. 

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Sociedade
Por que o seu repost no Instagram pode eleger o próximo presidente
A forma como usamos as redes sociais pode moldar a nossa visão política, influenciar outras pessoas e ditar os rumos de uma eleição, sabia?

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