á parou para pensar no quanto a mudança e a salvação do mundo é jogada nas nossas mãos? Principalmente quando o assunto é meio ambiente. Acontece que, muitas vezes, a discussão do tema é elitizada e não inclui as diferentes realidades do país. Isso faz com que uma boa parte da nossa galera fique de fora da conversa – e, no fim, todo mundo sai perdendo, viu?
Para refletir sobre o assunto, a CAPRICHO conversou com três jovens que lutam muito por um movimento sustentável mais consciente e inclusivo: Ana Luiza Teixeira, líder do “Unificar Ações e Informações Geoespaciais”, do programa universitário YouthMappers, Gabriela Alves, sócio fundadora do Instituto Perifa Sustentável e Mikaelle Farias. Essa última é estudante de Engenharia em Energias Renováveis pela Universidade Federal da Paraíba e trabalha com pesquisas de transições energéticas.
O que é ativismo?
Antes de mais nada, Gabriela explica que o ativismo é a inconformidade de pautas reais. Ou seja, trata-se de reconhecer um problema, não aceitar sua existência e trabalhar para solucioná-lo. Logo, partindo dessa definição, todo mundo consegue ser ativista, certo? Só que não é tão simples assim. Quando falamos em mudanças, é indispensável lembrar da desigualdade que o mundo vive e trazer o debate para as diversas realidades existentes. Esse é o papel de um ativista também.
“A educação é bandeira primordial para que os dados do problema e as discussões sobre uma solução não caiam em um elitismo. As informações devem sempre ser traduzidas e levadas ao máximo de pessoas, com os mais diversos repertórios culturais e de conhecimento“, explica Gabriela, que é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo.
“Como posso enxergar minhas lutas e dores dentro de uma organização onde não existe por sua maioria pessoa como eu?”
Mikaelle Farias
Infelizmente, essa inclusão ainda não é colocada em prática na maior parte das vezes. Mikaelle, que trabalha pela conscientização de povos marginalizados e da justiça climática, aponta que as grandes organizações que pautam questões ambientais hoje são compostas pela sua maioria por pessoas brancas do sul e sudeste. O que, segundo a jovem, distancia e não representa pessoas como ela, por exemplo.
“Fazer recortes de classe e raça nos ajudaria a compreender a complexidade dos sistema de desigualdade socioambiental hoje no Brasil”, afirma a estudante à CH. “Com eles também ficaria mais fácil pensar em soluções diversas para que seja alcançado uma justiça social e ambiental”, completa.
Por que não falam com quem é mais afetado pelas mudanças climáticas?
Trazer para o centro do debate e ouvir a juventude não privilegiada não é apenas uma questão de inclusão. É, na verdade, uma urgência, já que essa galera são os mais, e na maioria das vezes os primeiros, a serem afetados por problemas ambientais.
Quer um exemplo simples disso? O aumento de chuvas desproporcionais é uma consequência do desequilíbrio ambiental. Esses desastres são agravados pela falta de políticas que cuidem de ambientes como as periferias ou lugares descentralizados. O que acontece nesses lugares quando essas chuvas ocorrem? Enchentes, desabamentos, intoxicação. Deu para entender, né?
“É muito mais fácil alguém que tem uma casa digna, com comida na mesa e roupa no corpo começar a se interessar por essas pautas do que quem é negligenciado e marginalizado nesses quesitos básicos. Isso além de compreensível, também ocorre porque hoje temos dificuldade em enxergar a sustentabilidade de forma holística”, reflete Gabriela, do Instituto Perifa Sustentável.
E como ampliar a luta ambiental para democratizar e alcançar mais resultados?
Segundo as entrevistadas, a resposta é: descentralizar a causa ambiental, mapear as regiões e falar com a galera. Mikaelle ressalta que cada lugar tem uma necessidade e pode apresentar um problema particular. Por isso defende um trabalho constante que precisa sempre ser adaptado para cada território.”É importante que as pessoas entendam o que é a crise climática e vejam que a ação delas e suas vozes importam e isso pode fazer total diferença a mudança na realidade”, defende a estudante de Engenharia em Energias Renováveis.
Ana Luísa Teixeira, líder do “Unificar Ações e Informações Geoespaciais”, do programa universitário YouthMappers, faz um trabalho superlegal nesse sentido: o mapeamento de comunidades. Ela explica que, além de ser importante para memória e identificação dos moradores locais, é politicamente importante que os donos das terras tenham comprovantes caso sejam questionados.
“O mapeamento desigual e desatualizado do território brasileiro, como consequência da falta de investimentos e extensão territorial ao longo dos anos, coloca muitas comunidades invisíveis nas bases cartográficas nacionais”, ressalta a jovem.
Conhecer o espaço que sofre com o desmatamento e com todos os impactos climáticos, mas principalmente quem precisa dele para sobreviver, é muito importante para pensar em um ativismo mais inclusivo e eficiente.
Afinal, em uma luta tão urgente não dá mais para silenciar a galera que precisa e têm muito a dizer, né?