á nas eleições gerais de 2022, a nossa galera entre 16 e 18 anos bateu recorde quando o assunto foi emissão do título eleitoral e participação nas urnas. Mas, agora, em 2024, temos novas eleições – só que municipais – e não parece que o engajamento está tão alto como antes. Afinal, por que isso acontece?
“Eu acho que as pessoas precisam entender que a participação jovem na política é essencial, independente de ser municipal, estadual ou federal”, afirma a deputada federal Erika Hilton à reportagem da CAPRICHO.
Nós conversamos com ela sobre as eleições deste ano e a participação da juventude lá nos bastidores do SPFW (São Paulo Fashion Week), a semana de moda mais importante do país. Ela desfilou pela Dendezeiro – uma marca jovem de dois estilistas de Salvador, na Bahia – marcando novamente sua crença de que moda, beleza, cultura pop e política estão super conectadas.
“Os jovens precisam entender a política como algo feito por e para eles. Só eles têm a capacidade de mudar o rumo que a política tomou ao longo dos anos”, completa Hilton. Segundo ela, “a política tem que ser renovada, com novas ideias, novos personagens, novas pessoas”. E isso é difícil de fazer, né, leitor e leitora de CAPRICHO?
A juventude, afinal, não se vê representada. Na Câmara dos Deputados, por exemplo, a média de idade dos eleitos em 2022 é de quase 50 anos –isso faz com que o Brasil ocupe a 68ª posição entre os 108 países avaliados pela União Interparlamentar, uma organização que organiza informações sobre parlamentos, mundo afora.
Por aqui, o deputado federal mais novo eleito é Ícaro Costa, de 21 anos, pernambucano do PL, mesmo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Além dele, apenas outros 17 parlamentares foram eleitos com menos de 30 anos, o equivalente a pouco mais de 3% dentre todos os deputados desta legislatura.
Fora das casas legislativas, a participação dos jovens na política como eleitores também não é animadora: você provavelmente se lembra que, nas eleições de 2022, foi preciso uma grande campanha de influenciadores e artistas, como Anitta, para garantir que jovens de 16 a 18 anos –que podem votar, mas não são obrigados a isso– fossem às urnas.
Historicamente a gente imagina uma sala em que pessoas estão atuando na política e decidindo os rumos do país, imaginam homens de terno num espaço formal, porque historicamente política está ligado a isso, cabeças brancas, essa conexão é muito difícil de se fazer. Se a gente não tem jovens ali, não constrói no nosso imaginário que eles também devem ocupar esse espaço.
Mas a deputada não se desanima. “Quero ver jovens disputando [eleições] nos territórios, quero ver os jovens colocando a cara, mostrando que há uma resistência forte pela democracia, pela igualdade, pelos direitos humanos que são valores que não são de esquerda e nem de direita, deveriam ser valores humanitários, sociais. E somente jovens, com novos pensamentos, novas ideias, são capazes de trazer isso.”
Na conversa com a CAPRICHO, a deputada ainda lembrou da nossa parceria com a Girl UP Brasil, uma organização da sociedade civil que busca potencializar a participação política de meninas e jovens mulheres.
“Essa relação é super importante para que vocês vejam que moda, beleza e estética, também como política e fazer com que eles [meninas e meninos] se sintam parte desse processo em busca de uma sociedade melhor e de uma política renovada.”
“A política é o meio. Você é política, mas também é outras coisas. Eu também posso gostar de esporte, das minhas coisas. Nunca deixei de gostar de moda, por exemplo. E existem muitos jovens que me encontraram a partir desses locais”, afirmou a deputada, no Super Meninas, evento da Girl Up Brasil em parceria com a CAPRICHO em outubro de 2023.
Os homens brancos, velhos e herdeiros, nunca terão a visão que as mulheres e os LGBTs têm da política; Para as coisas mudarem, nós precisamos nos impor
Erika Hilton, deputada federal
Quem é a deputada Erika Hilton, CAPRICHO?
Foi lá em 2018, no mesmo ano em que Marielle Franco foi brutalmente assassinada no Rio de Janeiro, que, em São Paulo, Erika Hilton chegou ao seu primeiro cargo eletivo na política e entrou para a lista de uma das ‘sementes’ da vereadora morta eleitas pelo país, em um efeito de resistência contra a violência.
Na época, ela – ainda com uma atuação tímida na política institucional e estudante de gerontologia na Universidade Federal de São Carlos (UFscar) – chegou à Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) como uma das integrantes da Bancada Ativista, chapa coletiva do Psol, liderada por Mônica Seixas.
Aqueles quase 150 mil votos da época se transformaram em outros números. Em 2020, ela foi eleita vereadora por São Paulo com 50.508 votos, se tornando a vereadora mais votada do Brasil e a primeira mulher trans a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal da capital.
Entrei na política a partir de uma necessidade, não de uma vontade.
Erika Hilton, deputada federal por São Paulo
Mais tarde, em 2022, ela sonhou mais alto: chegou ao Congresso Nacional, eleita como deputada federal por São Paulo e uma das candidatas mais votadas do país. Recentemente, ela foi escolhida para presidir a bancada de seu partido, conquistando mais um feito: a primeira mulher trans a liderar uma bancada.
Mas chegar até aqui não foi fácil, é doloroso, e os desafios são muitos. “Entrei na política a partir de uma necessidade, não de uma vontade”, ela conta à CAPRICHO.
“Difícil elencar desafios diante de um mar de dificuldades. Desde as tentativas de transformar nossas pautas, e às vezes até a gente [pessoas trans e transexuais], em chacota. A dor de ver tantas realidades duras e sofridas sendo tratadas como ‘mimimi’. São muitos os desafios que exigem de nós força, resiliência e foco para não sucumbir.”
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