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O seu acesso à internet diz muito sobre a desigualdade no Brasil

Pois é: não é todo mundo que consegue navegar na internet o tempo inteiro, todos os dias

Por Maki de Mingo, especial para a CAPRICHO 5 jun 2023, 06h00

Para pra pensar um pouquinho: como seria um mundo sem internet? Isso parece uma loucura, né? É uma parte tão importante do nosso dia a dia, que é difícil imaginar como seria viver sem ela. Mas, acredite, não tem tanto tempo assim a gente vivia num mundo em que laptops e smartphones nem existiam e, ainda hoje, muita gente não tem acesso ao mundo online.

Tá, mas porque isso importa? Simples: porque a internet virou uma ferramenta super útil, mas ela ainda é um privilégio de poucos. É como uma fotografia: o quanto a gente usa a internet na infância e adolescência consegue demonstrar exatamente o nível de desigualdade do Brasil. 

Por exemplo, nem todo mundo consegue usar a internet na escola, seja pra fazer pesquisas ou pra praticar o que aprende em sala de aula. Só 44% dos usuários de internet com idade entre 9 e 17 anos conseguem acessar a web no ambiente escolar. E esse cenário muda quando a gente fala de classes sociais: nas classes A e B o acesso é maior (56%) e nas classes D e E, menor (34%).

O que o acesso à internet (ou a falta dele) diz sobre desigualdade

acesso à internet
Westend61/Getty Images

Bora tornar essa conversa um pouco mais profunda? A gente já citou, no começo desse texto, que imaginar um planeta sem internet é complicado. Mas é uma visão bem privilegiada, sabia? É porque nem todo mundo tem o mesmo acesso que você, que lê essa matéria. 

Os dados que citamos acima são de um estudo focado no uso de internet por crianças e adolescentes, o TIC Kids Online, desenvolvido pelo Centro Regional e Estudos para Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), que revelou também que a maioria dos jovens (97%) se conecta à internet de casa. 

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A questão é que essa conexão varia muito. Para 31% dos jovens, principalmente os de baixa renda, a velocidade da internet é sempre ruim. Crianças das classes D e E costumam ter mais problemas (39%) de acesso à internet em comparação com as classes A e B (18%). 

A questão da velocidade da internet não é o único problema. O preço pago pelo acesso (inclusive com créditos de celular, por exemplo), também é um ponto importante, já que limita a conectividade. Muitos jovens, principalmente das classes D e E (25%), deixaram de fazer alguma atividade por medo de ficarem sem créditos. 

E, sim, para essas crianças, o celular é o principal meio de acesso ao mundo online – ele é a única opção para 82% dos entrevistados pela pesquisa. Já para as crianças mais privilegiadas, esse cenário muda completamente: só 21% usa o celular para se conectar: elas também têm acesso a computadores, televisores e consoles que permitem essa conexão. Ou seja, as diferenças socioeconômicas também influenciam no acesso à internet. 

Hm, estamos todos  *mesmo* conectados?

A gente está falando sobre isso tudo por um motivo: as redes sociais nos mantêm conectados uns com os outros, mas de uma forma muito rasa
A gente está falando sobre isso tudo por um motivo: as redes sociais nos mantêm conectados uns com os outros, mas de uma forma muito rasa Getty Images/Getty Images
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Se você observar o seu dia a dia, você usa a internet pra muitas coisas: conversar com as amigas pelos aplicativos de mensagens (como o WhatsApp), fazer pesquisas para a escola, acompanhar os seus youtubers favoritos, aprender alguma coisa nova, ler… os usos são mesmo ilimitados. 

E o futuro tem mostrado que, cada vez mais, a internet vai ser o espaço onde muita coisa acontece – vide a inteligência artificial, que depende da internet para funcionar e executar tarefas simples, como resumir informações de um artigo científico. 

Se pouca gente tem acesso à internet – e se esse acesso, quando acontece, é precário -, isso significa que as desigualdades sociais, que já são grandes, vão ficar maiores ainda. Afinal, a tecnologia não vai esperar ninguém alcançar as novidades que surgem dia após dia, né? Isso nem é possível, se formos sinceras. 

Sabe qual o ponto de virada pra essa realidade? A educação. Outro estudo desenvolvido pelo Cetic, o TIC Domicílio, publicado em 2020, mostrou que quanto maior o grau de escolaridade de um brasileiro, maior o seu acesso à internet. 

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Isso faz muito sentido, afinal, quanto mais você estuda, maiores as chances de conseguir um trabalho que pague um salário maior, o que viabiliza a compra de uma smart TV ou um videogame, fora que também facilita a contratação de serviços de internet de qualidade, já que esse pode ser um boleto bem caro para parte da população. 

Quando você abre o computador pra ler um texto como esse, parece que está lendo só mais um texto na internet. Mas, na verdade, você está vivendo uma dessas estatísticas. Entende agora porque a gente bate tanto na tecla do voto consciente? 

Parece que a gente puxou esse assunto do nada, né? Porém, votar em políticos que priorizam a educação, apoiar iniciativas que estimulem o aprendizado e aumentem o acesso de pessoas de baixa renda, ou que inclua os idosos (outro grupo bem excluído da conversa sobre tecnologia), é a forma mais eficiente de mudar essa situação desigual. A partir daí, acessar a internet vai, mesmo, ser muito mais feliz: afinal, todo mundo vai, literalmente, estar online.

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