Estudos mostram que um dos principais objetivos dos autores de ataques em escolas é ter maior notoriedade. Por conta disso, recentemente, muitas empresas jornalísticas deixaram de mostrar imagens e divulgar o nome dos agressores – justamente para evitar essa exposição desejada na mídia. Mas, mesmo sem terem os seus rostos divulgados, o perfil de quem ataca escolas fica bem evidente: jovens brancos e do sexo masculino.
Isso merece nossa atenção, leitora da CAPRICHO, porque as características não são mera coincidência e refletem um problema profundo da nossa sociedade e que tem tudo a ver com questões de gênero. Vamos te explicar os principais pontos dessa discussão!
Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) analisaram o perfil dos jovens responsáveis por atentados contra a vida em escolas brasileiras nos últimos 21 anos. O gosto pela violência e o culto às armas é um ponto muito comum entre os agressores. Suas relações interpessoais são muito restrita, ou seja, eles não são populares e suas maiores interações acontecem no digital. Além da falta de perspectiva em relação ao futuro, alguns deles apresentam históricos de violência doméstica.
Outro fator comum a todos eles, de acordo com a pesquisa, é a misoginia e a masculinidade tóxica. “Esse ódio, ele é reforçado nos grupos de conversas, de plataformas de conversas de gamers, várias mídias sociais que eles têm acesso”, explicou a mestranda em Educação pela Unicamp e uma das autoras do estudo, Cleo Garcia, em entrevista à Agência Brasil.
Mas por que os garotos são mais violentos?
Desde muito cedo, os meninos são apresentados a ideia de que ser homem é sinônimo de ter virilidade, força e vigor. Na busca desse ideal de masculinidade, padrões violentos vão fazendo parte da construção da identidade deles, que são desencorajados a expressar seus sentimentos e, muito menos, chorar.
“Por isso, muitas vezes, essa masculinidade tóxica exige que os meninos tenham um comportamento agressivo para esconder frustrações, fraquezas, sinais de depressão e ansiedade”, diz Sergio Barbosa, professor de Filosofia, especialista em masculinidades, relações de gênero e violência de gênero.
O especialista destaca que, por falta de diálogo e educação sobre o tema, as emoções desses garotos vão sendo sufocadas, enquanto os comportamentos agressivos acabam sendo naturalizados. “E aí eles se sentem amparados de compartilhar suas raivas e seu ódio em grupos nas redes sociais, ficando muito sujeitos a ideias extremistas e preconceituosas”, explica Barbosa à CAPRICHO.
Os ataques nas escolas são um reflexo extremo disso, mas o professor diz que o problema está presente no ambiente escolar todos os dias. “Mesmo nos casos que não tem o ataque e a morte física, existem adolescentes pensando diariamente em eliminas gays, lésbicas, pessoas com deficiência e mulheres – e na maior parte das vezes, quando isso é identificado, já é tarde demais”, diz.
Como intervir no problema?
Ao longo da cobertura dos últimos ataques na escola, nós, da CAPRICHO, temos discutido o quanto essa problemática é muito mais complexa do que parece e que ela deve começar a ser enfrentada de diversas formas: com diálogo – nas escolas e dentro de casa; atendimento psicológico adequado e combate a ideais e discursos extremistas (dentro e fora das redes sociais).
Sergio, que é um dos pioneiros nos estudos e trabalhos sobre masculinidades, reforça o papel da educação nessa luta. “Primeiro é preciso reconhecer que a escola, muitas vezes, reproduz o modelo machista, patriarcal e misógino”, aponta o especialista.
A escola precisa ser empática. Caso contrário, ela se torna reprodutora de ideias machistas, transfóbicas, racistas, capacitistas…”
O segundo ponto é questionar os estereótipos de gênero nos livros escolares e possibilitar que o aluno tenha contato com a diversidade de opiniões. Aí que está a importância do quadro de professores serem formados por negros, pessoas com deficiência e profissionais LGBTQIA+.
E para você, leitora da CH, que quer colaborar nessa discussão, preparamos um guia sobre isso aqui: