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Nossa geração é a mais sobrecarregada com o (aparente) colapso do planeta

Não tem sido fácil ser cidadão do mundo.

Por Marcela de Mingo, para a CAPRICHO 8 dez 2023, 06h00
A

brir o TikTok ou o Instagram é quase um show de horrores: só se vê notícias sobre o colapso ambiental, o conflito Israel X Hamas, injustiças destiladas por governos mundo afora… Enfim, não tem sido fácil ser um humano funcional e bem informado. 

E isso tem, sim, um efeito na nossa saúde mental. “A exposição a notícias, especialmente aquelas de natureza negativa, pode causar estresse, ansiedade e um sentimento de desamparo”, explica Danilo Suassuna, doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Difícil não se identificar, né?

 

Um estudo desenvolvido em 2021 por profissionais da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, concluiu que uma exposição contínua a notícias sobre um evento traumático (como um tiroteio em massa em uma escola ou uma guerra) pode gerar sintomas muito semelhantes aos do estresse pós-traumático.

O estudo se concentrou, principalmente, nos meios tradicionais, como a televisão, porém provou que a combinação do consumo dessas mídias com as redes sociais aumenta a probabilidade do quadro. 

Ou seja, se considerarmos o nosso consumo quase constante de conteúdo, dá para entender porque o mundo anda parecendo mais cinza do que de costume. E, claro, longe de nós compararmos o impacto de acompanhar notícias sobre um evento traumático a vivê-lo de fato – só quem enfrentou a onda de calor absurda no primeiro show de Taylor Swift, no final de novembro, no Rio de Janeiro, sabe falar com propriedade sobre a experiência. 

Mas, ainda assim, o contato constante com notícias ruins – ou, pelo menos, preocupantes – pode interferir no nosso bem-estar e ter um efeito grande na nossa saúde mental. Afinal, os gatilhos para crises de ansiedade, por exemplo, dificilmente são lógicos para a gente, certo? 

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Como lidar com o (aparente) colapso da humanidade? 

Entra aí a pergunta de um milhão de reais. Como se manter são e saudável diante de um cenário global preocupante? A resposta, infelizmente, não é simples, mas começa com um passo essencial: estabelecendo limites. Vamos entender melhor o que isso significa a seguir. 

1. Perceba como essas notícias afetam você

Para saber como lidar com algo é importante, primeiro, entender o que esse “algo” está causando em você. Comece a notar como você se sente depois de passar algum tempo nas redes sociais, vendo notícias ou relatos de pessoas que viveram experiências traumáticas recentemente. 

A população brasileira é uma das mais ansiosas do mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, e nos acostumamos tanto com a sensação de ansiedade e medo que pode ser difícil perceber que já estamos ansiosos e emocionalmente abalados antes mesmo de abrir o aplicativo do TikTok no celular. 

Ou seja, tire um momento para perceber como você está se sentindo e os sinais que o seu corpo está dando – coração acelerado, por exemplo, é um claro sinal de ansiedade ou estresse. E mais, tente dar um nome ao sentimento, essa é uma forma de compreender o que está acontecendo naquele momento. 

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2. Reveja a sua relação com as redes 

Se você perceber que, mais de uma vez, se sente ansioso ou desestabilizado depois de um tempo no celular, é hora de dar um passo para trás. As redes não são, por si só, as vilãs da nossa saúde mental – como seres conscientes, temos o poder de mudar a maneira como nos relacionamos com essas ferramentas e de escolher o que consumir ali. 

Quer você precise de um detox digital completo, de algumas horas longe ou fazer uma limpa no seu feed e priorizar veículos de confiança e contas que te façam sentir bem, o ideal é colocar um pouco mais de consciência na maneira como você interage com esses meios. No mais, vale a pena também evitar contato com notícias antes de dormir – isso pode gerar um pico de estresse e interferir com o seu sono. 

“Não se trata apenas de buscar notícias positivas, mas de escolher informações que nos permitam uma compreensão abrangente do mundo, mesmo que desafiadora ou desconfortável. Este processo consciente de seleção e consumo de informações nos capacita a entender melhor os eventos globais sem sermos sobrecarregados por eles”, diz Danilo. 

3. Engage com consciência

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Se você quer se manter informado, é possível fazê-lo evitando gatilhos como imagens muito gráficas ou perturbadoras (pense em imagens de guerra, por exemplo). Extensões do Chrome como o Blurry podem embaçar imagens potencialmente incômodas quando você faz pesquisas sobre determinada notícia na internet, e outras extensões, como o Smart Mute, mutam vídeos automaticamente, tornando-os menos estimulantes, caso você ainda escolha ver as imagens. 

“Enfatizamos a importância do poder de escolha e da responsabilidade individual nas reações às notícias. Na minha visão, as pessoas são livres para escolher e essas escolhas definem sua essência. Aplicado ao contexto atual, isso sugere que, ao invés de sermos consumidores passivos de notícias, podemos exercer nossa liberdade para selecionar conscientemente o que consumimos”, complementa Danilo.

4. Concentre-se no básico

Quando a gente fala em autocuidado, não é preciso muito para fazer com que você se sinta melhor. Você pode se concentrar nas perguntas abaixo, por exemplo: 

  • Eu tomei água hoje? 
  • Eu comi direito em, pelo menos, uma das minhas refeições? 
  • Eu dormi bem? 
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A partir disso, você consegue ter uma ideia quais necessidades o seu corpo físico está apresentando e pensar a solução mais simples de atendê-las. Se você não bebeu água, tome um copo. Se não comeu direito, que tal tirar um tempo para comer um prato completo? Se não dormiu bem, veja se há a possibilidade de tirar um cochilo durante a tarde ou dormir um pouco mais cedo. 

Prestar atenção na sua respiração e até no nível de tensão do corpo (quem nunca percebeu que estava com os ombros super tensos durante o dia?) também pode ajudar. 

5. Encontre a sua galera

Nada melhor do que conversar com os seus amigos nos momentos de necessidade. Busque pessoas próximas para conversar sobre o que você tem sentido, desabafar ou só se distrair e se divertir mesmo – tá tudo bem relaxar mesmo quando o mundo parece todo de cabeça para baixo. 

Contar com os seus amigos e ter por perto pessoas que se importam com as mesmas coisas que você oferece conforto – e, às vezes, tudo o que a gente precisa para se sentir melhor é ter alguém que vai ouvir quando a gente precisa desabafar. Falando nisso… 

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6. Busque ajuda, se achar necessário 

“Quando as notícias impactam severamente a saúde mental e o bem-estar, é crucial buscar apoio profissional. A psicologia oferece uma gama de abordagens terapêuticas adequadas a diferentes necessidades individuais”, continua o também professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

“O importante é reconhecer quando a exposição a determinadas notícias está afetando negativamente a saúde mental e procurar ajuda. Escolher conscientemente se desconectar periodicamente e engajar-se em atividades que promovam o relaxamento e o bem-estar também é parte crucial deste processo.”

E vale o lembrete: existem centros espalhados pelas grandes capitais que oferecem atendimento psicológico gratuito (inclusive online). Se houver abertura, converse com os seus pais sobre o assunto também e explique que você tem sentido a necessidade de conversar com um profissional. A gente garante que vale a pena.  

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Nossa geração é a mais sobrecarregada com o (aparente) colapso do planeta
Não tem sido fácil ser cidadão do mundo.

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