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Não dá para debater crise climática sem recorte de gênero, raça e classe

A COP 28 deixou claro, mais uma vez, a necessidade de falar sobre injustiça climática e taxação de quem realmente mais polui o planeta

Por Girl Up Brasil 13 dez 2023, 20h08

Por Jahzara Oná, ativista climática e analista de sustentabilidade da Ambipar

Nos últimos 13 dias estive em Dubai, nos Emirados Árabes, para acompanhar a 28ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP 28. Por meio de reuniões, painéis de negociação e rodas de conversa, foi possível olhar para a crise climática de diversas perspectivas e escutar os diferentes envolvidos nesse problemão – desde lideranças globais até a sociedade civil.

Acompanhando as várias reuniões, uma distinção de público me chamou a diferença. Enquanto as salas que discutiam temas como transição energética justa eram preenchidas tanto por homens como mulheres interessados em debater as questões propostas, a sala de reunião sobre gênero quase não teve a presença masculina. E detalhe: os homens representavam a grande maioria do público do evento, como é típico em espaços de conferências internacionais como a COP. Mas, não, eles não estavam ali para ouvir ou falar de um assunto tão importante e que não pode ser ignorado.

Precisamos falar sobre injustiça climática

Segundo a ONU, 80% dos deslocamentos por desastres e mudanças climáticas são feitos por mulheres. Não fazer esse recorte de gênero, assim como não levar em conta a classe social, raça e etnia, para falar sobre meio ambiente e clima é uma falácia. É fato: populações historicamente marginalizadas são as que mais sofrem com enchentes, deslizamentos e todo tipo de desastre relacionado a eventos climáticos extremos. Outro fato é que essas pessoas mais afetadas são as que menos contribuem para o aquecimento global. Injusto, não?

Um relatório recente da OXFAM, entidade internacional de combate à pobreza e injustiça, mostra que 1% da parcela mais rica da população mundial é responsável pela mesma poluição por carbono que os dois terços mais pobres da humanidade. 

Outro dado alarmante da organização mostrou que 125 bilionários emitiram, em média, 3 milhões de toneladas de CO2 por ano, por conta de seus investimentos. Esse volume é um milhão de vezes maior do que a média de alguém que se encontra dentre os 90% mais pobres da humanidade.

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Discutir injustiça climática é compreender a necessidade de sobretaxar aqueles que mais poluem. E também não dá mais para deixar de ouvir as pessoas diretamente impactadas pelos desastres ambientais. O que vi na COP28 é um retrato do mundo em que vivemos, onde as desigualdades continuam sendo tópico fora do debate e questões de gênero parecem só importar para mulheres.

Assim como o proposta da COP era reunir todo o planeta para tratar de um tema que vai afetar a todos, precisamos começar essas mudanças por aqui também. Nosso desafio é construir um mundo mais justo, onde pensemos menos em nossos interesses individuais e mais nas necessidades coletivas.

Talvez esteja na hora de começarmos a valorizar o trabalho territorial e coletivo, para que a incidência dessas conferências internacionais cheguem na base. E sem o enfrentamento às desigualdades e mais mulheres liderando a ação climática isso é impossível.

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