Columbine: primeiro massacre em escola a chocar o mundo ocorreu há 24 anos
Massacre de Columbine é um dos primeiros e mais sangrentos tiroteios em massa da história. Ainda hoje assassinos têm legião de fãs pelo mundo
Era 20 de abril de 1999, na cidade de Littleton, no estado de Colorado, nos Estados Unidos. Dois estudantes invadiram a Columbine High School e começaram aquele que foi um dos primeiros massacres em escola a chocar o mundo.
Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, cursavam o 3º ano do ensino médio e por isso não tiveram grandes dificuldades para entrar no colégio. Eles eram alunos medianos, ou seja, não tiravam as melhores notas da sala mas também não ficavam de recuperação. Eram bons alunos, mas sem grandes amigos.
Após muitas investigações, a polícia concluiu que o crime foi estimulado pelo desejo de vingança. Tanto Eric quanto Dylan não eram considerados populares e sofriam bullying. Ambos arquitetaram o crime juntos e, naquele 20 de abril, às 11h14, entraram na escola com bombas caseiras e armas de fogo. Tinha início o que ficou conhecido mais tarde como o Massacre de Columbine.
A ideia dos jovens eram explodir algumas bombas na cafeteria e atirar nos alunos e funcionários que saíssem correndo, mas o plano foi por água abaixo quando os dispositivos falharam. Eric e Dylan, então, voltaram para a cafeteria onde tinham plantado as bombas e, no caminho até o local, começaram a atirar aleatoriamente nas pessoas que viam pelo caminho.
“VOCÊS VÃO TODOS MORRER AQUI”
Eric, que estava sempre na liderança das ações, chegou à biblioteca junto com Dylan às 11h29. O cômodo foi palco da mais sangrenta ação dos atiradores: 10 mortes. Mas não foi simplesmente os muitos e muitos tiros disparados contra as vítimas que chamaram a atenção. Os americanos protagonizaram uma guerra psicológica com os que estavam no local, ameaçando, assustando, perseguindo e brincando literalmente com a vida das pessoas. A ação, que foi transmitida em tempo real em muitos canais de TV, inspirou uma das mais famosas cenas da primeira temporada de American Horror Story, em que Tate Langdon (Evan Peters) prende alguns colegas de escola na biblioteca e atira em todos eles.
A frieza dos assassinos era de espantar. Depois de matarem os que estavam presentes na biblioteca – e terem liberado apenas um aluno do qual gostavam, segundo especulações -, a dupla retornou para a cafeteria, onde tomou água, descansou e conversou tranquilamente antes de voltar à ativa.
Às 12h08, a polícia finalmente chegou ao local e cercou a escola. Acuados, Eric Harris e Dylan Klebold se suicidaram com um tiro na boca. Apenas quatro horas depois o colégio foi decretado novamente como um ambiente seguro… Mas para quem? Ainda hoje, muitos sobreviventes lutam diariamente para se livrar dos fantasmas do passado.
O PIONEIRO E MAIS SANGRENTO DOS MASSACRES
No total, foram 13 mortes, incluindo a dos atiradores, dos alunos e de um professor. O massacre foi o primeiro a ser transmitido em tempo real em muitos canais de televisão norte-americanos, iniciando uma prática que depois se tornaria bastante comum e polêmica: a influência da mídia em casos do tipo.
O mais assustador nessa história toda, se é que podemos classificar os fatos dessa maneira, é que os assassinos de Columbine se transformaram em uma espécie de herói para muitos estudantes mundo afora, principalmente para aqueles que sofrem bullying e são marginalizados pelos colegas como eram Eric e Dylan. Não é difícil encontrar na internet pessoas ostentando por aí suas tatuagens em homenagem ao massacre e a seus idealizadores. Eric e Dylan inspiraram, inclusive, tatuagens de amizade. Até hoje, muitas garotas não têm vergonha de esconder o amor que sentem pelos assassinos, que faziam parte de uma máfia conhecida como Máfia da Capa Preta, formada por alunos da Columbine High School que não gostavam de negros, hispanos e atletas, e se baseavam nos preceitos do nazismo para viver e bolar planos de destruição em massa.
Em 2006, um adolescente de 19 anos chamado Alvaro Rafael Castillo invadiu uma escola na cidade de Hillborough, na Carolina do Norte, e atirou em estudantes e no próprio pai. Segundo as autoridades locais, o jovem queria repetir o Massacre de Columbine. No dia 13 de março de 2019, dessa vez no Brasil, Guilherme Taucci Monteiro e Luiz Henrique de Castro invadiram a escola em que estudaram, mataram 10 pessoas e deixaram 11 feridos. De novo, o Massacre de Columbine foi usado como inspiração para o Massacre de Suzano.
Recentemente, uma adolescente chamada Sol Pais, de 18 anos, foi encontrada morta em Denver, cidade próxima à Columbine. A adolescente era fissurada pelo massacre e pela história de Eric e Dylan. Numa espécie de comemoração de aniversário, a americana teria se dado de presente uma viagem para “onde tudo aconteceu”. Sol, contudo, não chegou lá. Após comprar arma de fogo e munição, Pais foi encontrada morta aos pés do Monte Evans, uma famosa montanha do Colorado.
NÃO SÓ UMA OBRA DE FICÇÃO
Se você assistiu à primeira temporada de American Horror Story, talvez tenha ficado preocupada em determinado momento da trama ao perceber que talvez estivesse sentindo amor por Tate Langdon – não apenas por Evan Peters. Os roteiristas fizeram isso de propósito. A ideia era mostrar que talvez essas pessoas que cultuem uma espécie de fanatismo por Eric Harris e Dylan Klebold não sejam aberrações. Afinal, você estava sentindo o mesmo pelo psicopata da trama. “Ele não era assim tão ruim”, “ele tinha seus motivos”, “ele estava perturbado”… O que leva algumas pessoas a romantizarem assassinos? Por que eles, em sua maioria, são homens? O que leva algumas pessoas, mesmo 20 anos depois do crime, ainda cultuarem o Massacre de Columbine? Identificação com a história de bullying dos assassinos? Uma fissura para entender entender a cabeça do ser humano? Um amor doentio? Um desejo de vingança?
Se quiser saber mais sobre o assunto, pode assistir ao documentário Tiros em Columbine, de 2002, dirigido por Michael Moore, que, na época em que foi lançado, ganhou o Oscar de Melhor Documentário de Longa-Metragem: