á um ano eu fui parar no Egito, na minha primeira viagem internacional para acompanhar também, pela primeira vez, a maior conferência sobre mudanças climáticas do mundo, a COP27 (aliás, naquela época também escrevi para a CAPRICHO pela primeira vez sobre o tema).
E você aí do outro lado da tela talvez se pergunte: o que uma garota de 18 anos estava fazendo lá? Já tem um tempo que eu sou uma jovem ativista pelo clima e, bem, encontrei a oportunidade de representar a minha comunidade que, sim, sofre com problemas socioambientais e é vulnerável à crise climática que só se agrava. Fui pra lá com um sonho, o de ajudar a adiar o fim do mundo.
Tudo isso para dizer pra vocês que agora, em 2023, estou pela segunda vez acompanhando a Conferência do Clima da ONU, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes e a convite da CAPRICHO + Girl Up vou contar o que anda acontecendo por lá. Desde o dia 30 de novembro, representantes de todos os países – ou quase todos, já que Estados Unidos e China, desta vez, não estarão presentes – discutem o que é possível ainda fazer para sairmos do lugar em que estamos, quase um “ponto de não retorno” sobre a temperatura do planeta e eventos climáticos extremos.
COP27, juventude, perdas e danos
Em um dos primeiros dias, andando pelos corredores da ONU, esbarrei em um negociador brasileiro que vai para a conferência desde antes de eu nascer. Segundo ele, é preciso reconhecer a vulnerabilidade para se adaptar à ela e que, no Brasil, a crise climática não é tratada com a devida importância.
Pois é. Em dois anos, nós teremos a conferência sediada aqui no Brasil, em território amazônico que, por sinal, é um território que está sofrendo com a seca, escassez de alimentos, recursos naturais e assiste também ao sofrimento da fauna e flora; populações que têm uma vida a partir desse recurso (que é mais que um recurso, é vida) têm direitos humanos feridos. Isso também é crise climática, é racismo ambiental.
“Se as pessoas entenderem na base da experiência e da convivência a importância da natureza, da amaAmazônia, quem sabe não resolvemos alguma coisa?”, me disse o negociador, ao conversarmos sobre todos esses problemas e a vinda da conferência ao nosso país.
Logo na minha vez de ser jovem é preciso testemunhar a destruição do planeta?
Enquanto no Norte existe seca, no sul existe enchente. Isso tudo são os efeitos da crise climática no cotidiano das pessoas. E é preciso dizer: são situações que só vão se agravar se não agirmos. Uma das funções da juventude, que é pouco ouvida mesmo na COP, é cobrar que negociações saiam do papel, além de denunciar nossas vivências. Logo na minha vez de ser jovem é preciso testemunhar a destruição do planeta?
Um ano se passou daquela primeira viagem e os efeitos da crise climática se tornam cada vez mais aparentes no nosso cotidiano (vocês viram o que aconteceu por aqui durante os shows de Taylor Swift, né?); se os líderes não fizerem nada, o planeta vai continuar pegando fogo.
Ano passado, na COP27, depois de negociações tensas, foi criado um fundo para ajudar os países mais afetados por mudanças climáticas, cm intenção de implementar uma política de redução de danos. Ali também pela 1ª vez, o acordo entre as partes faz menção às crianças, assim como meninas e jovens. Mas ainda não vemos isso na prática. O que nos resta é usar a nossa voz, já que ainda não temos um lugar à mesa.
+Veja aqui o que foi decidido no acordo – tenso – final entre os países na COP27, realizada em 2022.