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Debate sobre o clima ainda é muito superficial e elitizado no Brasil

Oito em cada dez jovens entre 15 e 29 anos concordam que os problemas ambientais afetam sua qualidade de vida, mas...

Por Juliana Morales 10 abr 2023, 06h00
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ocê já parou para pensar sobre como as mudanças climáticas impactam o nosso dia a dia?  Oito em cada dez jovens entre 15 e 29 anos concordam que os problemas ambientais afetam sua qualidade de vida e que estamos vivendo uma crise climática. Mas o problema é que o debate sobre o tema ainda está distante dos múltiplos contextos em que vivemos, especialmente das periferias e favelas.

Tudo isso está na pesquisa Juventudes, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (JUMA), realizada por diversas instituições sociais comandadas por jovens – isso mesmo, a nossa própria galera – de várias regiões aqui do Brasil. Nós da CAPRICHO fomos ao evento de divulgação do estudo para conferir tudo de pertinho e te contamos os resultados da pesquisa e como ela pode ajudar a gente a moldar as nossas percepções sobre como precisamos cuidar melhor do meio-ambiente.

No total, 5.150 pessoas foram entrevistadas e, 72% associam o termo “mudanças climáticas”, principalmente, ao aumento da temperatura da Terra. Já 54% relacionam ao derretimento de geleiras e 30% ao aumento do nível do mar. De acordo com os entrevistados, essa visão se dá pela educação ambiental que receberam na escola.

Quer um exemplo? Quando você aprendeu sobre aquecimento global, provavelmente, deve ter se deparado nos livros didáticos com a imagem clássica de um urso polar no meio de geleiras derretendo. Esse é um aspecto real e que deve ser discutido, sim. Porém, ele não reflete a realidade brasileira com toda a sua complexidade e diversidade. É preciso ampliar o debate e direcioná-lo de acordo as características ambientais (e sociais) daqui. 

A paraense Waleska Queiroz, hoje engenheira sanitarista e ambiental pela Universidade Federal do Pará (UFPA), conta que durante a escola e até depois de ingressar no ensino superior a conversa sobre meio ambiente continuou muito na superficialidade. Isso só começou a mudar quando ela começou a participar de espaços de debate com organizações civis.

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“Para que eu começasse a dar nome a tudo que me atravessava, como o racismo ambiental, eu precisei ter acesso mais profundo a informação”, disse durante o evento de lançamento da JUMA, realizado no dia 4 de abril.

“A juventude tem papel crucial para que esse debate seja realmente democratizado, levando em consideração recortes necessários, como de gênero e raça. Afinal, antes de falar em justiça climática, precisamos falar de justiça social.”

Ela, que hoje é integrante do GT de Juventudes do Projeto “Uma ‘concertação’ pela Amazônia”, uma das parceiras na realização da pesquisa, destaca que os coletivos de grupos de juventude têm se movimentado nos seus territórios e “feito um trabalho que os governantes deveriam estar fazendo também”. Porque, segundo ela, a construção de políticas públicas para o meio ambiente não é de acordo com a realidade da maioria da população brasileira.

Mas CAPRICHO, como ampliar o debate ambiental?

A pesquisa JUMA concluiu que o debate sobre questões ambientais ainda é muito superficial e, quando ocorre o aprofundamento da discussão, isso se dá em ambientes muito elitizados, distantes da população, que poderia se interessar pelo assunto se tivesse mais acesso.

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As pessoas negras, por exemplo, são as que menos acham que os amigos se importam com o meio ambiente. Para elas, os temas ambientais mais importantes são o consumo consciente e a segurança alimentar. 43% dos negros entrevistados afirmaram que têm observado acontecer maior migração de pessoas nos últimos dez anos, por conta das mudanças climáticas.

As juventudes negras e de periferias ou favela são aqueles com menor conhecimento de termos específicos do campo, como: crise climática, emissão de carbono, efeito estufa, Acordo de Paris e desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo, sete em cada dez jovens da periferia acreditam que a pauta do meio ambiente tem alguma relação com a região onde moram. 

“Racismo ambiental, para mim, é o caso das pessoas que não têm acesso a trabalho e moradia e são colocadas em situação análoga à escravidão. Para outros povos, são os caso de desabamentos, para outros, o frio extremo, em outras culturas, o calor extremo. Isso muda de acordo com a realidade.” 

Marcelo Rocha, ativista em Negritude, Educação e Mudanças Climáticas e fundador do Instituto AYÍKA, diz que, apesar das deficiências na educação ambiental brasileira, o conhecimento sobre o tema já está acontecendo em vários territórios, por meio da organização dos próprios jovens. Segundo ele, o desafio é conectar esses conhecimentos produzido em diferentes realidades e distribuí-los da melhor forma.

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“Estamos falando em juventudes (no plural mesmo). Não tem como pegar um conhecimento específico e tentar adaptar para todos povos e culturas. Racismo ambiental aqui na Mata Atlântica, por exemplo, é completamente diferente do que no interior do Acre”, explicou no lançamento da JUMA.

Mas o que a nossa galera reivindica então?

As juventudes ouvidas pela pesquisa recomendam o desenvolvimento de políticas que garantam recursos para “adaptação e mitigação das mudanças do clima, especialmente para populações que vivem maiores vulnerabilidades socioeconômicas.

Além disso, eles colocam como necessário a promoção de debates sobre educação climática e ambiental a partir da Base Nacional Comum Curricular, “para garantir que o tema seja incluído em todas as fases do aprendizado e que possa conectar as realidades de cada território com as vivências de estudantes em todo Brasil”.

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