A brasileira Ingrid Silva é há 14 anos bailarina do Dance Theatre Harlem, conceituado grupo de dança de Nova York. Nesta semana, enquanto passeava com sua família em um parque na Filadélfia, ela foi abordada por um norte-americano que ouviu a conversa em português. O papo estava amigável, até que o homem resolveu deduzir que Ingrid trabalhava como faxineira nos EUA simplesmente por ser uma mulher negra do Brasil.
“Eu estava no Rio há duas semanas”, começou o homem. Papo vai, papo vem, ele perguntou se ela morava lá, na Filadélfia. A bailarina contou que não, que morava em Nova York, e então a primeira reação do homem branco foi questionar: “Cleaning?” (“Faxinando?”). Quando ela explicou que era bailarina clássica, percebeu de imediato o espanto dele.
Ele: você mora em Philly
Eu: não, estou aqui a trabalho.
Ele: FaxineiraEu 😳 Faxineira? Questionei
Não sou bailarina clássica.Ele: Wow!! Bailarina?!
Continua após a publicidadeCom vocês racismo estrutural!
Então pq eu sou preta eu não poderia ser: Presidente, CEO, Médica, bailarina?!— Ingrid silva (@ingridsilva) January 17, 2023
“Quando ele falou isso, me pegou de um jeito, tipo assim, choque. Em 14 anos morando em Nova York, nunca conversei com alguém que simplesmente assumisse, por eu ser uma mulher preta, que eu estaria limpando. Ou verbalizasse isso. Nada contra as pessoas que limpam, de jeito nenhum, minha mãe foi empregada doméstica, mas eu nunca imaginei que alguém iniciaria uma conversa dessa forma.” desabafou a profissional em um vídeo para denunciar o ocorrido.
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A bailarina usou seu exemplo para alertar sobre o quanto o racismo estrutural é cruel: “Estes casos de racismo e microagressões têm que acabar. Eu não aguento mais e nenhuma pessoa preta aguenta mais. Chega!”, suplicou.
O LEGADO DE INGRID
Em 2019, a bailarina brasileira viralizou nas redes sociais ao perguntar se as pessoas sabiam que sapatilhas de tons de pele mais escuros custam mais caro e demoram mais para serem entregues, já que precisam ser feitas por encomendas.
A questão financeira faz muitas meninas negras passarem a vida toda pintando suas sapatilhas pensadas para mulheres brancas. Ingrid disse que esse também era o seu caso, mas que, pela primeira vez, não precisaria mais fazer isso, pois tinham lançado no mercado norte-americano sapatilhas de ponta para bailarinas negras. “Finalmente! É uma sensação de dever cumprido, de revolução feita, viva a diversidade no mundo da dança. E que avanço, viu? Demorou mas chegou”, escreveu no Twitter.
A bailarina é tão representativa para a história do balé clássico que um par de suas sapatilhas pintadas virou peça de exposição do Museu Nacional de Arte Africana Smithsonian, nos Estados Unidos. Icônica demais!