stou chegando na reta final de 2023 com um sentimento de vazio. Isso porque eu cultivei a esperança de um Brasil muito mais comprometido em combater as desigualdades, com mais mulheres trans no poder e menos na prostituição, com mais mulheres negras criando projetos de lei e não sendo vitima da violência nas periferias.
O atual governo nos deu esta esperança ao subir a rampa do Palácio do Planalto em janeiro de mãos dadas a representantes de minorias políticas. Ali, tentou transmitir uma mensagem clara: povos indígenas, mulheres negras, pessoas com deficiência e a juventude não seriam esquecidos. Mas não é bem o que temos visto na prática nos últimos meses.
Mulheres em ministérios estratégicos foram alvo das primeiras crises no governo, mais tarde outras foram desligadas de seus cargos em pastas e substituídas por membros do chamado “Centrão” e vimos a corte do STF (Supremo Tribunal Federal) agora com apenas uma mulher.
Eu acredito que precisamos de mais meninas como eu na política. Mais de nós pensando e construindo políticas públicas, que nos protejam nos espaços públicos e privados, que garantam igualdade salarial e paridade de direitos.
Não queremos sentar na cadeira da exceção, mas da regra
Em 2024 teremos eleições municipais e as promessas me preocupam muito, assim como a baixa representação da juventude feminina e de mulheres como um todo.
Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que comanda das eleições no Brasil, registramos um recorde de candidaturas femininas em 2020, na disputa pelas prefeituras e câmaras municipais.
Fazer política a princípio pode parecer algo difícil e dar um certo medo, mas esse pensamento só vem justamente por nós não estarmos ocupando, pensando e fazendo ela.
Mas olha só: isso não garantiu a eleição de mais mulheres. Dados oficiais mostram que apenas para 12,2% das prefeituras foram eleitas mulheres. Na eleição de 2016 esse número foi de 11,57%. Vimos um crescimento, mas que ainda é insuficiente.
É muito importante que as leis assegurem a participação feminina no processo eleitoral e não só isso, mas que elas também ocupem as cadeiras através de vagas afirmativas – as chamadas cotas. Afinal, não é nada fácil transitar em um ambiente hostil e majoritariamente masculino.
Minha busca é pelo afeto
Encontrei inúmeros desafios ao buscar uma maior incidência política para impactar a minha comunidade. Só foi possível transitar nestes espaços sendo uma jovem mulher trans e negra, porque outras mulheres estão fazendo política junto comigo. É nelas que encontro força e apoio para seguir em frente.
Em um país tão diverso como o Brasil, onde as realidades se diferem a cada metro quadrado, mulheres negras, indígenas e transsexuais estão em categorias ainda mais invisibilizadas no cenário político atual. A maneira que encontrei para mudar isso, foi estar mais presente na política, entender como ela funciona e como se manifesta no meu dia a dia, me mobilizando com outras mulheres, estando presente em assembleias e participando de coletivos aliados à causa.
Nada sobre nós sem nós
Quando converso com outras jovens sobre o interesse de seguir uma carreira política a maior preocupação delas é com a sua segurança e de suas famílias, pois mesmo nesses espaços ditos “democráticos” nossos corpos, sexualidade, raça, cultura e religião são diariamente atacados e violentados.
Ouvi-las me faz recordar da minha primeira grande ação como ativista, onde criei com outras meninas uma campanha que pressionava o poder público por mais segurança para nós mulheres no transporte público chamada “Segurança Delas”. Mas sempre que tentamos pressionar, nunca éramos levadas a sério por sermos “novas demais para fazer política”, e quando fazíamos ações presenciais sempre éramos desaprovadas ou xingadas.
Queremos poder olhar para política como uma ferramenta de transformação social, que seja um espaço para toda forma de ser mulher, que nossas individualidades, cultura, costumes sejam preservadas e respeitadas e que possamos fazer uma política com afeto antes de tudo.
Na próxima eleição quero poder ver mulheres sendo protagonistas das suas histórias, fazendo política com afeto, determinação e pluralismo de ideias
O ano de 2022 foi o ano com o maior alistamento eleitoral jovem da história, sendo que quase metade das meninas brasileiras de 16 e 17 anos solicitaram o seu título de eleitor, mostrando uma maior participação e preocupação de meninas com o futuro político do nosso país.
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