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Como driblar a ansiedade e o frio na barriga ao votar pela 1ª vez em 2022

Ansiedade e eleições combinam? Não exatamente, mas é natural que ela surja, principalmente se essa é a 1ª vez que você vai votar

Por Marcela de Mingo, para a Capricho Atualizado em 16 nov 2022, 18h45 - Publicado em 14 set 2022, 13h51
ansiedade e eleições
Mais uma vez munir-se de boas fontes de informações é essencial para minimizar a ansiedade – mas também é importante saber a hora de se afastar, viu? CAPRICHO/Getty Images

Você já parou para pensar que falta menos de um mês para as eleições de 2022? A essa altura do campeonato, talvez você esteja como a gente: com o coração a mil e um frio na barriga que aumenta cada dia que passa. É por isso que, hoje, no CH na Eleição, a gente vai falar sobre uma coisa que talvez você esteja sentindo também, e que tem nome: ansiedade eleitoral. 

Tá, “ansiedade eleitoral” não é um conceito que existe na psicologia, mas a gente sabe que votar é um marco na nossa vida como cidadãs brasileiras, por isso, sentir-se ansiosa e até nervosa com a chegada desse dia tão esperado pode gerar um bocado de sensações. Mas vamos por passos. 

Quando a gente pensa sobre as eleições, fica claro que esse é um evento pontual, certo? São apenas dois dias (no caso de primeiro e segundo turnos) a cada dois anos. É o mesmo para uma prova de vestibular ou para uma apresentação na escola. Nesses casos, podemos dizer que a ansiedade relacionada a essas situações é pontual – pensa numa viagem que você vai fazer, ela também pode deixar você ansiosa e cheia de expectativas, mas, quando acontece, essas sensações passam, não é?

E isso é bem diferente de quando você se sente ansiosa o tempo inteiro e sem um motivo aparente. Não tem uma prova, uma eleição ou uma viagem que justifiquem a sua sensação de ansiedade ou os sintomas relacionados, como o coração que bate muito rápido de repente (a chamada taquicardia), falta de ar ou medo paralisante. 

Podemos olhar para a ansiedade como um problema de saúde pública. Isso porque, segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o Brasil é um dos países mais ansiosos do mundo: em 2019, a organização registrou mais de 18 milhões de brasileiros (ou seja, 10% da população, aproximadamente) convivendo com essa condição. 

E, não, isso não tem nada a ver com as eleições, especificamente, mas sim com a desigualdade social, a violência, as inseguranças política e econômica… enfim, com todo o cenário que vivemos por aqui.

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O medo do desconhecido é o principal fator para desencadear a ansiedade, o fato de não saber o resultado, o medo de ser surpreendido, em especial no momento que vivemos no nosso país

 

“Para se fazer o diagnóstico de uma síndrome ansiosa, é preciso identificar quais os gatilhos ansiosos presentes que causam sofrimento significativo e prejudicam a vida ocupacional e social da pessoa”, explica Regiane Serralheiro, psicóloga e professora do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul. “O diagnóstico precisa ser feito por um psicólogo ou psiquiatra, e a psicoterapia é a indicação para o tratamento, que pode ser associado a medicações.”

Se você tem dúvidas sobre a ansiedade que você sente ser ou não patológica, vale começar a prestar atenção em alguns sintomas. Por exemplo: 

Dificilmente você vai sentir todos esses sintomas de uma só vez, mas, principalmente nas crises ansiosas, é natural que alguns deles se sobreponham aos demais, como a dificuldade de respirar, os tremores e a sensação de enjaulamento, como se você estivesse presa (o que é bastante comum em situações de aglomeração, por exemplo). 

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E ter em mente esses sintomas e observar as reações do seu corpo, principalmente ao longo do tempo, é importante porque, sim, é possível diferenciar a ansiedade crônica da pontual. 

“A ansiedade crônica independe de qualquer circunstância, ela se manifesta a todo momento, independente do indivíduo estar ou não passando por um momento difícil, diferente da ansiedade pontual que é uma resposta do organismo a uma situação de estresse”, complementa a também psicóloga Sirlene Ferreira

O frio na barriga que só cresce

Tá, mas mesmo sabendo de tudo isso, o frio na barriga com as eleições segue crescendo, e só de se imaginar entrando na cabine de votação bate aquela ansiedade doida. Antes de mais nada, respira fundo, você não está sozinha nessa 

“A ansiedade é sempre um sintoma que representa alguma dificuldade ou conflito e, neste caso, é importante identificar o gatilho, ou seja, o que desencadeou tal crise, pois é uma resposta do organismo frente a situações novas, de desafios ou estressantes”, explica Regiane. “Sentir-se seguro, retomar a respiração de forma lenta costumam ajudar. Geralmente, a crise dura pouco tempo, apesar de parecer intensa e assustadora. Após a diminuição dos sintomas, vale observar quais fatores a desencadearam, bem como os tipos de pensamentos catastróficos que predominaram. Buscar ajuda na terapia é um bom caminho.”

Nisso, conversar com amigas próximas e até com os seus pais também pode ser uma boa ideia – isso porque munir-se de informações sobre como o processo de eleição funciona, o que você precisa fazer e como agir no dia das eleições podem ajudar a minimizar a sensação, assim como contar com a sua rede de apoio. É importante também entender o contexto que estamos vivendo. 

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“O medo do desconhecido é o principal fator para desencadear a ansiedade, o fato de não saber o resultado, o medo de ser surpreendido, em especial no momento que vivemos no nosso país, onde a violência está atrelada às eleições, e as ameaças são cotidianas, corrobora ainda mais para uma crise de ansiedade”, diz Sirlene. 

Regiane complementa explicando que todo evento novo ou que está além do nosso controle pode desencadear crises de ansiedade. As eleições de 2022 tem se mostrado diferentes, porque o que vemos nos noticiários e nas redes sociais é uma falta de tolerância com opiniões diferentes, a presença das fake news, que seguem vivíssimas, e até situações que não condizem com a democracia

“Algumas pessoas têm demonstrado medo e preocupação frente ao futuro e medo de violência. Situações como essa comprometem o diálogo e impedem a convivência coletiva e a liberdade de expressão, tão fundamentais numa democracia”, continua. “As instituições políticas em pleno funcionamento e como elemento organizador da sociedade são importantes para garantir a segurança do exercício político. É importante que as pessoas se sintam representadas no debate político e que sejam incluídas todas as pessoas, principalmente os mais vulneráveis.”

Traduzindo: a ansiedade não é sem motivo, mas, de novo, é importante entender se ela é pontual e conectada apenas ao momento eleitoral que estamos vivendo (portanto, passageira) ou se é uma condição crônica. Independentemente do caso, é sempre válido procurar ajuda profissional se você estiver com dificuldade de entender os seus sentimentos, ok? 

Mas e agora, CAPRICHO, como resolver?

“É um grande desafio, mas com as garantias da democracia e o pleno exercício político, no melhor sentido da palavra, que garante os direitos e deveres dos cidadãos, são um bom caminho”, aconselha Regiane. “O diálogo também deve ser valorizado e respeitado, mas sabemos que é um pouco mais complicado, pois muitas vezes as insatisfações estão projetadas no adversário que não pode ter opinião diferente, o que o torna um ‘inimigo’ e, por isso, o desejo em ‘destruí-lo’. Não é apenas uma questão do indivíduo, mas do momento social que estamos vivendo.”

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Dessa forma, mais uma vez munir-se de boas fontes de informações é essencial para minimizar a ansiedade – mas também é importante saber a hora de se afastar das notícias e dos debates online para poupar a sua saúde mental. A gente sabe que a internet é maravilhosa, mas é também um ambiente bastante tóxico, quando o assunto é discussão política. 

Conversar com as suas pessoas próximas também é um caminho interessante para minimizar essa sensação, assim como separar momentos da sua semana para fazer coisas que você gosta. Ir ao cinema, a uma festa, fazer exercícios físicos, passar a tarde com as suas amigas, assistir uma série conforto… tudo isso é importante para que você tenha espaço para respirar e cuidar de si.  

E, claro, vamos bater bastante na tecla da busca por ajuda profissional. Afinal, ela é essencial tanto para o correto diagnóstico da ansiedade, quanto para o seu tratamento. 

“A ansiedade é tratada com uma equipe multidisciplinar, dentre eles, psicóloga e psiquiatra, com psicoterapia e, em alguns casos, com medicação”, diz Sirlene. “Também é possível melhorar os sintomas da ansiedade com a prática de esportes, meditação, lazer, socialização e tudo aquilo que possa proporcionar prazer. Lembrando que a ansiedade não tem nada a ver com frescura e nem com incapacidade, é um transtorno e merece, como tal, ser tratado por profissionais.”

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