Esta semana não começou nada fácil para a nossa galera, em especial, a que ainda está cursando o ensino fundamental e médio e, também, para a educação brasileira de modo geral. Você deve ter visto a notícia de que, na última segunda-feira (27), um jovem de 13 anos matou um professora e feriu mais cinco pessoas com uma faca em uma escola estadual de São Paulo.
E que, no dia seguinte, um adolescente de 15 anos foi detido após tentar esfaquear colegas de sala em um colégio no Rio de Janeiro. Esse tipo de violência, infelizmente, não é inédita nem tão pouco isolada por aqui. Desde o início dos anos 2000 já haviam ocorrido 16 ataques em escolas brasileiras, dos quais 4 aconteceram no segundo semestre do ano passado.
Então, mesmo você que ainda é bem jovem, deve ter acompanhado mais de um desses episódios e compartilhado o medo, o susto e a insegurança com amigos e amigas, né? Você já percebeu que é muito comum, durante a repercussão desses casos, o debate da violência nas escolas ficar resumido à falta de segurança? E, sim, esse é um problema real e que deve ser levantado – mas a discussão é muito mais profunda que essa – e vamos te explicar direitinho. Vem com a gente.
As causas dos ataques nas escolas
O caso é tão sério – e muito além da falta de segurança falada por aí – que o relatório da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE), publicado em dezembro de 2022, apontou que casos de ataques nas escolas praticados por alunos e ex–alunos, em geral, são normalmente associados ao bullying e situações prolongadas de exposição a processos violentos, incluindo negligências familiares, autoritarismo parental e conteúdo disseminado em redes sociais e aplicativos de mensagem.
O fator psicológico, portanto, também precisa ser um ponto forte de atenção. Diante do ataque de segunda-feira, na Escola Estadual Thomazia Montoro, por exemplo, o Ministério Público de São Paulo, após ouvir o jovem de 13 anos, solicitou uma internação provisória e que ele passe por uma avaliação psiquiátrica urgentemente. De novo, ela, a nossa saúde mental.
O outro aspecto importante no debate é que os autores desses crimes, além de serem indivíduos que precisam lidar com emoções que estão borbulhando nessa etapa da vida – você, leitora de CAPRICHO, certamente sabe o tanto de coisa que passa pelo nosso coração e mente na adolescência, né? -, eles são cidadãos que, inevitavelmente, refletem problemas estruturais da nossa sociedade. Ou seja, são aqueles problemas que a gente não resolve de verdade e só coloca um curativo.
Quando discurso de ódio tem lugar na sala de aula
Cezar Bueno de Lima, sociólogo, especialista em Direitos Humanos e Políticas Públicas, e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), explicou para a CAPRICHO que a polarização ideológica, que se radicalizou nos últimos anos, também entrou nas nossas escolas.
“A escola é a última fronteira para essa repetição da violência. Justamente por ser um espaço de educação, socialização e aceitação das diferenças, tão importantes para uma sociedade plural democrática”, disse o especialista.
Aqui vale uma explicação sobre o fenômeno da polarização citada pelo professor. Vivemos em uma democracia, onde as pessoas têm todo o direito de discordar uma das outras e é normal grupos de opiniões diferentes se formarem. O problema é quando os grupos se fecham em suas convicções e não estão dispostos ao diálogo. Isso incentiva que discursos radicais, cheios de ódio, ganhem espaço na cabeça dos indivíduos, principalmente quando o filtro são as redes sociais.
É o que vem acontecendo no Brasil nos últimos anos. Observa-se o aumento de ideias e comportamentos fascistas, de extrema direita entre a população, de uma cultura de ódio, culto a armas, xenofobia e intolerância. E os jovens, em especial, são expostos com frequências a esse discursos na internet – sobretudo, adolescentes brancos, do sexo masculino, e heterossexuais. O que explica o fato de garotas e mulheres serem alvos frequentes dos criminosos.
O relatório da CNDE, já citado anteriormente, destaca como ponto de atenção no comportamento dos jovens, que podem ser observados pela família, amigos, professores e escola:
– O interesse incomum por assuntos violentos (tais como obsessão por armas de fogo ou massacres);
– Atitudes violentas (verbais ou físicas);
– Recusa de falar com professoras e gestoras mulheres;
– Agressividade e uso de expressões pejorativas ao falar com mulheres e meninas, capacitismo, racismo, LGBTQIA+ fobia;
– Exaltação a ataques em ambientes educacionais ou religiosos.
Para lidar com o problema, o documento destaca como medida: o desarmamento da sociedade, a promoção de políticas de saúde mental e resposta firme aos discursos radicais. E isso é um problema de todos nós, viu?
Por isso, é importante que você, jovem, ajude a disseminar esse debate sobre a violência nas escolas de uma maneira mais ampla e social. Converse com amigos, professores e familiares. Não podemos deixar que casos como desta semana caiam no esquecimento ou que se tornem um mal constante, que acaba sendo banalizado, “virando comum”.