gente já te explicou aqui que a COP (Conferência das Partes, ou Conference of the Parties, em inglês) é um evento anual que reúne líderes, tomadores de decisão e sociedade civil de vários países do mundo para debater as mudanças climáticas e deliberar acordos para sua mitigação e adaptação.
Organizada pela ONU (Organização das Nações Unidas), a COP acontece desde 1995 e, neste ano, e é estimada a participação de 200 países e 70 mil pessoas lá em Dubai, nos Emirados Árabes. A delegação brasileira deverá ser a maior da história, somando 2,4 mil inscritos. Essa presença potencializa o protagonismo do Brasil, que é historicamente conhecido por ser um ator relevante nas negociações internacionais sobre clima.
Embora seja um importante espaço de negociação, discussão e aglutinação de entidades e de autoridades oficiais, várias medidas deliberadas na COP não são cumpridas – ou são, mas de forma insuficiente – e falham em ouvir as demandas dos mais afetados pela crise climática: mulheres, jovens, pessoas não-brancas e países do chamado Sul Global.
Um exemplo é o próprio Acordo de Paris, que foi adotado na COP21 e representou um marco para a agenda climática global ao estipular a diminuição gradativa das emissões de gases de efeito estufa (GEE) que agravam o aquecimento global. Hoje, anos depois, o acordo é desrespeitado por diversas nações, principalmente por aquelas que mais poluem o planeta, e não há um sistema de taxação, correção ou cobrança.
Além disso, a COP28 será presidida por Al Jaber, presidente da Abu Dhabi National Oil Company (ADNOC), uma das maiores empresas de petróleo do mundo. Isso representa um conflito de interesses, já que a emissão atual dos combustíveis fósseis é uma das causas das mudanças do clima.
É por isso que ocupar os espaços, amplificar a voz das juventudes do Sul Global e de outras minorias sociais é tão importante. Dessa forma, ao termos nossas demandas acolhidas, respeitadas e consideradas, poderemos fazer da COP um lugar no qual realmente existam mudanças concretas, reais e positivas para quem mais sofre com os eventos climáticos extremos, que temos presenciado à revelia só nas últimas semanas deste ano.
Qual é o histórico da presença das juventudes brasileiras nas COPs?
O chamado advocacy – prática política levada a cabo por indivíduo, organização ou grupo de pressão – das juventudes brasileiras na COP é antigo, e, felizmente, ganha mais força com o aumento da presença da sociedade civil brasileira. Inclusive, a própria palavra advocacy ganhou os holofotes nos últimos anos.
Esse termo não possui tradução literal para a língua portuguesa e, muitas vezes, é explicada, de forma simplificada, como “lobby” – mas no sentido de defesa de uma causa. Isso pode ser feito por meio de ações coordenadas com outras organizações, comunicação, protestos, reuniões com representantes governamentais, palestras, etc. Basicamente, toda ação que busque avançar a agenda pela qual se luta.
Somente quando a voz das juventudes for escutada é que teremos ações que contemplem mais grupos, e não somente a minoria que historicamente toma as decisões.
Uma das organizações brasileiras mais tradicionais que levam as juventudes do Brasil aos espaços internacionais de negociação e tomada de decisão é o Engajamundo, que foi fundado em 2012 justamente após uma Conferência da ONU. Um grupo de jovens participou da Rio+20, realizada no Brasil, e notou a baixa incidência da juventude nesses eventos. Portanto, o Engaja surgiu para transformar essa realidade e inserir os jovens em conferências internacionais sobre o clima. Hoje, há diversas outras organizações com foco em jovens que atuam com incidência internacional, como a Fridays for Future Brasil, Palmares Lab e a própria EmpoderaClima, por exemplo.
A premissa é a mesma: somente quando a voz das juventudes for escutada é que teremos ações que contemplem mais grupos, e não somente a minoria que historicamente toma as decisões. O próprio uso do termo juventudes – no plural mesmo – é mais utilizado hoje, com a intenção de frisar os diversos contextos e vivências do grupo.
Mais meninas e mulheres sendo consideradas e ouvidas = decisões climáticas mais justas
Uma análise da BBC apontou que as mulheres representaram menos de 34% das delegações dos países que estiveram na última COP, a de número 27, em 2022. No mesmo ano, quando os líderes mundiais se reuniram para a fotografia oficial, apenas 10 dos 110 presentes eram mulheres.
Elas ainda são minoria em eventos que podem decidir – e que em muitos aspectos decidem mesmo – os rumos da política climática global, como a citada COP. Isso é um reflexo do que acontece em outras instâncias, de forma estrutural. A presença feminina em cargos de liderança, bem como a consideração das demandas e impactos da crise climática na vida das meninas, não é somente uma questão de justiça social. Afinal, se elas representam 50% da população global, a presença e as políticas deveriam ser equivalentes – mas a realidade mostra que não é.
No Brasil, as mulheres são mais preocupadas com o meio ambiente e tomam atitudes mais sustentáveis, mesmo que possuam menos conhecimento científico sobre o tema
Para muito além da questão numérica, a voz das mulheres e meninas de diferentes contextos e origens se torna cada vez mais necessária porque resulta em decisões climáticas mais justas. Apesar de integrarem grupos que são mais afetados pelas consequências do aumento das temperaturas globais, elas também se mostram naturalmente mais empáticas e preocupadas com o entorno.
Uma pesquisa inédita feita pela EmpoderaClima*, por meio de uma bolsa do Instituto Tecnologia e Sociedade (ITS), mostrou que, no Brasil, as mulheres são mais preocupadas com o meio ambiente e tomam atitudes mais sustentáveis, mesmo que possuam menos conhecimento científico sobre o tema. Os dados foram interpretados pela voluntária da Empodera, Andreza Conceição, por meio de pesquisa encomendada pelo ITS em parceria com o programa de Mudanças Climáticas da Universidade de Yale.
O estudo evidenciou que a percepção de risco e a preocupação com o coletivo são maiores no grupo feminino, o que reforça a importância de tê-las liderando transformações em prol do clima. Quando conectamos isso com a juventude, vemos o potencial que existe em uma legião de jovens mulheres pensando e atuando pelo futuro do planeta.
O que eu posso fazer para me engajar? E faz diferença?
Diante de notícias catastróficas, é fácil nos sentirmos impotentes. “O que eu posso fazer?” ou “será que ainda é possível mudar algo?” são questões pertinentes. Recentemente, vimos a seca extrema na Amazônia, a onda de calor no Rio de Janeiro, enchentes históricas na região Sul e incêndios florestais que encobriram Manaus de fumaça – sempre acompanhadas de quebra de recordes ou situações até então inéditas.
“Bem na minha vez!”, pensamos. E é verdade. Bem na nossa vez. É exaustivo viver durante o maior desafio de nosso tempo – a crise climática.
Mas, se tem algo que o próprio ativismo jovem e climático nos ensina, é que em rede há fortalecimento, acolhimento e otimismo da vontade. Somente no coletivo as decisões adquirem mais peso e se aumenta o poder de incidência eficaz.
Então, sim, qualquer engajamento faz diferença! Seja em comunidades locais ou pressionando a agenda climática com lentes de gênero e de juventudes em espaços de negociações internacionais, como a COP. Em um mundo que é cada vez mais interligado, não podemos esquecer que qualquer ação importa e que a voz da nossa geração tem muita força e deve ser considerada.
Isso é, inclusive, um princípio inegociável que aprendemos com a Natureza: a biodiversidade, que nos mostra o valor das ações interconectadas e diversas.
Estamos de olho e acompanhando tudo o que está se desenrolando na COP28. Fica o convite para você se engajar com a gente e transformar o mundo – para que ninguém fique para trás.
*A EmpoderaClima é uma organização global liderada por jovens, com sede no Brasil, que defende a igualdade de gênero na ação climática por meio de uma perspectiva interseccional.