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A fome no Brasil caminha lado a lado com a desigualdade de gênero e racial

Lares comandados por mulheres negras são os que mais sofrem com a falta de comida. Precisamos falar sobre o racismo estrutural

Por Juliana Morales Atualizado em 28 jun 2023, 15h20 - Publicado em 27 jun 2023, 06h02

Não dá para falar de fome sem pensar em desigualdade de gênero e racial. Prova disso é que a falta de comida atinge o dobro de lares chefiados por pessoas pretas em comparação com as famílias brancas no Brasil, como apontou os dados do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado nesta segunda-feira (26).

A pesquisa, que levou em consideração o período entre novembro de 2021 e abril de 2022, mostrou ainda que os lares chefiados por mulheres negras representam 22% dos que sofrem com o problema, quase o dobro em relação aos liderados por mulheres brancas (13,5%).

Mesmo com o nível de escolaridade maior, a desigualdade ainda é marcante. Nos lares chefiados por pessoas com oito anos ou mais de estudo, a falta de alimentos foi maior quando uma mulher negra estava à frente: 33%. Esse número foi menor no caso de homens negros (21,3%), mulheres brancas (17,8%) e homens brancos (9,8%).

“Precisamos urgentemente reconhecer a interseção entre o racismo e o sexismo na formação estrutural da sociedade brasileira, implementar e qualificar as políticas públicas, tornando-as promotoras da equidade e do acesso amplo, irrestrito e igualitário à alimentação”, defendeu Sandra Chaves, coordenadora da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), em entrevista à Agência Brasil.

Como mostramos aqui na CH, a pesquisa Datafolha divulgada em abril deste ano também já havia destacado que as mulheres são as que mais sofrem com a fome (27%) no país, principalmente na região Nordeste. Um outro estudo da Universidade Federal da Bahia, em 2022, revelou que a maioria dos lares na capital baiana é chefiado por mulheres negras (50,01%). Lares liderados por homens pretos somam 35,4% e os chefiados por homens brancos cai para 6,2%.

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Diante desse cenário, 74,5% das residências que têm um homem branco como provedor de renda garantiu não ter preocupações relacionadas à comida – ou à falta dela.

O que é o racismo estrutural?

Todos esses dados evidenciam o racismo estrutural no Brasil. Mas o que isso significa? No livro Racismo Estrutural (Feminismos Plurais)*, o filósofo, advogado, professor universitário e atual ministro de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, defende que o “racismo é sempre estrutural, ou seja, ele é um elemento que integra a organização econômica e política da sociedade”. Portanto, por conta do preconceito, uma raça ou etnia é privilegiada em detrimento de outra.

Segundo o autor ainda, essa discriminação em relação aos negros ao longo do tempo leva à estratificação social. Em outras palavras, isso quer dizer que as pessoas negras acabam tendo menos chances de ascensão social, de reconhecimento e de sustento material. 

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Para ter uma ideia do problema, a edição de 2022 do Ifer (Índice Folha de Equilíbrio Racial) concluiu que o Brasil ainda deve levar 116 anos para que pretos e pardos tenham acesso às mesmas oportunidades que brancos.

Quer saber mais sobre o tema? Temos uma lista com 14 filmes, séries e documentários para refletir sobre racismo e privilégio. Esse debate é crucial e não tem como negar, né?

 

* As compras feitas através do link desta matéria podem render algum tipo de remuneração para a Editora Abril.

 

 

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A fome no Brasil caminha lado a lado com a desigualdade de gênero e racial
Lares comandados por mulheres negras são os que mais sofrem com a falta de comida. Precisamos falar sobre o racismo estrutural

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