A gordofobia é um dos preconceitos mais presentes em nossa sociedade. O padrão de beleza de corpos magros é reforçado com frequência por um discurso maquiado de preocupação com a saúde, que aparece muito mais focado na forma física do que, de fato, no bem-estar. Na moda, ela fica evidente pela exclusão das pessoas gordas da narrativa e, em níveis ainda mais radicais, pelos ataques e “piadas” que essas pessoas sofrem ao usarem roupas que, quando estão no corpo magro, não são alvo dos mesmos comentários.
A modelo Tess Holliday exemplificou esse preconceito ao relembrar que sofreu várias críticas quando usou um vestido de tule com morangos bordados no Grammy Awards em janeiro deste ano, o mesmo vestido que atualmente se tornou uma das peças mais populares do TikTok, com mais de 13 milhões de visualizações na hashtag #strawberrydress, que faz referência a ele.
“Eu adoro como esse vestido me fez entrar para a lista das ‘mais malvestidas’ quando o usei em janeiro no Grammy, mas, agora, porque um monte de pessoas magras estão apostando nele no TikTok, todo mundo gosta”, escreveu Tess em seu Instagram. “Resumindo: a nossa sociedade odeia pessoas gordas, especialmente quando elas estão fazendo sucesso.”
A peça assinada pela estilista Lirika Matoshi se tornou viral nas redes sociais após fazer parte de um desafio que incentivava os usuários a apostarem em looks da tendência cottagecore, um estilo entre o bucólico e o folk que está bombando na internet.
O questionamento da norte-americana é extremamente importante porque traz à tona o fato de que pessoas gordas não são vistas pela sociedade como lançadoras de tendências. Em geral, esse posto fica restrito à modelos magras e brancas. Uma polêmica recente que aconteceu no Twitter com a foto de duas mulheres gordas reforça essa ideia. No clique, elas aparecem usando camisetas e bermudas em um visual vintage que poderia facilmente estar no guarda-roupa de tops como Bella Hadid e Kendall Jenner, que amam a moda das décadas passadas. Porém, a imagem não viralizou por trazer uma inspiração de estilo, mas por fazer piada com as garotas e suas roupas.
Em entrevista à revista People, Tess revelou que o tapete vermelho no qual usou o vestido foi um dos dias em que se sentiu mais bonita e, por isso, ficou surpresa ao ler os comentários negativos sobre o seu look. “Ver tantas pessoas falando mal da minha roupa foi chocante. [Meses depois] ver o vestido se tornar tão popular porque estava sendo usado por pessoas de corpos magros, eu fiquei: ‘Você deve estar brincando comigo'”, disse.
“Esse é o exemplo perfeito de como as pessoas gordas e plus size são apagadas da moda. Nós nunca somos vistas como tendência, glamourosas ou nada do tipo”, completou. “Por que algo precisa ser usado por uma pessoa magra para que os outros valorizem e ajam como se fosse a primeira vez que estão vendo aquilo?”
Ter referências de pessoas gordas que estão por diferentes indústrias (não apenas na da moda ou da beleza), escutar sobre a vivência dessas pessoas, exigir mais diversidade das empresas e não compactuar com comentários e pensamentos gordofóbicos são algumas ações que podemos tomar para contribuir com o fim desse preconceito.
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