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Quais sentimentos os conteúdos de moda no TikTok despertam em você?

A minha relação com eles é contraditória. Às vezes, me divirto; outras vezes, bate uma "necessidade" de consumo

Por Sofia Duarte Atualizado em 29 jul 2022, 11h08 - Publicado em 28 jul 2022, 12h06

A hashtag #FashionTikTok tem mais de 25 bilhões de views no TikTok, provando que o nicho de moda realmente é um dos mais fortes na plataforma. Existem várias trends que se popularizaram dentro dessa editoria, como os vídeos de arrume-se comigo ou get ready with me, em inglês, que já foram vistos mais de 34 bilhões de vezes pela hashtag #GRWM, os de unboxing (40,9 bilhões de views) e de comprinhas ou fashion haul (1,1 bilhões e 892 milhões de views, respectivamente).

Tá, mas o que isso significa? Trouxe esses números aqui pra gente enxergar, na prática, os efeitos desses conteúdos no mercado da moda. Não é de hoje que as redes sociais têm um papel nisso; há tempos, o Instagram e os chamados “influenciadores digitais” vêm redefinindo conceitos tradicionais, inclusive contribuindo para a disseminação de tendências. Ou seja, não foi agora que as pessoas da internet começaram a influenciar as criações das marcas, em especial as grandes empresas de varejo.

Mas, com o crescimento do TikTok nos últimos anos, percebemos o fenômeno do consumo exagerado diante dos nossos olhos. Parece que, acompanhando a curta duração dos vídeos, as tendências de moda surgem e caem no desuso com muita rapidez, e o feed infinito da plataforma é igualmente proporcional à quantidade de consumo e de novas febres que vão ganhando força.

Blair Waldorf carregando sacolas de compras
Blair Waldorf carregando sacolas de compras GIF/Reprodução

Você já parou para pensar como essa agilidade afeta o seu comportamento? No meu caso, existe uma relação contraditória – e, aqui, vou dividir uma reflexão, não necessariamente com o objetivo de chegar a um diagnóstico exato. Gosto de assistir a muitos desses conteúdos (e, inclusive, faço a minha própria versão de alguns no meu perfil); por outro lado, sinto que eles me afetam de alguma forma, ainda mais por eu trabalhar com moda e vivenciar esse assunto diariamente. Várias vezes, quando vejo muitos vídeos de unboxing ou comprinhas seguidos, de grifes de luxo ou não, fico com a sensação de que preciso comprar mais coisas. Após um momento de consciência, lembro que isso não é verdade. Tento me blindar e escolher seguir mais pessoas preocupadas com informação, que fazem upcycling e praticam o consumo consciente, porém, os conteúdos que viralizam não costumam ser esses, e, aí, eles não vão parar na página for you.

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Gif de garota mexendo no celular enquanto faz uma cara de tédio
Gifer/Reprodução

Isso não é uma crítica a quem consome em redes de fast fashion. Primeiro, porque eu seria hipócrita se fizesse isso, e também porque, devido a fatores sociais, econômicos e até práticos, como os tamanhos das roupas, não faria sentido. Mas é a quantidade de compras e o curto ciclo de vida das roupas que podem ser problemáticos.

Um dos fatores mais atraentes na moda, para mim, são os significados das roupas. Uma peça que herdei do armário da minha mãe ou que adquiri por acaso durante uma viagem, por exemplo, é muito mais especial do que uma que comprei em uma loja qualquer no shopping. Quando estive no Rio de Janeiro, nas minhas últimas férias, em abril, estava andando pelo calçadão de Ipanema e me deparei com uma artista que faz customizações em roupas e as vende em seu brechó online. Foi aí que garanti uma camisa vintage da Dior que tem um desenho feito por ela – e aquilo me deixou superfeliz!

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São essas compras que têm um valor profundo e para além do consumo pelo consumo. No entanto, acontece que, com uma plataforma de comunicação rápida como o TikTok, somos bombardeados por conteúdos de consumismo raso, e essa essência pode acabar se perdendo no dia a dia. E, dependendo de quem está do outro lado da tela, esses vídeos afetam até a autoestima, uma vez que podem causar pensamentos relacionados ao fenômeno do fashion fomo (fear of missing out, em inglês), que significa o medo e a ansiedade de estar ultrapassada na moda, usando peças que não são mais consideradas tendência pela plataforma.

Esse texto não vai ter uma solução prática ou desfecho inspirador. As pessoas que se importam com moda sustentável e responsável e com hábitos de consumo minimamente conscientes, como nós, não são de ferro e serão, muitas vezes, abaladas pela gigante que é a tentação do consumismo. Mas só de abrirmos espaço para esse diálogo, estarmos dispostos a aprender e repensar nossas atitudes e não nos esquecermos das nossas prioridades quando o assunto é moda já é um grande avanço. Vamos juntas! <3

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O próximo texto da coluna O Mundo de Sofia* sai no dia 10 de agosto. Beijos e até lá! <3

*A coluna é escrita por Sofia Duarte, repórter de moda e beleza da CAPRICHO.

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