Por que as roupas femininas costumam ter menos bolsos?
Apesar de algumas mudanças, essa falta de funcionalidade é uma herança da sociedade patriarcal
Você já comprou uma roupa que tinha um bolso falso ou que o bolso era tão raso que não cabia praticamente nada? Apesar de, nos últimos tempos, as marcas estarem colocando bolsos úteis em vestimentas femininas (ou, pelo menos, consideradas femininas), por uma necessidade e pedido dos clientes, nem sempre foi assim – e esse histórico está relacionado à estrutura patriarcal da nossa sociedade.
Segundo o icônico museu Victoria & Albert, de Londres, no século 17 usava-se uma espécie de bolsinha, que ficava escondida dentro da anágua (peça que era colocada por baixo da roupa e, portanto, de difícil acesso) ou, então, eram amarradas por cima das saias. Assim, as mulheres que faziam parte da elite carregavam pertences valiosos que não estariam seguros em outro lugar. Esse acessório foi popular até meados do século 19.
A história já é outra quando se trata de looks masculinos, que tiveram bolsos costurados em seus casacos, jaquetas e calças a partir do período do Renascimento, que ocorreu entre os séculos 15 e 16 na Europa. Durante a Revolução Industrial, em que os homens saíam de casa para trabalhar nas indústrias, houve uma demanda prática de colocar bolsos nas roupas para que eles conseguissem levar suas coisas.
Os visuais femininos, por outro lado, não evoluíram muito em termos de facilidade a partir da Revolução Francesa. As roupas apertadas não tinham espaço para guardar pertences e, aí, surgiram as minibolsas, que viraram sinônimo de status, mas, ao mesmo tempo, por serem pequenas, não demonstravam independência, e assim tinham que ser, pois as mulheres deveriam ficar restritas às tarefas domésticas e depender do marido.
A situação começou a mudar um pouco a partir das Guerras Mundiais, uma vez que as mulheres, para substituir os homens que foram às batalhas, passaram a trabalhar nas fábricas usando roupas utilitárias, como calças e macacões. Nesse sentido, deu-se início também a um incipiente processo de emancipação feminina, que perduraria por muitas décadas seguintes.
Após o término da Segunda Guerra, no entanto, a praticidade não se sustentou e perdeu domínio com a volta da valorização de peças delicadas, tradicionalmente consideradas femininas. A frase “homens têm bolsos para guardar coisas; as mulheres, para decoração“, dita em 1954, é atribuída ao estilista Christian Dior e sintetiza bem o pensamento machista da época. As roupas femininas eram vistas como símbolo de beleza, feitas para valorizar a silhueta corporal, e não para serem funcionais no dia a dia.
Deu para perceber que a ausência de bolsos em roupas femininas não é por acaso; pelo contrário, tem uma história complexa por trás e não pode ser justificada somente pela popularização das bolsas, né? Acontece que os resquícios desse pensamento ainda perduram nos dias atuais, embora designers e marcas incríveis, em especial as lideradas por mulheres, estejam atentas às necessidades das clientes que valorizam um bolso decente – que, no mínimo, sirva para alguma coisa e não fique apenas de enfeite. Além disso, algumas tendências também nos ajudam a trazer o bolso à tona na moda – obrigada, calça cargo!
E aí, você também é daquelas pessoas que ficam felizes quando vê que o bolso da roupa é verdadeiro e realmente útil? Eu sou!