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Mega Malu sobre gordofobia: “É muito triste deixar de viver pelos outros”

Preta, gorda, modelo, estilista, música, feminista, antirracista e uma voz que traz representatividade por onde quer que passe. Conheça a história dela!

Por Thais Varela Atualizado em 13 ago 2020, 20h11 - Publicado em 12 ago 2020, 11h53

O que é moda para você? Muito além de roupas e tendências, a moda é uma forma de expressão e de posicionamento social. As peças que usamos podem dizer muito sobre nós, sobre nossas lutas e os discursos que queremos defender. E é dessa forma que a modelo e estilista Maria Luiza Floriano, de 22 anos, mais conhecida na internet por Mega Malu, lida com esse universo. 

A minha relação com a moda vem desde criança, eu sempre gostei das roupas e de desenhar. Quando entrei no Ensino Médio, tive a oportunidade de fazer uma formação técnica em Design de Moda, o que me envolveu ainda mais com o assunto. Nessa época, eu vinha de um momento pelo qual tinha passado por muito bullying na escola e, quando comecei a me conectar com essa área, de conseguir realmente produzir e costurar, vi que podia mudar essa ideia ruim que eu tinha. O que eu não encontrava nas lojas para vestir, agora podia fazer eu mesma. A partir disso, comecei a me gostar mais por causa da moda – ela, que antes fez com que eu me odiasse um pouco por toda a questão estética. Quando eu pude mudá-la e personalizá-la para mim, comecei a gostar dela“, explica em entrevista à CAPRICHO.

O interesse pela área não parou na adolescência e Maria Luiza seguiu para a faculdade de moda. “A moda é muito importante para mim, porque ela faz eu me sentir única, especial e diferente. É por meio dela que eu consigo me expressar em relação ao meu corpo sem ser por ele vazio, pelo nu, porque, querendo ou não, quando você é negra e tem o corpo curvilíneo, você é mais sexualizada. Então eu tento quebrar essa ideia da sexualização e dos estereótipos de beleza quando me visto“, diz.

Encarando a própria imagem

Atualmente, Malu se posiciona como uma mulher gorda que tem orgulho do seu corpo e que advoga por representatividade. Porém, nem sempre foi assim. “Essa evolução de sentimentos em relação à minha aparência foi complicada. Quando olho para trás, vejo que eu distorcia muito minha imagem, porque eu cresci sendo ‘a menina gorda’ e, por isso, sempre me achei gorda, mas eu não era. Eu não era uma garota com o corpo magro, mas também não era gorda. Eu sempre me gostei e me achei bonita, mas eu me sentia muito insegura, porque me diziam que eu não era linda, que eu não podia usar determinadas peças”, lembra Mega Malu.

O preconceito e a falta de inclusão contribuíram para que Maria Luiza não se aceitasse. “Apenas pelo fato de entrar em uma loja de roupa e não ter o meu número, isso me mostrava que eu não pertencia àquele mundo. No final das contas, eu me sentia culpada, porque, quando você vai a uma loja e não encontra nada para você, não se vê nos produtos oferecidos, você sente como se a culpa disso fosse sua. Mas, na verdade, não é. A culpa é do fabricante que não produz mais numerações, que não abrange outros corpos. Nesses momentos, eu tinha raiva, me odiava e ficava muito brava porque eu não conseguia simplesmente comprar uma peça que eu queria. Eu não entendia por que não fazia parte daquilo”, afirma. 

@megamahluu/CAPRICHO
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Aos 18 anos, a influenciadora já começava a mudar o seu olhar em relação a si mesma e a questionar os estereótipos que a sociedade impunha sobre o corpo gordo. “Passei a trabalhar o meu amor-próprio quando comecei a me perceber e parar de ouvir as outras pessoas. Na mesma época, parei de alisar meu cabelo e deixei os fios naturais. Acho que tem muito a ver com isso também, porque quando você começa a se identificar, a se amar em relação a alguma coisa, isso te abrange em todas as áreas. O Instagram também me ajudou muito, postei pela primeira vez na plataforma aos 16 anos e, desde aquela época, recebo mensagens de pessoas que falam que eu as inspiro, que nunca tinham visto meninas com o corpo igual ao meu e que isso as ajuda a se aceitarem também, que elas se identificam comigo. Tudo isso foi me dando força e eu fui me conhecendo melhor”, diz.

Hoje, eu sou uma mulher gorda. Com todos esses processos, eu tive depressão e alguns problemas que me fizeram engordar. Porém, agora eu assumo quem eu sou. Eu realmente sei que antes eu não era e que eu não posso mais distorcer a minha imagem, nem para mais magra e nem para mais gorda – porque o mundo distorce a nossa imagem e acaba fazendo com que nós mesmos criemos essa distorção também. Precisamos saber quem somos, nos assumir e nos amarmos todos os dias”, continua.

Moda X corpo

Os padrões estéticos são refletidos diretamente na moda. Na grande maioria da vezes, modelos, celebridades e influenciadoras que utilizam dela como forma de expressão e de trabalho possuem um corpo padrão, que segue o estereótipo da magreza, o que reforça, mais uma vez, a ideia (errônea) de que as pessoas gordas não têm espaço na moda e no estilo. Esse pensamento limita a liberdade de escolha de muita gente, e limitou também por muitos anos a de Mega Malu. “Eu não usava shorts até os 16 anos. Nunca. Porque eu achava que eu tinha muita celulite na coxa, que ela era muito grossa. Isso criou uma barreira muito grande em mim. Era absurdo, porque eu passava calor, mas não usava. Hoje, eu visto shorts o tempo todo“, conta.

“Deixei de usar regata por muito tempo, acho que fui voltar a usar com uns 17 anos. Vestido e saia também não faziam parte do meu visual. Eu distorcia muito a minha imagem, hoje em dia eu tenho um braço gordo e uso regata, eu tenho um corpo gordo e uso roupas que eu não usava. A questão é você não se permitir, pois o mundo diz que você não pode usar porque é gorda, e é muito triste deixar de viver por conta do que os outros falam. Por isso, agora, fico feliz de ver as meninas mais novas que me seguem falando que eu as incentivo a se vestirem de forma livre. Penso que, se eu tivesse tido alguém para me inspirar e para ter como referência na minha adolescência, eu não teria passado por muitas das dificuldades que enfrentei. A identificação é essencial na construção da nossa imagem“, explica.

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“Lembro que, quando comecei a me assumir como eu era e a me gostar, o olhar do outro que me julgava também mudou, até porque eu comecei a me posicionar de forma diferente. Foi muito interessante, porque quando me portei diferente, me senti de fato assim. Me senti livre e mais dona de mim, e então refleti sobre tudo o que eu estava perdendo quando deixava de colocar um biquíni, de curtir a praia, de usar uma regata em um dia quente. Nessas ocasiões, eu perdia o vento, a brisa, a liberdade de abrir os braços e me sentir normal, de me sentir abraçada pelo mundo. Eu tive um alívio muito grande de não ter mais que me preocupar com o olhar do outro“, reflete.

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Representatividade

Sendo a representatividade que não teve na adolescência, Maria Luiza usa suas redes sociais e seu trabalho para falar de amor-próprio, corpo livre, racismo e, lógico, estilo. Neste ano, ela foi convidada para ser uma das protagonistas da campanha Change the Game (mudar o jogo, em tradução livre) da marca esportiva Fila, e mostrou que realmente está mudando a cara da indústria com a sua voz. “Colocar uma mulher gorda em uma campanha que fala sobre esporte é algo muito transgressor. As pessoas têm a imagem de que o saudável, o esportivo, está ligado ao magro, e não que qualquer corpo pode estar ali. Isso mostra que podemos, sim, fazer tudo. Eu me senti representada, a minha própria imagem me representou porque ela é realmente uma imagem política. Uma mulher preta, gorda e feliz é político“, conta.

“Sempre me perguntam: ‘O que você fez para se amar assim?’. O jeito que eu me amo é meu, eu aprendi comigo. O que eu posso dizer é que precisamos aprender a nos olhar e a nos reconectar com o nosso corpo. Se você ainda não aceitou o seu corpo, não consegue se olhar no espelho, tente todos os dias fazer um carinho em si mesma, separar um tempo para ter um autocuidado. O que o outro vai te proporcionar é externo, o que você pode dar para si mesma vem de dentro para fora. Se autoconhecer, se reconhecer, se olhar de novo, aprender a se amar e aceitar quem somos – e esse aceitar não é forçado, mas com amor -, tudo isso vai, aos poucos, nos mostrando que a nossa beleza é só nossa, e que não precisamos estar preocupados com o que o outro vai pensar da gente. Comece com pequenas mudanças no dia a dia. Nunca usou uma regata ou um shorts? Tente. Veja até onde você consegue chegar, porque nos prendemos por coisas pequenas e, para quebrar essas barreiras, é necessário nos desafiar. Quando você se desafia, vê que o jogo vira e que você muda“, aconselha.

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