Ame ou odeie, as botas Tabi são consideradas um marco na história da moda. Criadas por Martin Margiela na década de 1980, elas viraram símbolo da grife do estilista belga, mas sua origem vem bem antes disso e remete a uma meia típica do Japão do século 15. Vem entender a cronologia desse calçado e como ele se mantém relevante até hoje!
Origem japonesa
As ‘Tabi boots’ foram inspiradas em uma meia que separava o dedão dos demais dedos do pé e era usada junto com o tradicional sapato japonês de salto alto feito de madeira chamado geda, que lembra a silhueta de um chinelo. Esse tipo de meia existe desde o século 15 no país asiático e, inicialmente, estava restrito ao uso de membros da elite, devido à escassez de algodão na época, em tons de roxo e dourado, que representavam status ao demarcar as classes mais altas. Anos depois, o design foi se transformando e ganhou um solado resistente, passando a fazer parte da rotina dos trabalhadores.
Margiela entrou em contato com o formato um tanto diferente para o mundo ocidental em uma viagem ao Japão com o Antwerp Six (Os Seis da Antuérpia), grupo de estilistas belgas que se formaram na Royal Academy of Fine Arts, na Antuérpia, no início dos anos 1980 e são considerados grandes influentes do design moderno. Lá, ele se encantou pela silhueta nipônica e resolveu fazer sua própria interpretação dela com a intenção de desenvolver um sapato que desse a ilusão de um pé descalço apoiado em um salto.
A primeira bota Tabi
Acredita que o design da bota era considerado tão inusitado que, a princípio, nenhum sapateiro aceitava fazê-lo? Na exposição Footprint – The Track of Shoes in Fashion, exibida em 2015 no MoMu – Museu da Moda da Província de Antuérpia, o empresário Geert Bruloot, um dos primeiros a descobrir o talento de Margiela, conta que foi o artesão italiano chamado Sr. Zagato que viu potencial na silhueta.
Em 1983, antes mesmo de fundar sua marca homônima, Margiela vendeu sua primeira bota Tabi para a amiga e estilista Ann Demeulemeester. Mas ela foi apresentada ao mundo somente mais tarde, em 1988, no icônico desfile de primavera-verão 1989 da Maison Martin Margiela, que aconteceu no teatro Café de la Gare, em Paris. Modelos mancharam a passarela branca de pegadas de tinta vermelha, que atraíram olhares por parecerem pegadas de camelo. Mais do que uma exposição de peças, era uma performance artística. “Eu achei que o público deveria notar o novo sapato. E o que seria mais evidente do que pegadas?”, disse Margiela em fala documentada na mostra Footprint: The Track of Shoes in Fashion, que virou livro.
O sucesso atual
Ao longo dos anos, o design que apresenta uma divisão nos dedos foi se consolidando como um dos códigos fundamentais da etiqueta e ganhou atualizações em novos sapatos – sandálias, mocassim, sapatilhas, tênis… Quem lembra da coleção da Reebok em parceria com a Margiela, por exemplo? Desde quando John Galliano assumiu a direção criativa da grife em 2014, ele continua honrando o legado de Margiela e, portanto, a inesquecível silhueta Tabi.
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Assim, embora tenha sido desenvolvida há mais de 30 anos, a silhueta Tabi permanece em evidência e divide opiniões até hoje. “[A Tabi] é reconhecível e existe há mais de 25 anos – está lá, e continua, e nunca foi copiada. É uma história incrível”, disse Martin Margiela em entrevista a Geert Bruloot em 2015.
A febre dos ugly shoes também contribuiu para esse boom dos sapatos Tabi nos últimos anos, principalmente no street style, chamando a atenção da geração Z que valoriza a autenticidade na moda. O design de Margiela desperta dúvidas e diferentes perspectivas. É bonito? É esquisito? É bizarro? Ame ou odeie, é arte. E é brilhante.