A marca soteropolitana Dendezeiro fez seu quinto desfile no São Paulo Fashion Week neste sábado (13), apresentando a coleção ‘Para aqueles que acreditam na liberdade‘, que simbolizou as fases da vida, passando pelo nascimento, a adolescência, a vida adulta, o trabalho e o casamento, chegando à morte e pós-morte, através dos looks.
O desfile da dupla de estilistas Hisan Silva e Pedro Batalha mapeou 30 personalidades diferentes, que vão desde um estudante de medicina que sonha em ser cantor a uma mulher recém-viúva, imaginando o que significa medo e liberdade para cada uma delas, entrelaçando o passado ancestral com desejos para o futuro. “Nesses últimos cinco anos que a gente viveu na moda, nos deparamos com diversos sentimentos. A moda foi extremamente libertária pra gente, na nossa personalidade, na nossa identidade, mas ao mesmo tempo também trouxe alguns desafios que precisavam ser superados”, afirma Pedro em entrevista à CAPRICHO.
“Nessa coleção, a gente retrata essa dicotomia e essa sintonia que existe entre os nossos sentimentos do dia a dia, os conflitos que existem dentro da nossa personalidade, quem a gente é, do nosso trabalho, dentro de casa, como a gente se comporta nas ruas, como somos enquanto família”, completa.
“Tem look que é uma noiva, uma pessoa que sempre sonhou em casar e viver a cerimônia do casamento, mas não necessariamente viver o dia a dia do casamento. Então, como é que a gente consegue trazer esses dois universos para essa pessoa que quer estar no altar, mas no dia a dia quer ficar no seu sofá tranquila e não viver determinados relacionamentos. Dentro de cada look, cada personagem, a gente traz esse vai e volta, de eu quero me sentir livre, mas eu tenho medo de determinado espaço”, explica Hisan.
Na passarela, tivemos a presença de personalidades como a deputada federal Erika Hilton, os cantores Thiago Pantaleão, Rebecca e Majur, e as influenciadoras Sarah Aline e Lore Improta, desfilando peças de alfaiataria e tapeçaria, que já são características da marca baiana. O conceito também foi inspirado pelo livro Capitães de Areia, de Jorge Amado, que se passa nas ruas de Salvador e narra a trajetória de meninos do trapiche que tentam sobreviver às adversidades da vida.
Os diretores criativos da Dendezeiro também comentaram quais são as dificuldades que têm enquanto marca para resistir na moda brasileira e colocar um desfile de pé no SPFW N57. “Enquanto uma marca que nasce na Bahia, que vem do Nordeste, a gente tem todo esse trâmite e essas várias noites sem dormir para construir as nossas coisas. Porque a gente fala sobre uma moda nacional que não necessariamente divide as ferramentas para todos os lugares. Sair de lá e vir pra cá para apresentar o nosso desfile, falar a história que a gente está contando e voltar pra casa e entender que determinadas ferramentas a gente tem que fazer malabarismo para conseguir utilizar. E assim que tem se construído a moda nacional durante muito tempo. Cada vez mais marcas espalhadas pelo Brasil estão conseguindo mostrar sua identidade e falar sobre quem são, mas é impossível a gente falar que essas marcas não passam pelas dificuldades”, declara Hisan Silva.
“No fundo, a gente não quer que a impossibilidade nos impeça de realizar o nosso sonho e fazer o nosso trabalho”, complementa Pedro Batalha. “Um dos motivadores principais é que, depois de muito tempo, a gente acredita que temos com o que contribuir para a moda. As impossibilidades vão sempre existir, principalmente se você é um criador preto, LGBT, nordestino, mas, tirando essa camada, também tem o criativo, o designer. E esse segmento que o mercado acaba atribuindo a nós dificulta com que a gente alcance outros espaços, viva outros tipos de experiência, porque também queremos que a atenção principal do nosso trabalho seja o empenho, a dedicação e o design mostrados na passarela. E a vontade de mostrar isso faz com que a gente persista diante dos obstáculos que vêm pela frente“, finaliza.