Alexei propõe resgate de memórias afetivas diante de pessimismo com a moda
Após decepções com a moda atual, o estilista Leonardo Alexei retoma lembranças da adolescência em desfile na Casa de Criadores
a Casa de Criadores 54 nesta segunda-feira (29), a marca Alexei, de Leonardo Alexei, apresentou a coleção ‘Os Vagabundos‘, que surgiu a partir de uma visão pessimista do diretor criativo sobre a moda. Diante disso, na passarela, ele resgata aquilo que um dia o fez se apaixonar pela área, mergulhando em referências dos anos 2000 que definiram sua adolescência.
“A coleção é sobre um pessimismo na moda. É uma sátira, uma forma irônica de tratar as minhas decepções com esse mundo”, afirma Leonardo Alexei à CAPRICHO. “Eu andei muito pessimista nos últimos tempos, em relação a esse mercado, em relação à arte. E, aí, estou tentando resgatar alguma coisa que me fez algum dia gostar e me apaixonar por moda. É um resgate, uma ironia, como eu fiz outras vezes, e tentando trazer uma discussão sobre isso.”
A percepção negativa que foi o estímulo de Alexei para esse trabalho vem porque, na opinião dele, a moda perdeu muito da sua essência artística e da liberdade. “A parte comercial, do mercado, é um bicho que vai te devorar e só permanece quem é grande e tem dinheiro”, declara.
Nesse contexto, ele relembra e faz uma homenagem à moda dos anos 2000 e a estilistas que o fizeram se interessar por moda quando era adolescente, como o brasileiro Alexandre Herchcovitch e o britânico John Galliano. Alexei, inclusive, se apropria do nome ‘Os Vagabundos’, utilizado por Galliano, e explica: “É tanto uma expressão que as pessoas usam para tentar ofender a gente, como a gente, que trabalha com arte e moda, pode se identificar com isso. E tem ainda esse significado do vagar, de não saber onde estar e qual é o seu lugar.”
Em uma mistura de alfaiataria, alta-costura, códigos do street wear e elementos que lembram costureiras de bairro, roupas da sua mãe e sua origem interiorana, o estilista questiona: “O que eu sou?”. Diante da ironia e do humor, que já são esperados nas roupas da marca, ele também explora a ideia do que é luxo na moda nacional. “Eu sempre trago vestidos de noiva nas coleções, porque minha mãe me mostrava o dela, e era uma emoção quando ela pegava do alto do guarda-roupa, e eu via que já gostava daquilo”, recorda.
“Tem uma artesã que trabalha comigo que faz pintura de pano de prato, e isso é um exemplo de luxo para mim. Porque, hoje em dia, se discute muito luxo no Brasil e o que é a moda brasileira. Eu acho uma piada essa discussão. Isso me incomoda e me deixa pessimista”, completa.
A beleza, assinada por Maxweber Lira, dá continuidade à essa história, criando a ideia de sonhos e pesadelos. “Falamos sobre os vagabundos, essas pessoas que são livres da escravidão da moda. Então, temos muita cor e traços desconstruídos, além da influência do teatro. O resultado é estranho porque é desconstruído, mas também se vê beleza nisso”, conta a maquiadora.
Assim, na passarela, acompanhamos um tom questionador que acompanha o universo lúdico e nostálgico da Alexei.
@capricho Estilista Leonardo Alexei, da marca Alexei, explica a coleção ‘Os Vagabundos’ apresentada na #CasadeCriadores 54 ✨ #estilista #semanademoda #desfile