Seja pela customização de roupas, como na técnica do upcycling, ou até nas compras em brechó, é bem possível que você já tenha consumido ou praticado a moda sustentável, né? A sustentabilidade dessa indústria é um debate que pode ser ampliado para diferentes âmbitos e, aqui, vamos olhar para como ela se materializa entre as grandes grifes internacionais e suas coleções de alta-costura.
Durante o Fórum Fashion Revolution, a CAPRICHO conversou com a jovem socióloga de 22 anos Mayara Affonso, que apresentou sua pesquisa investigando a verdadeira sustentabilidade presente nas maiores marcas de grife. Seria apenas um discurso moralista ou realmente são sustentáveis? “Me pareceu muito contraditório”, disse Mayara sobre a possibilidade do luxo ser sustentável. No entanto, ela diz ter provado que esse pensamento estava equivocado.
Antes de entender a alta-costura, precisamos falar sobre realidade das compras de uma considerável parcela da população, que envolve redes de fast fashion, que produzem moda com visão e objetivo totalmente comerciais. A mudança rápida de tendências atinge em maior parte esse tipo de loja, afinal, são elas que atendem ao grande público devido aos seus preços mais baixos. No entanto, ao abrir mão da qualidade para focar na rápida demanda, os produtos tornam-se cada vez mais descartáveis. Eles não têm vida útil e é provável que não estejam no gosto das pessoas daqui a pouco tempo. E, dessa forma, há uma certa manutenção do consumo desenfreado.
“l’imaginaire c’est ce qui tend à devenir réel” (“O imaginário é o que tende a tornar-se real“)A alta-costura é considerada um exemplo de slow fashion por ser produzida apenas duas vezes ao ano. Ela se coloca contrária ao fast-fashion, que apresenta graves problemas de desperdício de resíduos têxteis, uso exagerado de recursos hídricos e exploração da mão de obra barata.
Com exclusividade extrema e com um número contado de compradores, marcas selecionadas, que se encaixam em certos padrões pré-definidos da alta-costura, apresentam coleções caríssimas. O preço alto está ligado à baixa demanda e à alta qualidade da produção. Nesse momento, entende-se a moda como arte, com peças únicas feitas à mão com a maior qualidade possível – o que significa, portanto, que não são descartáveis.
Mayara Affonso afirma que as marcas acreditam que “a alta-costura, por produzir sob demanda, já é automaticamente sustentável”. No entanto, em entrevista à CH, ela indica um outro lado dessa produção sob demanda. “As marcas de luxo estão falando sobre sustentabilidade sendo que o luxo implica que existam coisas problemáticas, afinal, para existirem classes muito altas, é necessário que existam classes muito baixas”, afirma.
Afinal, alta-costura é sustentável ou não? Sim, o impacto ambiental é realmente menor e há menos lixo sendo produzido. No entanto, segundo Mayara, “a sustentabilidade é um termo que abarca diferentes lados, não é só ambiental, também tem a questão social e cultural”. Nesse sentido, fica o questionamento: tem como ser considerada totalmente sustentável, incluindo socialmente, se o luxo cria esses abismos entre classes?