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Um ensaio de fotos. Uma geração inteira

Essa é a primeira vez que a nossa galera encara o protagonismo de estar em uma capa de revista online - reimaginando moda, beleza e o próprio futuro.

por Andréa Martinelli, Juliana Morales, Bruna Nunes, Sofia Duarte Atualizado em 31 ago 2023, 22h18 - Publicado em 31 ago 2023 04h23
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eatriz Ferreira, a Bia, foi a primeira a chegar na Casa Rockambole, na manhã fria da sexta-feira, 14 de julho. Como uma boa virginiana que “gosta de tudo certinho”, ela saiu bem cedo de Jundiaí, interior do estado de São Paulo, para chegar com tempo de sobra em Pinheiros, zona oeste da capital paulista, onde participaria de um momento que, sim, ela provavelmente nunca irá esquecer.

Nas horas de espera, de frente para a fachada do prédio, ela tentava administrar a ansiedade, o medo, a curiosidade e a empolgação. Tudo junto, pulsando por dentro. Apaixonada por arte e bailarina desde os 8 anos, Bia já estava acostumada com bastidores e luzes, mas ali seria diferente. “Nunca na minha vida eu imaginei que estaria na capa da CAPRICHO”, diz, balançando a cabeça, como se ainda custasse acreditar.

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Bia faz parte da Galera CAPRICHO 2023, grupo de 16 leitores, entre 13 e 18 anos de todo o Brasil, que colaboram escrevendo para o site e participando de experiências durante o período de um ano. Ela e mais seis integrantes receberam a missão de representar o restante da turma e toda uma geração em um ensaio de fotos para o retorno das edições online da CAPRICHO – maior veículo jovem do país – em uma nova fase de ampliação de sua linha editorial.

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Da esquerda para a direita: Bia, Nicky, Thaís, Julian; Bernardo, Liza e Valentine. Tiago Zani/CAPRICHO
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Prestes a completar 18 anos, Bia relembra que, durante a pandemia da covid-19, começou a assistir séries novas, testar outros estilos de roupa e variar a sua playlist. “Saí uma pessoa completamente diferente do que eu era antes”, conta. 

Para ela, isso faz parte da juventude que lhe atravessa. Ser jovem não deixa de ser uma reinvenção do que você era e do que sonha em ser. “Eu gosto de pensar que cada dia temos a oportunidade de ser alguém diferente, de recomeçar”, fala otimista. “Eu acho que a CAPRICHO também está tendo essa chance, né?”, acrescenta e sorri.

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Honrar o passado e buscar o futuro

E, sim, Bia tem razão. Estamos aproveitando, e muito, essa chance. Hoje a CAPRICHO não é mais só sobre o chamado de “universo jovem”, mas também sobre o jovem no universo. Com o novo posicionamento Manifeste. Desobedeça. Seja Você, a marca inaugura novo momento em sua história trazendo cores mais vibrantes e muita conexão com a realidade de uma geração que questiona muita coisa e quer um futuro diferente, sem regras ou padrões limitantes.

Bia diz que já tentou se encaixar em um padrão, sim. “Todo mundo passa por essa fase. Muita gente na escola ainda tem o pensamento de que precisa ser de tal jeito para que os outros gostem de você”, afirma. Para ela, é um processo de desconstruir essas ideias aos poucos. “O que me ajudou muito foi ver pessoas que se parecem comigo estão sendo protagonistas na música, na televisão, no teatro”, completou, citando nomes como Iza, Tais Araújo e Beyoncé.

Talvez você que está aí do outro lado da telinha não saiba, mas a CH – como carinhosamente é tratada pelos mais íntimos – existe desde 1952 e tem mais de 70 anos de história na imprensa brasileira.

Por isso, ela pode ser considerada a primeira revista voltada para o público feminino do Brasil, viu? Depois de toda uma vida impressa, desde 2015 a revista existe apenas no formato online, é super forte nas redes sociais e hoje é o maior site jovem do Brasil.

O misto de emoções foi se acalmando quando o restante da galera começou a chegar no ensaio. Já era hora de fazer maquiagem, escolher o look e acertar os últimos detalhes para o momento das fotos. Para transmitir sua vontade de viver e de experimentar novas experiências, Bia apostou em roupas coloridas e vivas. “Foram feitas algumas tranças, mas meu cabelo ficou solto, trazendo toda uma representatividade do cabelo afro”, conta. 

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Diversa e conectada, sim

Em 2023 foi a primeira vez que a Galera CAPRICHO teve inscrições abertas para meninas, meninos e menines, deixando, propositalmente, de ser só composta pelo público feminino. João Paulo, ou melhor, Valentine, 17, estava entre os inscritos. “A minha irmã que me mandou que vocês estavam chamando para a Galera. Eu falei: “eu vou, com certeza!'”. 

Foi ela, inclusive, que apresentou o universo da CH à ela. “Eu não pensava que seria capa da Capricho, fico imaginando para a minha irmã que acompanha a revista desde muito antes de mim. Ela ficou, tipo: ‘Meu Deus, meu irmão vai aparecer na Capricho, que surreal!'”

E talvez você esteja se perguntando: “ué, João Paulo ou Valentine?”. É ela mesma que explica. “Tenho 17 anos e sou uma pessoa de gênero fluído. Talvez seja um pouco difícil entender, mas eu como homem eu falo que eu sou gay e quando eu tô indo para o feminino, sou hétero. Eu gosto muito de arte, eu sempre fui muito da arte, eu amo desenho e amo maquiagem.”

Conhecer pessoas novas e com uma sintonia assim é bem diferente. Foi um dos melhores finais de semana que eu tive na minha vida!

Valentine, 17 anos

No dia do ensaio, ela foi uma das que chegou logo cedo e, sim, foi embora por último. “Parecia que todo mundo se conhecia há anos; sair com meus amigos é uma coisa, mas conhecer pessoas novas e com uma sintonia assim é bem diferente. Foi um dos melhores finais de semana que eu tive na minha vida.”

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Julian Romero, 15, que, além de morar distante da locação, precisou esperar sua mãe voltar do trabalho. “Esse dia foi um mix de emoções”, lembra. “Minha mãe estava trabalhando. E eu ‘meu Deus, meu Deus’, mas aí depois deu tudo certo”, brinca. 

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Bernardo, Ivy e Valentine posam para a CAPRICHO. Tiago Zani/CAPRICHO

Deu tudo tão certo que ele, que é um garoto trans, não só ficou à vontade na frente das câmeras, mas se abriu para usar roupas consideradas femininas e maquiagem – algo que parecia novo. “Quando eu comecei a ver o resultado… Eu percebi o tanto que o maquiador era talentoso e começou a ficar incrível. E, aí, eu falei: nossa, eu preciso fazer isso mais vezes.”

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Entre os meninos e menines, também está Bernardo Henrique, 16, que veio direto de Minas Gerais para participar do ensaio, viu? “Foi uma emoção que eu não sei explicar, eu acho que o mais legal de tudo foi a troca e a conexão com as pessoas”, lembra. “No fim do dia, ficou até aquela coisa de ‘hm, queria um pouco mais disso’, sabe?”

Bê, como é conhecido pelos mais íntimos, contou à reportagem da CH que lembra ter sido alvo de bullying na escola por simplesmente gostar de rosa. “Hoje em dia eu estou aqui, na capa de uma revista icônica usando uma maquiagem rosa belíssima e uma roupa super extravagante. Se eu voltasse no tempo talvez eu não tivesse coragem.”

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Tá difícil de lidar, adulto?

A pergunta, desta vez, foi: como você descreve a sua geração? “Faz tempo que eu não uso essa palavra, mas eu acho que é rebeldia“, compartilhou Lisandra de Fátima, 17, também da Galera CH e moradora aqui de São Paulo. Ela é programadora, trabalha, estuda e acredita que a conexão entre as gerações de jovens é que, não importa qual seja, a juventude não é compreendida, ouvida ou contemplada.

“Muita gente fala: ‘ah, mas vocês são muito mimizentos, tem sempre que explicar o porquê’. E Isso não é bom? Significa que a gente está por dentro, não? Não era isso que vocês queriam, que a gente crescesse e tivesse mais responsabilidade? Se fosse para representar em uma palavra a minha geração, eu diria inquietude, rebeldia”, pontua.

E é fato: a chamada “Geração Z” é alvo de estudos, análises – de especialistas ou leigos (e sempre pessoas mais velhas, né?) que tentam responder inúmeras questões que, na verdade, traduzem a necessidade de conexão e a falta de entendimento por parte deles. Existe a busca por dados, números, mas há pouco espaço para escutar essa galera – que, alô, somos nós.

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Da esquerda para a direita: Bia, Liza, Julian. ThaÍs. Tiago Zani/CAPRICHO

Explicando para quem ainda não está tão familiarizado assim: a geração Z categoriza o grupo de pessoas nascidas a partir de 1995 até aproximadamente 2010 – alô, você que está aí do outro lado da telinha, sabemos que você é um de nós -, que foram anos super importantes durante a transição do século XX para o século XXI. E é a geração que já nasceu com a internet em pleno funcionamento, o que ganhou também um outro novo termo chamado de “nativos digitais”. Ok, adoramos, sim, um celular, assistir vídeos no TikTok e produzir para o Instagram.

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“Hoje, nós estamos tendo acesso a informação muito mais fácil que as outras gerações e por isso também estamos criando opinião muito mais rápido que antes e é uma coisa meio chocante para os adultos, né?”, questiona Valentine à reportagem da CAPRICHO.

Ser jovem significa inovação. Nos escutem porque a gente tem muita coisa importante para falar.

E não é que talvez seja difícil, mesmo, para eles lidar com uma geração que almeja mudanças, é diversa e utiliza plataformas digitais para se comunicar, produzir conteúdo – e até mudar o mercado de trabalho e corporativo tornando a cultura da influência algo rentável? Pois é. Respira aí do outro lado e fique com a gente aqui nesse texto, vai valer a pena.

Mas “nós também queremos ser escutados”, pontua Valentine. “A gente não quer ser entendido como crianças que ainda não desenvolveram capacidade de raciocínio. É importante colocar os adolescentes para falar com os adolescentes, porque a gente se entende, se conhece. Ser jovem significa inovação. Nos escutem porque a gente tem muita coisa importante para falar.”

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Responsabilidade é minha… 

A saúde mental também. Esta é uma das gerações mais afetadas da História: estamos no auge do sistema capitalista e da criação de novas corporações; do ponto de não retorno em relação à crise climática, sem deixar de mencionar a pandemia de Covid-19, maior crise de saúde pública coletiva que já presenciamos até agora. E isso tudo muda a forma de existir por aqui.

“A gente pesquisa muito mais, procura muito mais se informar. Somos inquietos, sim, somos agitados. É uma geração que tem bastante problemas de saúde mental em vários aspectos, mas isso também é muito mais reflexo do que está acontecendo no mundo e como a gente reage a isso do que somente algo individualizado”, compartilha Thaís, 18, ao trazer um olhar crítico – já dá pra perceber que essa carioca e estudante de jornalismo chegou com tudo, né? 

Ela acredita que “somos uma geração que consegue se expressar muito mais” e que tem um pensamento muito mais aberto para aprender. “E, aí, vêm as pesquisas, por exemplo, que falam que a geração Z não fica muito tempo no mesmo emprego. Eu acho que isso é um reflexo das más condições de trabalho que já eram ofertadas às outras gerações. A gente não aceita isso. A gente já vem com uma cabeça de ou vou ser bem tratado ou, sei lá, eu vou empreender e fazer outras coisas.”

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Futuro é logo ali

E o que Nicole Ivy, 17, de São Paulo, quer dele é revolução. “Eu espero que cada vez mais a gente questione o que o sistema impôs, o que a sociedade impôs. Eu quero questionamento, é isso que eu quero. Eu quero que a gente se una e mude cada vez mais um sistema de muita opressão que a gente vive, sabe?”

Sabemos, Nicky. Ela, que atualmente estuda artes visuais, concorda com Thaís de que temos um caminho longo pela frente, mas que trazemos muitos elementos novos que podem agregar. “Eu acho que essa geração está trazendo muito isso de escutar a vivência do outro. E é muito legal que a gente tenha espaço, principalmente dentro da CAPRICHO.”

E nós também. Bora alimentar esse espaço juntos? <3

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