Você já parou para pensar sobre a depilação e por que ela se tornou uma norma social imposta às mulheres? Por que, muitas vezes, ao não nos depilarmos nos sentimos “sujas”? Por que temos vergonha dos nossos pelos? E quando todos esses padrões começaram a surgir em nossa sociedade? Foi com o intuito de responder a essas perguntas – e algumas mais – que a CH se debruçou sobre o tema. Confira:
HISTÓRIA DA DEPILAÇÃO
A depilação não é um hábito recente na nossa sociedade. Indícios arqueológicos apontam que desde a pré-história homens e mulheres já se depilavam. Segundo a historiadora Mary del Priore, as informações mais concretas sobre esse assunto começam no Egito Antigo, em que textos, cerâmicas e outros resquícios apontam para técnicas depilatórias usando pedras, cera de abelha e até açúcar. Para essa civilização, a retirada dos pelos era vista como um símbolo de status e até uma necessidade religiosa para sacerdotes. Na Grécia Antiga, também há vestígios da depilação dos órgãos sexuais e de outras áreas do corpo para ambos os gêneros, assim como no Oriente Médio, em que a metodologia com linha era popular.
“Durante a Idade Média, a Igreja Católica passou a associar as partes íntimas ao imaginário da vergonha, então todas as ações referentes a elas que não fossem estritamente ligadas à reprodução deixaram de ser feitas”, explica Mary. A depilação volta a reaparecer nos tempos modernos e é após a Primeira Guerra Mundial que ela começa a se popularizar ao redor do mundo.
Com a necessidade da mulher entrar no mercado de trabalho para ocupar os postos dos homens que haviam ido para as batalhas, a mudança no guarda-roupa feminino, que precisou ficar mais prático para as novas atividades, fez com que as axilas ficassem à mostra e, consequentemente, seus pelos, que até então possuíam um aspecto quase erotizado. Por isso, a depilação da região passou a ser vista como algo necessário para “as moças de família”.
Em 1915, as primeiras lâminas de barbear criadas para as mulheres começaram a ser vendidas, e, a partir disso, propagandas e artigos em revistas femininas falando sobre a necessidade de retirar os pelos se tornam comuns. “Nos anos 1950, após a Segunda Guerra Mundial, mudanças nas vestimentas femininas, como o encurtamento das saias e vestidos, o uso de meia-calça fina e o surgimento do biquíni contribuíram para a retirada dos pelos também da virilhas e pernas, pois essas regiões começaram a ficar aparentes”, completa a historiadora.
Com o avanço da industrialização, novos produtos depilatórios apareceram no mercado e, com eles, mais e mais propagandas falando sobre o tema também, o que ajudou a criar o imaginário de que pelos são algo indesejado – principalmente no corpo feminino. Vale dizer que até o cinema norte-americano, com todo o glamour da Old Hollywood, contribuiu para fortalecer esse padrão ao exibir atrizes sem pelos em suas produções. A partir daí, a noção de que se depilar era uma questão de higiene passa a ser reforçada como estereótipo de beleza, e ela se torna praticamente uma obrigação social. “O impacto da imagem é muito importante para popularizar a depilação, porque se falava muito sobre ‘livrar’ o corpo feminino dos pelos”, diz Mary. É só nos anos 1960 e 1970 que a pauta feminista começa a ganhar força e essa imposição é questionada.