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‘Tontom’ não se leva tão a sério, mas quer construir seu próprio lugar

Sucesso no TikTok com a música 'Tomtom Perigosa', a filha de Heloísa Périssé é muito mais do que esse título diz. 'Trabalhar com arte é para os fortes’

Por Arthur Ferreira Atualizado em 23 jun 2024, 18h33 - Publicado em 23 jun 2024, 09h00
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E

la até pode ser curiosa, mas Tontom não é nada perigosa. Muito pelo ao contrário, a jovem de 17 anos é uma sonhadora que mantém os pés no chão. Logo em seu primeiro single da carreira, ela viralizou e conquistou muitos fãs nas redes sociais com suas letras honestas e sonoridade nostálgica. Em entrevista exclusiva para a CAPRICHO, Tontom nos contou de onde vem o apelido de “perigosa”, as inspirações por trás do EP Mania 2000 e como lida com os comentários sobre ser uma “nepobaby”.

“Tontom Perigosa surgiu de uma brincadeira com uma amiga que um dia me chamou assim e isso ficou na minha cabeça. É uma brincadeira sobre mim e sobre a música que escrevi. Eu não estava me levando a sério e estava muito livre para escrever o que vinha à mente. Inclusive, acho que o mais importante ao compor uma música é estar aberto às suas ideias“, Tontom sobre a inspiração por trás de seu primeiro single.

Com uma família artística que “sempre admirou todo tipo de arte”, Tontom iniciou suas aulas de piano aos sete anos e, aos onze, começou as aulas de canto com a preparadora vocal que a acompanhou na peça Alice no País da Internet, onde atuou do lado da irmã e da mãe, Heloísa Périssé. Desde então, a música passou a ocupar um espaço cada vez maior em sua vida.

Durante a pandemia, a dedicação aumentou e a composição tornou-se um caminho natural. “Eu percebi que a minha vida não podia ser outra coisa além de música”, contou Tontom.

Aos 17 anos, ela lançou Mania 2000, seu primeiro EP cujo processo de composição começou aos 15. A primeira faixa da projeto, Como Iguais, foi a primeira a ser escrita e reflete muito bem o tom das próximas músicas, que exploram as experiências de uma adolescente que se sente diferente. “Eu tinha uma necessidade muito grande de expor minha arte”, explica. O EP traz uma vibe anos 2000, influenciada por artistas como Rita Lee e Cazuza, e outras referências dos anos 80, 90 e 2000.

Em pouco tempo, o primeiro single lançado do projeto conquistou vários fãs no TikTok. Na rede, Tontom Perigosa virou trilha sonora de vários vídeos, se tornando um verdadeiro hit. “Nossa, é muito lindo e muito bom ver as pessoas se identificando assim. Quando eu escrevia Tontom Perigosa, sabia que era uma música animada, mas ao mesmo tempo pensava: ‘meu Deus, quem vai se identificar com uma música tão pessoal?’. Mas mesmo assim, as pessoas estão gostando e escutando bastante. Então é muito legal ver que isso faz sentido não só para mim, mas para várias outras pessoas”, compartilhou Tontom.

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@tontom

♬ Tontom Perigosa – Tontom

“Eu não estava esperando essa repercussão”, diz Tontom, surpresa e feliz com o sucesso da música que alcançou o topo da playlist viral do Spotify.

“Eu não estava me levando a sério e estava muito livre para escrever o que vinha à mente”, Tontom reflete sobre o apelido “perigosa” como uma brincadeira que se tornou um elemento central da música. “Quando eu escrevi Tontom Perigosa, eu queria criar uma música animada, algo diferente do meu costume de compor músicas com uma vibe mais calma e leve. Isso fica claro também comparando as outras faixas do EP”.

Quanto ao apoio da família, ela destaca a naturalidade do processo. “Minha família sempre acreditou muito em mim”, diz. Sobre críticas ao rótulo de “nepobaby”, Tontom é franca: “Tenho trabalhado muito na minha imagem própria, sem me associar tanto à minha mãe. É inevitável que as outras pessoas façam essa associação, mas por minha parte, tenho muito desejo de construir uma imagem própria de quem eu sou”.

Tenho muita noção de todos os meus privilégios em relação a isso, mas ao mesmo tempo, tenho muita certeza de que quero fazer o meu e que o jogo não está ganho por causa disso.

Tontom
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Sobre sua trajetória, Tontom fala com carinho e orgulho, mas também com uma percepção realista das dificuldades e desafios. “Trabalhar com arte é para os fortes”, afirma, reconhecendo o apoio incondicional de sua família. Seu pai, em particular, foi um grande incentivador. “Quando mostrei para ele, disse: ‘Isso é tão bom quanto todas as outras coisas boas que fazem sucesso. Você precisa lançar isso.'”

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Para o futuro, Tontom tem muitos planos e sonhos. Embora ainda não tenha feito shows ao vivo, já tem datas agendadas que em breve serão divulgadas. Ela também nutre o desejo de colaborar com grandes nomes da MPB, aqueles que ela tanto admira. “Colaborar com a galera mais antiga da MPB seria incrível para mim.”

Em meio a tudo isso, Tontom permanece focada em sua paixão pela música e em continuar produzindo com qualidade e autenticidade. “Vou continuar com todo amor e carinho do mundo, e com toda a qualidade que puder dar.” Com projetos em andamento e um entusiasmo contagiante, Tontom está pronta para conquistar cada vez mais espaço no cenário musical brasileiro.

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Leia a entrevista completa:

CAPRICHO: Como a música surgiu na sua vida?

Tontom: Eu cresci em uma família de artistas que sempre admirou muito todo tipo de arte. Isso foi uma coisa que sempre esteve ao meu redor quando era pequenininha. Aos 7 anos, eu comecei a fazer aula de piano e aos 11, eu fiz uma peça de teatro com a minha irmã e com a minha mãe, que se chamava Alice no País da Internet. A preparadora vocal era professora de canto também e eu comecei a fazer aulas com ela. Desde então, a música foi tomando um espaço cada vez maior na minha vida. 

Na pandemia foi quando eu percebi que a minha vida não podia ser outra coisa além de música. Eu comecei a estudar muito e a conhecer muita música nova. Uma hora isso começou a precisar transbordar e foi quando encontrei o caminho da composição. 

Em 2024 você lançou o seu primeiro EP, Mania 2000. Qual foi o processo de composição?

Eu estou lançando elas com quase 18 anos, mas eu comecei a escrevê-las quando eu tinha 15 anos. Elas foram feitas em período diferentes. Parecia que tudo que estava guardado, tinha começado a sair. A primeira que eu escrevi foi Como Iguais, que inclusive é a primeira do EP.

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Como Iguais é a faixa que abre o EP, qual foi a inspiração para essa letra?

Eu já estava muito certa do que eu queria fazer e querendo muito começar, a ter experiências e me envolver mais com a música. Era uma coisa que eu amava muito, mas eu não tinha tempo. Naquele momento eu me sentia um pouco diferente de todo mundo ao meu redor. Eu sinto que na escola todo mundo faz questão de seguir um padrão e ser mais igual às outras pessoas. Eu já não estava mais conseguindo me identificar com aquele estilo de vida, eu tinha uma necessidade muito grande de expor minha arte. Foi uma letra que surgiu de uma forma muito natural e as palavras simplesmente saíam da minha boca. Só depois eu fui refletir sobre o que tinha escrito. 

Tontom Perigosa e todo o EP tem uma vibe muito anos 2000. Quais foram suas influências?

Quando eu escrevi Tontom Perigosa, eu queria criar uma música animada, algo diferente do meu costume de compor músicas com uma vibe mais calma e leve. Isso  fica claro também comparando as outras faixas do EP. Tontom Perigosa surgiu como uma música dançante e animada, eu escrevi pensando nisso. Minhas referências para músicas animadas são principalmente dos anos 80, 90 e 2000, e acho que isso se refletiu na música. As pessoas frequentemente associam com Rita Lee e Cazuza, e certamente bebi da fonte deles. São artistas que admiro muito, mas também há outras influências. Quando compomos, vem um pouco de tudo o que ouvimos e tudo experienciamos na vida, então é difícil apontar uma inspiração única.

E as inspirações por trás da capa de Tontom Perigoso e a do EP?

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Foi uma ideia que surgiu junto com a minha irmã Raquel Dimantas, que é muito ligada à parte visual e estética. Ela está comigo em tudo que faço. eu tinha na cabeça que queria algo um pouco espacial. Há muito tempo atrás, tive uma ideia de capa que ficou guardada e até enviei para ela, que achou legal. Desde essa ideia inicial até a capa final, houve vários outros pensamentos, mas é louco perceber que a primeira ideia é muito parecida com a ideia final.

Ela teve a ideia de fazer uma foto debaixo d’água, imaginando algo submerso, e compartilhamos desse mesmo pensamento. Começamos a refletir sobre ser algo grandioso, talvez de emoção, alegria, algo submerso, mas não necessariamente triste, apenas muitas coisas acontecendo em um mundo particular, cheio de pensamentos e reflexões. A capa mostra eu quase saindo da água, expressando a ideia de ver essas crises de um ângulo diferente. O fundo da piscina parece estrelas, algo próximo do espaço sideral, como minha ideia inicial, transmitindo bem o que as músicas e o sentimento de crescimento e reflexão dessa fase conturbada da adolescência quase adulta.

A capa de Tontom Perigosa também foi pesquisada no Pinterest, com inspirações para a estética dos anos 2000. Criei vários mood boards com várias referências. Com a minha irmã Raquel, percebemos que muitas coisas tinham a ver com telinhas, quadrados, subdivisões, pensando nessa estética dos anos 2000. Ela lembrou de um amigo que coleciona telefones Nokia antigos, o que contribuiu para essa ideia meio distorcida. A capa reflete a ideia de ser uma persona de mim mesma, algo distorcido que foge do óbvio, buscando sempre originalidade e transmitir muito do que somos de forma única.

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Tontom Perigosa foi a primeira música lançada e se tornou um grande hit. Recentemente ela atingiu o topo da playlist viral do Spotify. Você esperava essa repercussão?

Nossa, eu não estava esperando. Eu tinha muita fé no meu trabalho e esperava alcançar algum resultado legal, mas não esperava que fosse tomar essa proporção. A história foi engraçada. Eu estava quase dormindo e entrei no aplicativo do Spotify para artistas para ver em quais playlists minhas músicas estavam sendo incluídas, já que o aplicativo mostra essa informação. Vi uma das playlists do Spotify, o que é algo difícil de acontecer sem gravadora. Fiquei meio confusa, pensando se eram playlists que o algoritmo cria com músicas que o usuário escuta, sabe?

Entrei na playlist e vi Tontom Perigosa em primeiro lugar. Fiquei sem reação. Perguntei para o meu namorado se ele via a mesma coisa na playlist dele, e era. Foi uma surpresa enorme e muito positiva. No mundo da internet, muitas vezes, acontecem coisas menos concretas, muitos seguidores, curtidas, comentários, mas isso foi algo mais tangível.

E como você se sente vendo que a música também é um sucesso no TikTok, rede social que você já usava bastante?

Nossa, é muito lindo e muito bom ver as pessoas se identificando assim. Quando eu escrevia Tontom Perigosa, sabia que era uma música animada, mas ao mesmo tempo pensava: “meu Deus, quem vai se identificar com uma música tão pessoal?”.Mas mesmo assim, as pessoas estão gostando e escutando bastante. Então é muito legal ver que isso faz sentido não só para mim, mas para várias outras pessoas.

E você é perigosa? De onde vem esse apelido?

É uma brincadeira sobre mim e sobre a música que escrevi. Eu não estava me levando a sério e estava muito livre para escrever o que vinha à mente. Inclusive, acho que o mais importante ao compor uma música é estar aberto às suas ideias.

Tontom Perigosa surgiu de uma brincadeira com uma amiga que um dia me chamou assim  e isso ficou na minha cabeça. Quando eu escutei “nossa, isso soa bem, isso é bom!” Então essa ideia ficou borbulhando por um tempo até que um dia sentei ao piano e a música simplesmente veio.

É engraçado que algumas pessoas comentam muito sobre o “Tontom Perigosa, eu tô tão doida pra te ter”, achando que é uma brincadeira onde eu digo “tão tão perigosa”. Quando escrevi, pensei nessa brincadeira do “Tontom” e “tão tão”. 

Qual foi a reação da sua família quando você decidiu que a música era sua futuro?

Eu acho que foi um processo muito natural, uma reação que foi construída aos poucos. Não houve um momento específico em que eu disse “quero fazer música” e foi um choque. Foi algo que construímos gradualmente, porque sou uma pessoa bastante pé no chão e sei que trabalhar com arte, seja atuação, música, qualquer coisa, é para os fortes. Foi um processo que passou bastante pela minha cabeça até ter certeza de que queria investir nisso.

Ao mesmo tempo, em algum lugar dentro de mim, eu já sabia que era o caminho que seguiria. Minha família sempre foi muito receptiva, feliz e sempre acreditou muito em mim. Isso é o mais importante. Mesmo sabendo que é um ramo difícil, meus pais nunca duvidaram do meu potencial na música. Meu pai, quando mostrei para ele, disse algo como “Isso é tão bom quanto todas as outras coisas boas que fazem sucesso. Você precisa lançar isso.” Eles me apoiam muito e têm muita vontade de ver as coisas acontecerem.

Você já viu os edits da Tati ao som de Tontom Perigosa? O que acha das pessoas ligaram uma música sua à uma personagem tão amada da sua mãe? 

Sim, eu acho fofo e muito lindo. Eu tenho muito carinho pela Tati, cresci assistindo. Eu não tinha pensado na Tati na hora de escrever, mas as pessoas começaram a associar muito essa personagem, mesmo sem saber que sou filha da minha mãe. Muita gente fala “Meu Deus, ela é filha da Tati, como assim? Eu pensava que essa era a música do filme”. Acho muito curioso, muito engraçado e legal ver as pessoas fazendo essa associação, porque minha mãe me criou, sou filha dela, então obviamente tem muito dela em mim e no que faço.

@by.anagsds

Eu com O diário da Tati 😭 | #foryou #viral #filmebrasileiro #cinemanacional #viralvideo #viralvideo #tontomperigosa #heloisaperisse

♬ Tontom Perigosa – Tontom

Como você lida com as críticas sobre você ser “nepobaby”, filha de Heloísa Périssé? 

Eu sabia que esse assunto ia aparecer na minha vida, porque sendo artista e filha de artista, isso é inevitável e não tem como fugir. Enfim, de fato sou filha de alguém que já está no ramo há muito tempo, que já tem contatos e experiência. Tenho muita noção de todos os meus privilégios em relação a isso, mas ao mesmo tempo, tenho muita certeza de que quero fazer o meu e que o jogo não está ganho por causa disso. Em nenhum momento tenho a intenção de ficar agarrada ao fato de que sou filha de alguém famosa e que todas as oportunidades vão surgir por causa disso. Apesar de muitos privilégios, as pessoas também não têm muita noção de quanto é trabalhoso. Se a gente quiser ser alguém, tem que fazer a nossa parte.

Eu quero mesmo é sustentar isso e que as pessoas gostem de mim por quem eu sou. Então, tenho trabalhado muito na minha imagem própria, sem me associar tanto à minha mãe. É inevitável que as outras pessoas façam essa associação, mas por minha parte, tenho muito desejo de construir uma imagem própria de quem eu sou.

Agora que o EP “Mania 2000” foi lançado, quais são seus planos futuros? Há algum projeto ou colaboração dos sonhos que você gostaria de realizar?

 Acho que isso é algo que eu não sei se consigo responder agora, mas muitas coisas boas estão a caminho. Vou continuar com todo amor e carinho do mundo, e com toda a qualidade que puder dar, assim como fiz com esse EP.

Tenho muitos pequenos projetos sendo feitos. Ainda não fiz nenhum show, mas já tenho datas que ainda não divulguei, mas daqui a pouco vão aparecer. Quanto a uma colaboração dos sonhos, acho que são muitas. Talvez colaborar com a galera mais antiga da MPB que ainda está por aqui. Isso seria incrível para mim.

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