Tiffany D. Jackson comenta criação de personagens confiantes e realistas
Conhecida por livros repletos de mistérios, a autora conversou com a CH e compartilhou como é desenvolver histórias para o público jovem adulto
Ainda na infância, Tiffany D. Jackson costumava pegar os livros de sua avó para se surpreender com reviravoltas e segredos das narrativas. Não demorou muito para que ela percebesse que seu próprio futuro estava na criação de outros mistérios impressionantes.
“Eu sempre fui uma amante dos livros. Sempre soube que queria ser uma escritora, desde que tinha 4 anos. Eu contava diferentes histórias para as pessoas e inventava coisas sozinha”, compartilhou Tiffany em conversa com a CH. A autora afirmou que sabia que o suspense estaria presente em tudo que criasse: “Sempre soube que esses eram os tipos de história que eu queria contar.”
Foi assim que ela começou a desenvolver personagens complexos e imperfeitos, algo que considera relevante para deixá-los mais realistas: “Eu acho que tem muito a ver com o fato de que todos temos problemas. E nenhum de nós é perfeito, então, se você faz personagens realistas, acho que eles se tornam mais identificáveis uns para os outros porque todos nós cometemos erros mas não somos definidos pelos nossos erros“, explicou.
“É muito importante ter personagens que tenham qualidades realistas com eles. Eu queria ter mais livros assim quando era mais nova, mostrando pessoas que deram passos em falso, que bagunçaram as coisas, que os pais não são indivíduos perfeitos e os personagens não são indivíduos perfeitos. Isso me faria sentir menos como se tivesse falhado ou como se estivesse estragando as coisas como adolescente”, ressaltou a autora, que escreve livros direcionados ao público jovem.
Tirando o peso da perfeição de seus personagens, ela vê uma maior chance para identificação mas sem deixar de lado a ideia de incentivar a busca por grandes objetivos: “Queria ter certeza que meus personagens não sejam sempre tão perfeitos e que eles tenham algumas falhas com eles, mas eles realmente são muito ambiciosos e resilientes. Todos estamos perseguindo algum sonho. Temos, obviamente, sonhos diferentes, mas todos estamos perseguindo algo.”
Ainda sobre os temas que busca abordar através de uma perspectiva jovem, Tiffany destacou como a saúde mental é algo que também gostaria de ver sendo mais trabalhando dentro da literatura: “Queria que existissem mais livros sobre saúde mental, sobre as formas como lidamos com isso, e que é uma coisa completamente normal para se passar“, disse. “Sinto que saberia como lidar com isso melhor se tivesse visto algo desse tipo.”
A escritora considera importante explicar mais sobre esse assunto, que não é visto com tanta frequência: “Quanto mais nos colocarmos no lugar dos outros, mais podemos ter compaixão pelas pessoas que estão passando por diferentes coisas”, apontou. Para ela, essa é a chave para adolescentes se tornarem adultos melhores no futuro, seguindo exemplos de grandes personalidades, ativistas e líderes: “[É] para eles [jovens] caminharem para serem os melhores tipos de adultos. Substituir todos os adultos que estão sendo um lixo! (risos).”
“Minha questão favorita para perguntar a mim mesma é: ‘E se?'”
Conhecida por reviravoltas impactantes em suas narrativas, Tiffany revelou que sabe onde quer chegar no fim da história mas não costuma pensar nas grandes mudanças de rumo até o terceiro ou quarto rascunho de seus títulos. “Minha questão favorita para perguntar a mim mesma é: ‘E se?’ Por exemplo: ‘E se essa pessoa fizesse isso ao invés, o que aconteceria?’ Então, esse é todo o início de como crio todas essas reviravoltas.”
E quem recebe informações sobre para onde a história poderia ter caminhado em outros cenários são outros autores amigos da escritora como Dhonielle Clayton, Justine Larbalestier e Nic Stone. “Às vezes, tenho uma faísca da ideia e digo: ‘Ok, se eu começar aqui, o que você acha?'”, contou ela, completando que sua agente também está muito presente no processo.
Enchanted
Ao citar essas introduções aos novos títulos, ela contou que o começo de Adulta, livro publicado no Brasil pela editora Rocco, é apresentado de sua forma favorita, no meio de um mistério de assassinato: “Ver a Enchanted acordando, tem um corpo, ela está coberta de sangue e, sabe, esse sentimentos de: ‘O que vai acontecer?’ Eu amo ler livros que começam basicamente com o assassinato de cara. Essa é a minha forma favorita de começar um livro”, destacou ela ao falar de sua protagonista em Adulta.
O livro traz elementos do movimento #MeToo com a história de Enchatend, uma jovem que sonha com alcançar o sucesso como cantora. Ela vê uma oportunidade para isso acontecer quando conhece Korey Fields, um grande produtor na indústria musical, mas logo tudo se transforma em pesadelo quando ela é envolvida em um universo de preconceitos, manipulações e um relacionamento abusivo.
“Tive a ideia porque aconteceram muitos casos similares ao que eu escrevo no livro, especialmente aqui nos Estados Unidos. Eu fiquei muito interessada em como as pessoas tentam culpar a vítima. Eles costumam olhar para as garotas e dizer: ‘Por que as meninas se colocaram nessa situação?’ E eu realmente odiei isso porque eu mesma estive em um relacionamento de idade inadequada quando estava no ensino médio, que é bem similar ao que Enchanted passou e não me coloquei nessa situação, na verdade, eu fiquei muito traumatizada”, destacou Tiffany.
A escritora ainda contou como é significativo ver a história sendo publicada no Brasil: “Quis escrever um livro que meio que desse a perspectiva, a perspectiva emocional do que um personagem passa na manipulação. E histórias como a da Enchanted e de Adulta acontecem ao redor do mundo inteiro.”
O cenário musical
“Primeiramente, eu não consigo cantar, nada! (risos)”, brincou a autora ao responder sobre a construção da indústria da música na narrativa. Para criação da ambientação, ela teve ajuda de amigos que estiveram envolvidos neste cenário por muitos anos e puderam dar dicas e informações sobre bastidores. “É exatamente assim que os livros são feitos. Nós, autores, precisamos entrevistar pessoas e perguntar para entender como algo funciona.”
Trabalhar a confiança de Enchanted como uma jovem cantora crescendo nesse universo foi algo essencial para Tiffany. “Ela era muito confiante consigo mesma. Ela era confiante em seu canto e no ritmo dela. Ela era uma adolescente muito confiante. Então, ela entra nesse relacionamento e muito dessa confiança começa a se rachar”, refletiu ela sobre a trajetória da protagonista.
“Senti que era muito importante mostrar [isso], porque muitas vezes você não vê muitas adolescentes confiantes em livros, mas eu sei que elas estão por aí e sei que já conversei e testemunhei muitas adolescentes ou pessoas jovens que sabem exatamente quem são e estão de cabeça erguida na verdade deles e amo isso neles”, disse a autora, ressaltando também que amava como a personagem era confiante em relação ao seu cabelo: “Antes, ela tinha um cabelo longo e o raspou. E ela é muito confiante com seu cabelo.”
The Weight of Blood
O livro mais recente de Tiffany se chama The Weight of Blood e a editora Rocco já confirmou o lançamento do título no Brasil. A história é um reconto de Carrie, do autor Stephen King e foi publicada em setembro do último ano nos Estados Unidos.
Além disso, a autora está trabalhando em mais um suspense: “Meu próximo thriller deve sair no ano que vem. Estou trabalhando nele, é o tipo de situação com um mistério de assassinato, de novo! Vão ter muitas coisas que envolvem jardinagem nesse livro e eu nunca fiz jardinagem antes, então, mais pesquisa para ser feita”, revelou.
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