Na teoria, um mundo com super-heróis parece tentador, não? Afinal, as coisas andam tão difíceis que só tendo mesmo uma força sobrehumana para aguentar. Mas você já se perguntou como seria essa realidade alternativa? Para nós, e para Eric Kripke, roteirista de The Boys, série de maior sucesso do Prime Video, terrível seria a melhor resposta.
Na manhã desta terça-feira (5), aconteceu em São Paulo a coletiva de imprensa com parte do elenco do seriado que veio para o Brasil divulgar o último episódio da 3ª temporada. Esse lúdico e irreal mundo composto por super-heróis foi uma das temáticas mais abordadas. Para Kripke, The Boys trabalha o mito do super-herói. “Eles são ótimas metáforas para as coisas que estão acontecendo neste mundo doido”, opina o roteirista.
Karl Urban, um dos protagonistas da trama na pele de Billy Butcher (Billy Brutinho para os íntimos), concorda e vai além: “Super-heróis não existem. Ninguém virá nos salvar e, se alguém prometer isso, está mentindo. Cabe a nósnos salvarmos e salvar o mundo. Cabe a nós questionar tudo isso também”.
Jack Quaid, que interpreta Hughie Campbell na série, acha que The Boys faz tanto sucesso porque “explora as hipocrisias e as brechas que existem nesse mundo de heróis”. E ele não precisa ser só o fictício, como bem lembra Claudia Doumit, a intérprete da congressista Victoria Neuman, uma política que usa seus poderes (tanto os sobrehumanos quanto os de influência) para alcançar seus objetios, mesmo que de maneiras bastante questionáveis. “Quando a gente coloca pessoas em um pedestal, isso nos afasta da realidade”, diz.
Por mais fantasiosa que a série do Prime Video pareça, ele é bastante real e atual, uma vez que usa as figuras dos SUPER e da Vought para fazer críticas sociais mais do que necessárias. “Nosso show traz à tona questões relevantes com humor, deixando tudo mais fácil de digerir”, fala Karen Fukuhara, que dá vida à personagem “Fêmea” da série, que na adaptação para as telinhas ganhou o nome de Kimico.
Jensen Ackles, que participou da 3ª temporada como o Soldier Boy, acredita que “o mundo precisa mais do que nunca da arte; e heróis são um grande escape para a realidade”. Mas o mito dos heróis justamente contribui para a construção dessas figuras e narrativas perfeitas e inalcançáveis, que existem também nas redes sociais – algo que a série também critica. “The Boys abordar esses locais mais obscuros do nosso hoje: a política, a internet… Mas oferecendo uma alternativa entre o bem vs. o mal. Afinal, ninguém é totalmente ruim ou totalmente bom”, opina Antony Starr, que dá vida a talvez um dos personagens mais odiosos e complexos da série, o Homelander (ou, se preferir, Capitão Pátria).
“Eu interpreto o homem mais forte do mundo, mas ao mesmo tempo o mais infantil e fraco”, explica o ator, que brincou dizendo que as caras e bocas do Homelander saem naturalmente. Claudia também fez aquela piadinha com fundo de verdade dizendo que, para interpretar a congressista Neuman, se inspirou em alguns políticos da vida real. Cof, cof!
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Aliás, The Boys é uma série recheada de personagens extremos e absurdos, mas o dia a dia e os sentimentos humanos continuam sendo a maior fonte de inspiração: “Mas nós temos que interpretar para além da realidade”, explica Jensen. “A gente ferra tudo na vida real e faz coisas das quais nos arrependemos depois. Por isso, há uma grande conexão entre a série e seus personagens e o público”, acredita Karl.
E se já é delicado dar vida a esses personagens tendo como ferramentas a voz e as reações faciais, imagina não ter nada disso ao seu dispor? É o caso de Black Noir, personagem interpretado por Nathan Mitchell, que usa um traje que cobre o corpo inteiro, inclusive o rosto.
Na coletiva, o ator explicou que trabalha quase que com o poder da mente para externalizar os sentimentos do SUPER. “Como eu poderia dizer isso com o meu corpo?”, é a pergunta que se fazia frequentemente.
Para Nathan, “ser heróis no mundo de The Boys é tentar fazer a coisa certa”, mesmo que nem sempre você tome decisões acertadas pelo caminho. Neste caso, a solução é fazer como a Kimico na 3ª temporada é renascer e descobrir mais sobre si mesmo.
E também fazer como o Butcher e o Hughie, e trabalhar no que pode ser melhorado. Por exemplo, Jack Quaid acredita que o V temporário ajudou seu personagem a externalizar e até eliminar a masculinidade tóxica internalizada nele. Já Karl acredita que, por mais que traumas tenham traçado a personalidade questionável de Billy Brutinho, “por mais deploráveis que sejam suas atitudes, você consegue entendê-las e sentir compaixão por ele”.
Depois de todos esses questionamentos, talvez a gente passe a acreditar que “seria um mundo terrível se super-heróis fossem reais”, como aponta Eric Kripke. Porque, muito possivelmente, inseridos em nossa sociedade, eles sucumbiriam a jogos de poder e ego, e se tornariam muito mais como os Seven do que como os astros da DC ou da Marvel. Ironias da vida, né? Kripke que o diga! Ele escreve a série de maior sucesso do Prime Video e até hoje não ganhou uma conta grátis na plataforma de streaming… Se ele tivesse superpoderes, talvez fosse querer resolver isso na base do raio laser. Rs!