O escândalo sexual envolvendo grandes nomes do K-pop e a decepção dos fãs
A polêmica revelou o esquema que envolve policiais, empresários e artistas sul-coreanos
Esta semana foi superconturbada para os kpoppers brasileiros, que já estavam angustiados esperando conseguir suas entradas para os únicos dois shows do boygroup BTS, que acontecerão no mês de maio na cidade de São Paulo. Contudo, do outro lado do mundo, onde nossos idols vivem, outra preocupação tomou das nossas mentes e corações.
A primeira faísca do escândalo aconteceu após Seungri – o integrante mais jovem do BigBang, um dos maiores e mais bem sucedidos grupos de K-pop da história – anunciar sua aposentadoria precoce do entretenimento. No topo de sua carreira e prestes a se alistar no serviço obrigatório do exército sul-coreano, o idol publicou, via Instagram, uma carta agradecendo seu público fiel, junto com um pedido desculpas, após seu nome estampar os jornais no último mês por supostamente ser um dos diretores da boate Burning Sun, acusada de aliciar garotas de programa e ser alvo de investigações sobre uso de drogas e abuso sexual no local. Na Coreia do Sul, a prostituição é uma atividade ilegal. Interrogado pela polícia em fevereiro de 2019, Lee Seung-hyun (seu nome verdadeiro) tentou defender sua inocência por dias, mas não foi o suficiente para que a polêmica chegasse ao fim.
“Agradeço aos meus fãs em casa e no exterior pelo amor ao longo dos últimos dez anos, do fundo do meu coração, mas por causa da reputação da YG e do Big Bang, acho que é aqui que terei que parar.” escreveu Seungri. A YG Entertainment, empresa responsável pelas atividades do cantor, também emitiu uma nota pedindo desculpas por não conseguir cuidar corretamente de seus idols. Em paralelo, uma nova controvérsia chegou à população: a rede de TV SBS denunciou, pouco tempo depois, outro cantor, o idol Jung Joon Young.
Jung teria gravado imagens e vídeos, sem permissão, de mulheres com quem manteve relações sexuais durante os últimos anos e compartilhado todo o material em um grupo privado no aplicativo de mensagem mais famoso da Coreia, o Kakao Talk. Anteriormente, o músico já havia sido acusado por uma ex-namorada de filmá-la durante momentos íntimos. Na época, o caso quase não foi divulgado pela mídia e acabou sendo encerrado.
As histórias se tornaram uma só com a notícia de que Seungri também era membro do grupo secreto em que Jung compartilhava os conteúdos impróprios. Este novo capítulo das investigações provou que JJY era um dos cabeças de todo o chat e havia compartilhado um registro mínimo de 10 ocasiões.
No dia 13, Jung Joon Young publicou uma carta aberta assumindo de vez sua culpa e envolvimento no chat: “Escrevo para vocês com vergonha e culpa. Eu, Jung Joon Young, mais uma vez me dei conta da seriedade da situação após retornar para a Coreia no dia 12 de março. Embora já seja tarde, me desculpo através dessa carta com todas as pessoas que demonstraram interesse em mim e me deram uma segunda chance. Com relação ao que está sendo dito sobre mim, admito todos os meus crimes. Filmei mulheres sem seus consentimentos e compartilhei em um chat de mídia social e, enquanto fiz isso, não senti uma grande sensação de culpa. Como uma pessoa pública, foi um ato antiético e digno de críticas, e também uma ação impensada”, diz um trecho da publicação.
“Estou me retirando de todos os programas que estava aparecendo e irei suspender todas as minhas atividades na indústria do entretenimento. Abandonarei todas as atividades como pessoa pública que não sejam uma autorreflexão, e refletirei pelo resto da vida sobre minhas ações imorais e ilegais relacionadas aos crimes” completou o cantor.
Jung era líder e vocalista da banda de rock Drug Restaurant e se comprometeu a ajudar nas investigações que começaram em 14 de março.
A exposição das trocas de mensagem também levantou novas acusações sobre a identidade dos demais envolvidos no chat. Os fãs e a mídia coreana começaram e buscar material com possíveis relações de outros artistas com Jung e Seungri. Em 2016, o rapper Zico comentou, durante sua participação no programa Radio Star, que Joon Young tinha um “telefone dourado” que continha vários contatos importantes e que era usado apenas para troca de mensagens. Com o conteúdo retornando à tona nesta semana, Zico se pronunciou duramente sobre acusações que pudessem envolver seu nome aos crimes cometidos pelo grupo e alegou não saber sobre a existência do chat em nenhum momento.
Yong Junhyung, integrante da boy band Highlight, foi o terceiro idol a confessar sua co-participação. O jovem de 29 anos, ex-Beast, afirmou ter visto imagens de relações sexuais do cantor Jung Joon Young filmadas sem o consentimento e enviadas para o grupo. O cantor, que também é ator de dramas, anunciou a saída da agência Around Us Entertainment.
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“Participei de conversas inapropriadas sobre isso. Todas essas ações foram muito imorais e eu fui tolo. Eu o tratei como um grande negócio sem pensar que é um crime ou um ato ilegal. Também é minha culpa por não ter restringindo Jung Joon Young firmemente por fazer aquilo” declarou Junhyung.
O astro concluiu seu pedido de desculpas comentando que já colaborou sem mentiras com a polícia e que se sentiu horrorizado quando teve acesso às mensagens que trocou no passado. O idol lamentou não ter conseguido retribuir o amor enviado pelos seus fãs e ter traído a confiança dos ex-membros e colegas de grupo que se orgulhavam tanto dele. Quando a rede SBS levantou o nome de Yong na TV, a empresa Around Us emitiu nota esclarecendo que o idol não estaria envolvido no caso e apenas tinha conhecimento dos atos de Jung Joon Young.
Após três artistas se declararem culpados pelo envio e troca de conteúdos sexuais abusivos, um novo artista muito conhecido entre os kpoppers foi exposto: Choi Jong Hoon, que atuava na banda FTISLAND. Sua agência, FNC Entertainment, compartilhou com o público a declaração de que o artista também é alvo das acusações e está deixando sua carreira para que consiga refletir e responder por suas ações ilegais.
“Choi Jong Hoon vai parar suas atividades e viver enquanto reflete sobre si mesmo. A agência também não pode evitar a responsabilidade com relação às palavras e ações de Choi Jong Hoon, que não devem ser perdoadas pela sociedade, de modo que iremos guiá-lo até o fim para que consiga viver novamente como um membro correto da sociedade. A FNC Entertainment mais uma vez promete ser mais rigorosa em nossa gestão e educação para todos os artistas. Nós pedimos sinceras desculpas.”
Enquanto a polícia continuava sua investigação sobre os integrantes do grupo no Kakao Talk, conversas vazadas pela SBS revelaram que Lee Jong Hyun, da banda CNBLUE, também recebeu conteúdos do bate-papo e trocou mensagens horríveis com Jung Joon Young, em que falava sobre mulheres como se fossem objetos. Lee atualmente está em serviço militar, ele é o guitarrista da banda e figura pública muito conhecida no país.
Todas as investigações tomaram forma através de uma repórter, Kang Kyung-Yoon. A jornalista da SBS foi a primeira a levantar provas sobre o chat, em fevereiro. Todas as vítimas, em sua maioria mulheres na faixas dos 20 anos, não sabiam sobre a existência dos vídeos. “Recebo e-mails de ódio de alguns fãs que ainda apoiam suas estrelas. Mas espero que eles entendam que isso é um crime sexual sério e que há vítimas”, disse a jornalista durante um debate. Kang disse também que entrou em contato com boa parte das mulheres assediadas e que, em 100% dos casos, o sentimento de culpa e vergonha são mais fortes que o sentimento de obter justiça.
Kang promete continuar investigando as ações do grupo e que isto se tornou uma questão séria para a sociedade sul-coreana. “Muitas estrelas do K-pop ganharam dinheiro e poder nos últimos anos, mas alguns deles estão usando sua reputação para abusar de mulheres ou causar outros problemas sociais” concluiu.
O uso de câmeras escondidas para registrar mulheres secretamente em lugares públicos ou momentos íntimos tem sido frequente na Ásia. Chamado como “molka” ou “pornografia de vingança”, o movimento é conduzido por homens que publicam vídeos de suas parceiras e ex-amantes para se vingarem. Milhares de mulheres já se manifestaram contra o molka, mas a justiça no país ainda não abriu devidamente os olhos sobre o movimento.
O K-pop, que vem alcançando dominação global nos últimos anos, enfrenta agora um novo inimigo. Os recentes escândalos revelam o lado obscuro e triste da indústria de entretenimento. As produções sul-coreanas são extremamente populares e consumidas dentro e fora da Ásia, mas a postura por trás dos holofotes expõe uma sociedade de abusos contra mulheres e reflete um problema social ainda maior, a desigualdade de gênero e a misoginia.
O escândalo sexual que afeta diretamente o ritmo favorito do momento já tomou enormes proporções e escancarou toda uma rede de corrupção que envolve policiais, políticos, empresários e grandes artistas sul-coreanos. O público coreano também vem alertando para que os fãs internacionais parem de apoiar e persistir sobre a inocência dos idols já expostos que estão envolvidos na polêmica. Seungri, Jung Joon Young, Yong Junhyung, Choi Jong Hoon, Lee Jong Hyun e todos os demais envolvidos merecem ser punidos por seus crimes.
Devemos torcer pelo crescimento e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres. Dê suporte a todas elas, as respeite e lute para que as luzes do palco jamais se acendam novamente para esses homens – que, além de nos decepcionar, não são dignos de serem classificados como “idol”.