My Lady Jane critica história inglesa ao reescrever caso real da monarquia
Apoiada no humor ácido, a série da Prime Video ironizou e criticou comportamentos machistas do período de monarquia absolutista
que teria acontecido se Lady Jane Grey não tivesse morrido 9 dias após ser coroada rainha? É essa a reflexão de My Lady Jane, a mais nova série da Prime Video baseada no livro de mesmo nome escrito por Jodi Meadows, Brodi Ashton e Cynthia Hand. A produção estrelada por Emily Bader aborda um possível novo desfecho para uma história real do passado da dinastia Tudor, recordando quando a jovem foi executada por traição logo após assumir o trono.
A showrunner Gemma Burgess teve seu primeiro contato com o livro que inspirou a série quando viu uma jovem o lendo no metrô de Nova York. “Quando li, me apaixonei pela história. Eu me apaixonei pelo livro e logo percebi que daria uma ótima série”, revelou ela em entrevista exclusiva à CAPRICHO.
“Meredith [Glynn] e eu ficamos obcecadas pelo livro mas também éramos obcecadas pela Lady Jane Grey quando éramos adolescentes e fizeram o filme com a Helena Bonham Carter e Cary Elwes. Na época, achamos tudo muito romântico mas, na medida em que ficamos mais velhas, olhamos para história novamente e pensamos: ‘Bem, na verdade é bem errado‘”, continuou Burgess. Ela refletiu que Jane era uma mulher inteligente, mas que foi peça política para sua família, sem poder opinar sobre seu próprio destino: “Foi aí que pensamos que seria uma boa oportunidade de recriar a história dela.“
Na vida real, Lady Jane Grey foi uma jovem nobre que assumiu o trono da Inglaterra após a morte do rei Edward VI em 1554. Ela foi a primeira mulher a assumir o trono, mas seu reinado não durou muito tempo. Logo após receber a coroa, as movimentações políticas de Mary Tudor, que era fortemente apoiada popularmente, fizeram com que a jovem rainha perdesse todos os aliados e fosse acusada de traição. Ela foi trancada na Torre de Londres e executada 9 dias após receber a coroa.
Na série, as coisas ganham uma nova perspectiva. Lady Jane continua sendo uma jovem inteligente e empática, mas sua determinação e resiliência chegam como uma nova camada para sua sobrevivência. Além disso, o toque de fantasia e romance incrementam a narrativa que ironiza comportamentos machistas com toques de humor ácido.
Para Anna Chancellor, que vive Lady Frances, mãe de Jane, foi interessante recontar eventos tão impactantes do passado inglês: “É a nossa história. Nós, mulheres, éramos reprimidas de uma forma aterrorizante. Então, agora temos esse roteiro que nos liberta dessa forma de narrativa e está reescrevendo a história de uma maneira nova e positiva. Eu acho que isso é empolgante.”
Recontar uma história já existente abriu espaço para que a produção entregasse algumas reviravoltas, algo que deixou Rob Brydon, que interpreta Lord Dudley, animado desde o início. “Eu amei a forma que o roteiro sempre me surpreendia na medida em que eu virava para próxima página”, compartilhou ele. Kate O’Flynn, que vive a princesa Mary, comprovou a fala do ator ao revelar que passou pela mesma sensação.
“Quando li o roteiro, tinha uma surpresa em cada página. Eu não tinha ideia de qual rumo iria seguir e não conseguia adivinhar. Eu amei isso. E também a ousadia e o humor da história”, acrescentou a atriz. A personagem de O’Flynn é marcada como a grande vilã que representa um grande perigo ao se tornar a oposição à ascensão de Lady Jane ao trono.
Mary não consegue esconder. Ela é emocionalmente volátil. Ela não consegue regular isso. Ela se sente no direito e é muito explosiva.
Kate O'Flynn sobre sua vilã em My Lady Jane
Outra grande mudança veio na linha do tempo do rei Edward, vivido por Jordan Peters. O ator teve a chance de expandir a história do monarca, que envolve auto descobertas, aventuras e romance. “É uma jornada que ele teve que passar, mesmo que a forma como ele embarcou nisso não seja a ideal”, brincou o ator entre risos para esconder o possível spoiler.
“No fundo, ele gostou que algo diferente tenha acontecido na vida dele, algo empolgante. E é a primeira vez que ele não está doente. Ele consegue lutar, ele se apaixona por esse lindo rapaz, ele conhece a avó. É uma jornada maluca que adorei interpretar nas telas“, completou Peters.
O toque de fantasia foi adicionado com a presença de seres chamados Ethians, que são apresentados como humanos que têm a habilidade de se transformar em animais e que são perseguidos pela realeza. Máiréad Tyers faz parte do grupo como Susannah, a melhor amiga de Lady Jane. A atriz revelou que a amizade foi mantida fora das telas e que as duas dividiram cenas desde o início das filmagens, algo que fortaleceu ainda mais o laço entre elas.
“Teve tanta coisa do primeiro ao último dia de gravação. Nós crescemos tanto como atrizes nesse projeto”, relembrou ela. “Tivemos esse tempo compartilhado e acho que nos conectamos também pelo fato de que nós duas estávamos apavoradas naquele primeiro dia [risos] e nós ajudamos nisso“, disse.
A personagem de Tyers também traz um ponto de vista significativo ao relatar seu passado como Ethian em paralelo com o lado mais rebelde e desafiador que ela desenvolve no decorrer dos episódios. “Acho que é um sentimento universal para as pessoas, essa coisa de sentir uma pressão, ter algo diferente, que faz com que eles sejam rejeitados em uma sociedade em que precisam se esconder e esconder o fato de que são diferentes.”
Gostei muito de interpretar uma personagem que é rebelde, muito feminista e que queria ir contra a corrente.
– Máiréad Tyers sobre seu papel em My Lady Jane
“Acho que quando ela e a Jane eram mais novas, quando a Susannah ainda estava trabalhando para ela, elas teriam compartilhado dessas crenças juntas porque você consegue perceber o quanto Jane é feminista e o quão frustrada ela está por crescer nesse ambiente patriarcal, ela quer se libertar disso. Acho que minha personagem consegue fazer isso antes da Jane por conta de sua posição na sociedade, o que torna isso um pouco mais difícil para ela”, completou a atriz.
My Lady Jane está disponível na Prime Video.
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