Euphoria chegou à HBO há duas semanas e já está dando o que falar, seja por mostrar explicitamente o alto consumo de drogas entre os adolescentes ou por trazer cenas de nudez com mais de 30 pênis de uma vez só. Mas a verdade é que, polêmicas à parte, a série trata de assuntos muito importantes como sexualidade, masculinidade tóxica, violência e a importância da amizade.
Os atores Jacob Elordi e Alexa Demie, que interpretam o casal problemático formado por Nate e Maddy, conversaram com a gente sobre as dificuldades de seus personagens, a importância de conteúdos diretões como Euphoria e a relação com o resto do elenco. Vem ver!
CH: O que mais chamou a atenção de vocês na série?
ALEXA DEMIE: Nós atores lemos muitos roteiros, mas eu nunca me senti tão empolgada ao ler algo, e li esse tão rápido! Sam Levinson [o criador e diretor da série] é tão incrível ao descrever o mundo. Me apaixonei por cada um dos personagens. Quando eu realmente quero alguma coisa, eu sei e sinto isso. Foi o que senti quando li este roteiro. Eu queria ler mais e mais, o que não é muito comum.
JACOB ELORDI: Geralmente tem a regra das 20 páginas! Acho que funciona meio parecido para todo mundo. Essa série se sobressai. No momento em que entrei na sala de audição, tinha essa coisa no ar que continuou com a gente durante as filmagens, uma espécie de energia.
CH: O que diferencia essa de outras séries dramáticas que retratam a vida adolescente?
ALEXA: Visualmente nós nunca assistimos a algo assim em uma série adolescente antes, é impressionante. Os seriados adolescentes que eu vi eram meio difíceis de se identificar, eu ficava tipo, “não conheço ninguém que age dessa maneira”. Era como se alguém imaginasse uma situação e criasse essa coisa que não tem absolutamente nada a ver. Euphoria é muito pé no chão, crua e real, e por isso é muito fácil de se identificar com ela, não apenas para os adolescentes, mas provavelmente para os adultos também.
JACOB: Minha experiência no Ensino Médio não foi nada parecida com a dessa série, mas mesmo assim não achamos ela impressionante ou chocante. Talvez diga isso porque eu estou vivendo e fazendo a série, mas acho que se você parasse em cada casa de família em qualquer cidade do mundo veria rapidamente que isso não é tão estranho quanto parece. Muitas vezes os criados acabam entrando fundo em apenas um aspecto, mas negócio do Sam é que ele aborta todos eles. De desenhar o figurino ao som, cada detalhe da história foi pensado por ele.
CH: Deve ser bom trabalhar com um diretor que é tão colaborativo…
JACOB: Ele estava sempre ponto para te ouvir. Ele escutava nossas conversas e daí a gente recebia o roteiro e via que tinha algo que dissemos lá. Às vezes a gente ficava tipo: “Sam, essa fala!” e ele respondia: “mude para o que você quiser”. Nunca pareceu como se ele não se importasse. Ele simplesmente confiou na gente.
ALEXA: Ele olhou nossas contas no Instagram antes de nos contratar. Ele queria que meu cabelo fosse longo e ondulado como em uma foto que eu postei. No fim acabamos não fazendo isso, mas ele super se envolveu. Eu me senti livre para opinar sobre o figurino e a maquiagem e até apresentei para ele alguns quadros de referência. Eu mandei para ele algumas ideias de músicas e ele as colocou na série. Ele é tão aberto e é incrível trabalhar com ele. Sam criou esse mundo e nos colocou dentro dele, e agora virou nosso mundo.
CH: O que podem nos contar sobre seus personagens?
JACOB: É difícil descrever o Nate como um personagem atípico. Ele está lidando com sua masculinidade, sua sexualidade e está apenas sendo um ser humano. Socialmente ele ficou fora do espectro, então a maneira com a qual ele reage a tudo é distorcida, violenta e obscura. O pai dele manda na cidade e é dono de todos os prédios. É uma figura de masculinidade e dá ao Nate esses discursos noturnos sobre como ele deveria agir ou sentir. São coisas do tipo “não deixe que ninguém te veja para baixo”. Ele [Nate] não consegue dizer como deveria ser como um homem, então luta contra o desejo de que pode ser qualquer coisa por causa dessa ideia ultramasculina que seu pai impõe. Nate está profundamente confuso e com medo o tempo todo, então eu sempre tenho que fechar o pulso e cerrar os dentes.
ALEXA: A Maddy é extremamente confiante com sua aparência e ela arrasa nesse quesito. Seu cabelo, sua maquiagem e seu closet são realmente pensados e detalhados. Nós não vemos muito da família dela, mas quando vemos percebemos porque ela está nesse relacionamento tão volátil com o Nate. Os pais dela não se falam nem dormem na mesma cama, eles estão realmente desconectados. A mãe dela nem sabe direito o que está acontecendo no mundo dela. É obscuro e maçante para ela, e ela fará qualquer coisa para escapar dessa realidade. A Maddy está escondendo muita dor e sofrimento pelos quais ela passou quando criança, e acho que é por causa disso, em parte, que ela usa tanta maquiagem e todos aqueles looks.
CH: E o quanto você se relaciona com ela?
ALEXA: Não tanto na questão do relacionamento volátil, mas tive amigos que passaram por relacionamentos como esse e pude ajudá-los. Eu consigo me relacionar por causa das coisas que vi e ouvi. Todo aquele sexo e promiscuidade? Eu sou o oposto dela! Na verdade tive um ataque de pânico outro dia no set. Às vezes temos que nos lembrar de que estamos trabalhando e precisamos ter compaixão pelo personagem e porque ele está fazendo essas coisas. Eu gosto de ser tirada da minha zona de conforto e isso aconteceu bastante com a Maddy. Eu sempre pensava: “estou fora da minha zona e isso é bom”. Com o relacionamento de Maddy e Nate e toda a emoção e a fisicalidade dele, Jacob e eu tentamos nos conectar de outras maneiras para ter certeza de que esse seria um espaço seguro para nós dois.
CH: Quais foram as vantagens de fazer parte de um elenco predominantemente jovem?
ALEXA: Foi muito divertido. Todos nos demos bem instantaneamente, e sempre saíamos depois das gravações. Em parte isso me salvou de ir parar em um lugar mais obscuro, porque quando eu não estava filmando nós nos reuníamos no nosso QG. Estávamos sempre lá um para o outro e fazíamos de tudo para que todos estivessem ok o tempo todo. Acho que todos choramos [quando as gravações acabaram], incluindo o Sam.
JACOB: Com todos esses jovens em um único lugar as coisas podem ficar ruins ou azedar, mas isso nunca aconteceu, nenhuma vez. Houve tantas vezes em que descansávamos a cabeça um no outro. Nós gravamos por quase um ano, então aquilo era nossa vida. Foi meio chato quando acabou e tivemos um sentimento dividido. Nós sentimos como se algo ótimo tivesse acabado de acontecer e, mesmo que não tivesse, no fim do dia o que aconteceu com todos nós enquanto estávamos fazendo essa série foi verdadeiramente de mudar a vida.