Conheça ‘A Herança dos Fantasmas’, romance afrofuturista de Rivers Solomon
Se você gosta de Octavia Butler, Ursula K. Le Guin e Samuel R. Delany, gostaria de te apresentar Rivers Solomon e seu romance de estreia
Com uma narrativa original que mescla elementos de ficção científica e comentário social, o romance de estreia de Rivers Solomon, ‘A herança dos Fantasmas’*, chegou pela primeira vez ao Brasil neste mês – e nós precisamos falar sobre ele. Apesar de se passar em um cenário futurístico, a obra espelha muito da nossa realidade.
Para quem ainda não conhece, Rivers é um uma pessoa não binária e um expoente contemporâneo do afrofuturismo. Elu tem formação em Estudos Comparados em Raça e Etnia pela Universidade Stanford e mestrado em Escrita Criativa pela Universidade do Texas.
Em “A herança dos Fantasmas”, traz uma história com personagens diversos e grande representatividade queer, conquistando sucesso do público e da crítica. O livro foi finalista dos prêmios Lambda, Hurston/Wright, an Other (anteriormente Tiptree) e Locus.
Escrevo para agradar meus leitores. Escrevo para entretê-los e comovê-los. Espero que, pelo menos numa escala individual, o meu trabalho possa ser um bálsamo para aqueles que sofrem, como muitos trabalhos escritos foram para mim.
River Solomon
Elu nos apresenta um cenário em que a humanidade perdeu seu lar e agora habita, há gerações, a nave Matilda, que tenta levar o que restou dos seres humanos para uma Terra Prometida. A realidade imposta nessa nave separa pessoas de acordo com a letra do alfabeto: quanto mais letras, mais desigual essa sociedade é. Nesse cenário, a escravidão e a segregação racial têm ainda menos rotas de fugas. E a opressão sofrida pelos habitantes dos convés inferiores é de embrulhar o estômago.
O pior é que isso sempre aconteceu na nossa realidade. Não é ficção. Pessoas jogadas à margem por outras pessoas que se sentem superiores, que acham que sabem mais e levam outras centenas de pessoas a enxergar, de maneira completamente distorcida, o que elas querem que enxerguem.
Uma protagonista que não é forte apenas por ser, mas porque precisa
Em uma comunidade empobrecida no deque inferior da nave, vive de modo insalubre, Aster, que vai protagonizar a história e nos trazer uma série de emoções. Trata-se daquela pessoa que cuida de todos à sua volta, pensa sempre no coletivo e nunca apenas nela mesma, sabe? Ela divide as páginas com outros personagens tão bem escritos que parecem tão reais.
Tudo vira de ponta cabeça quando Aster começa uma jornada de procurar respostas sobre a morte de sua mãe, e, quando começa a decifrar seus diários, ela entende que sua realidade pode ser mais do que aquilo que contaram a ela.
Rivers Solomon escreveu um livro tão complexo e genial, de uma forma tão simples e entendível, que certamente deixará sua marca. Uma leitura fluida apesar de dolorosa, em que torcemos pelos personagens, que ficamos com vontade de entrar na narrativa (mesmo sendo da forma que é).
Na última página, a história não acaba. Escaneando o QR Code disponível, o link te leva para a Órbita, a plataforma de conteúdo expandido dos livros da Aleph que se aprofunda ainda mais na narrativa. Vale muito a pena!
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