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Blog da Galera: Jogos Vorazes e a ascensão de governos autoritários

'A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes' explica a construção do sistema opressor de Panem, ao passo que critica governos autoritários do mundo real

Por BLOG DA GALERA Atualizado em 17 jan 2024, 12h54 - Publicado em 11 jan 2024, 12h39
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Barbara Marcantonio/CAPRICHO

Oi, gente! Bê da Galera Capricho aqui! Hoje decidi falar um pouco sobre uma saga que vive no meu coração: Jogos Vorazes. Como o novo filme estrelou recentemente, trouxe um pouco da minha análise dessa obra. Espero que gostem!

Inicialmente, sabe-se que a arte é nada mais que a observação e interpretação humana da realidade ao redor. Sendo assim, cada artista tem sua visão subjetiva sobre o mundo. Os romances de Suzanne Collins (Amazon, R$ 240*), por exemplo, traduzem a inquietante realidade marcada pela ascensão de governos autoritários ao redor do Planeta, desafiando as fronteiras entre a imaginação literária e a complexidade do cenário geopolítico contemporâneo.

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E não poderia ser diferente nas adaptações cinematográficas das obras da autora, dessa vez estreando o sucesso ‘A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes’. Lançado em 15 de junho de 2020, o livro homônimo narra a juventude do futuro presidente de Panem, Coriolanus Snow, em sua jornada como mentor de uma tributo da 10ª edição dos jogos, Lucy Gray. O foco é acompanhar o desabrochar de Snow enquanto a figura ditatorial, ambiciosa e maléfica que é. Por se passar antes da revolução de Katniss Everdeen, a narrativa traz explicações interessantes acerca da construção e do funcionamento da sociedade pavimentada na trilogia principal. 

A perspicácia de Collins surge, justamente, de sua habilidade em encontrar o momento certo para colocar as discussões sobre domínio e poder em pauta. Logo em 2008, ano de crise econômica global e crescimento da desconfiança de instituições democráticas, por meio do personagem Snow, a autora estabeleceu a máxima: “Esperança é a única coisa mais forte que o medo. Um pouco de esperança é eficaz, muita esperança é perigoso. Faíscas são boas enquanto são contidas.”

Sob esse viés, a citação vinda do primeiro livro da saga expõe uma das principais lógicas por trás de discursos extremistas – muitas vezes pautados no fundamentalismo e nacionalismo – que é dar a um povo desesperado algo em que acreditar, quase uma luz no fim do túnel, por mais que esse “algo” possa passar por cima inclusive de questões humanitárias. No entanto, deve-se cuidar para que esses indivíduos acreditem em um futuro melhor, mas não o suficiente ao ponto de questionarem o próprio sistema em que estão inseridos.

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Nesse contexto, nota-se que o mecanismo de alienação é um fator primordial para a existência dos governos autoritários, esse que precisa ser constantemente repensado para não possibilitar a chegada ao patamar de nenhuma esperança, ou ao de “esperança demais”, ou seja, à uma revolução. Isso fica visível com as propostas do jovem Coriolanus para a até então coordenadora dos jogos, Dra. Volumnia Gaul, e, posteriormente, na forma com que ele recondiciona a imagem desse evento, tornando-o um verdadeiro espetáculo, enquanto distrai o público de parte da frieza dessa tradição.

Poder, manipulação e autoritarismo

Em “A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”, Suzanne Collins busca aprofundar esses questionamentos, debatendo a síntese da organização social humana a partir da percepção filosófica da relação humana com a disputa por poder. Acerca disso, apoia-se na visão de Hobbes sobre o Estado de Natureza, a qual defende uma perspectiva de que o homem é naturalmente mau, é o predador do próprio homem, necessitando da privação regulatória e contratual da liberdade por meio de um Estado, a fim de evitar uma guerra de todos contra todos. Entretanto, como é visto no universo de Panem, essa justificativa pode ser facilmente manipulada em prol de um controle de massas, utilizando-se da propaganda e, principalmente, repressão, termos que se traduzem na criação e manutenção dos jogos.

O ato de selecionar jovens com o fito de proporcionar um grande massacre anualmente diz mais do que apenas proporcionar entretenimento, à maneira Pão e Circo, é a forma que a Capital (representação da elite na história) encontrou de deixar claro aos distritos sua força e impunidade perante a eles. É mais que uma lembrança da derrocada da rebelião, torna-se uma ferramenta de humilhação e contestação dos limites morais daqueles que já são obrigados a viver na miséria, mesmo que de forma mascarada. Antes de tudo, é a demonstração obrigatória do Estado de Natureza: “Percebe o quão rápido nos tornamos predadores? Percebe como a civilização desaparece num instante?”, disse Snow, em ‘Jogos Vorazes: A Esperança’.

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Já em 2020, com a retomada da ascensão de grupos políticos autoritários, a nova obra de Collins retoma a atenção das pessoas para os perigos advindos de tais posicionamentos. Ocorre que, ao espelhar os acontecimentos mundanos à distopia voraz, percebe-se que os horrores latentes ali, na verdade, não estão nada distantes do que já acontece na realidade, e, tanto a capital, quanto Snow, são uma grande metáfora para a pequena classe social que se beneficia com a desigualdade, a mesma que tenta a todo custo manter uma ideologia capaz de fazer os cidadãos lutarem ao lado dos que os exploram, através, justamente, dos discursos radicais.

Enfim, em 2023, a chegada dessa história como longa-metragem aos cinemas amplia a visibilidade da obra no geral e instiga os telespectadores a fazerem conexões com fatos atuais, o que pode ser visto em diversos conteúdos publicados na internet:

@timfmachado

E esse paralelo aí, eim! #jogosvorazes #Reaper #katniss #acantigadospassarosedasserpentes #literatura #filmtokbrasil #coriolanussnow #booktoker #BookTok #booktokbrasil #hungergames

♬ Can’t Catch Me Now – from The Hunger Games: The Ballad of Songbirds & Snakes – Olivia Rodrigo

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@viquevic

A evolução da moda na Capital de Panem em Jogos Vorazes!! #recessioncore #hungergames #jogosvorazes #thg #thehungergames #tbosas #theballadofsongbirdsandsnakes #acantigadospassarosedasserpentes

♬ som original – dra vique

 

 

E aí, será que Jogos Vorazes é tão distópico assim?

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