Allie X evoca o New wave e o Pop-punk dos anos 80 em ‘Girl With No Face’
Em entrevista exclusiva para a CAPRICHO, a cantora revelou detalhes sobre o processo criativo do álbum e como foi trabalhar com artistas brasileiros
oje em dia, é difícil encontrar um artista que consiga fazer parte de todos os processos de um projeto musical e, muito menos, alguém que consiga fazer toda a produção de um álbum sozinho. Lançado em 23 de fevereiro de 2024, o álbum Girl With No Face tem sido considerado um pop-perfection e um dos melhores lançamentos do ano até agora. Isso porque o disco traz letras sensíveis, sintetizadores e batidas característicos do new wave e do pop-punk britânico dos anos 1980, e os vocais extensos de Allie X, artista que assina todas as partes da produção do disco.
Em entrevista exclusiva para a CAPRICHO, a cantora revelou como foi o processo criativo para compor e produzir um disco inteiro sozinha. “Foram muitas tentativas e erros. Eu tentei muitas coisas até descobrir como seria. Então, eu fiquei muito frustrada e tive vontade de bater a cabeça na parede tentando descobrir como fazer várias coisas técnicas“, compartilhou Allie X. “Foi muita libertação emocional e, liricamente, foi muito fácil. As letras saíram de mim com muita naturalidade.”
Na indústria musical, há cerca de 10 anos, Allie X é uma das artistas mais perspicazes da atualidade e escreveu diversas músicas que se tornaram sucessos nas vozes de outros nomes, como Troye Siven e BTS.
Sua discografia contava com quatro discos: Collxtion I, de 2015, CollXtion II, de 2017, Super Sunset, de 2018 e Cape God, de 2020. Após quatro anos sem lançar um novo projeto, Allie começou uma nova era em 2024 com seu álbum mais maduro até então, Girl With No Face, em que continua mostrando como seu paladar visual e sonoro é extremamente ousado e autêntico.
Eu gosto de usar os recursos visuais para criar uma versão mais ousada e estendida do que eu tenho dentro de mim. Uma versão mais forte, mais corajosa e talvez mais intimidante de mim. Acho que a moda é uma maneira realmente eficaz de fazer isso
Allie X sobre sua estética visual
Girl With No Face é uma verdadeira viagem sobre amadurecimento, isso fica cada vez mais evidente quando colocamos a música que inicia o álbum, Weird World, ao lado da faixa de encerramento, Truly Dreams. Na primeira, encontramos uma composição com uma visão pessimista e cansada sobre o mundo. Allie começa o disco dizendo que não quer mais sonhar, para não se machucar em um mundo cruel em que está tentando tornar os sonhos em realidade. A jornada do álbum nos leva para a última coisa, em que Allie diz que vai, sim, continuar sonhando porque, no fim, sonhar e ter esperança é o que a deixa viva.
“Acho que ‘Weird World‘, a primeira faixa do álbum, é sobre dizer adeus à inocência e a uma certa forma de ver o mundo. E acho que à medida que o álbum avança, eu vou aprendendo a ver o mundo de uma maneira diferente e, no final, estou pronta para sonhar novamente, mas de uma forma diferente do que estava acostumada antes.”
O primeiro single lançado dessa nova era foi Black Eye, uma faixa dramática que mostra Allie tentando criar um reflexo verdadeiro de si mesma em um mundo estranho. Depois foi a vez de Off With Her Tits, uma canção animada, cheia de nuances e com uma sonoridade totalmente inspirada no new wave britânico dos anos 1980. Inclusive, Allie revelou que esse é o seu gênero musical favorito no momento e que tem pesquisado muito sobre seu contexto.
“Meus discos favoritos foram feitos assistindo documentários sobre esse tema [surgimento do new wave e do pop punk]. Então foi muito agradável, eu senti que estava me entregando musicalmente e sonoramente a esse disco.”
Off With Her Tits se tornou um viral nas redes sociais e quem se jogou ao som da música e ajudou o hit a se tornar popular no Brasil foi a drag queen maranhense, Frimes, que foi notada pela própria Allie X. Mais tarde, a cantora confirmou um remix da música Black Eye com ela e, os também brasileiros, Tolentino e FUSO!.
Sobre colaborar com os artistas brasileiros, Allie compartilhou que foi uma experiência divertida: “Foi um processo mais rápido, diferente do álbum. Eu já conhecia o Tolentino há algum tempo e vi, obviamente, o vídeo da Frimes dançando Off With Her Tits com os peitos dela, o que foi muito divertido. E então ouvi o remix e achei que parecia legal. Eu disse: ‘Sim, vamos em frente e vamos lançar.'”
Em material compartilhada à imprensa, Tolentino expressou: “Há poucos artistas que considero na minha lista de heróis, e Allie X está definitivamente no topo lá. É muito especial ser reconhecido por ela, principalmente quando estamos criando um som que é característica da cena queer brasileira e trazê-la para o universo de alguém que
manipula o pop tão magicamente quanto Allie X.”
Para Frimes, foi “incrível ter tido a oportunidade colaborar com alguém que tanto admiro. É muito generoso da parte de Allie por nos deixar fazer isso. Agora eu sou contando com todos os meus fãs para transmitir essa faixa para que possamos lançá-la no Spotify também.”
Outra faixa que se tornou uma das favoritas dos fãs é Galina, que foi inspirada em uma pessoa real que Allie conheceu em uma clínica naturopata em Toronto, onde a cantora foi realizar o tratamento de um eczema muito grave que ela tem na parte interna dos cotovelos. Galina é uma idosa russa que, por anos, fazia um creme caseiro para ajudar nos sintomas da doença.
A ideia de fazer uma música sobre Galina surgiu após Allie descobrir que ela havia se aposentado no verão de 2022 sem deixar a receita do medicamento com alguém. “Eu estava doente naquele ano e estava voltando para gravar. Acho que a primeira coisa que pensei no início do processo criativo foi uma frase que nem chegou a ser gravada. Era um riff e então coloquei isso na cabeça. Lembro que gravei enquanto estava no elevador.”
Escute Girl With No Face:
Confira a entrevista com Allie X na íntegra:
Você comentou que este disco foi o resultado de “descobrir o que acontece quando você se tranca em um quarto e tenta fazer um disco sem ninguém para te influenciar”. Eu sei que este é o primeiro álbum que você produziu sozinha, como foi o processo criativo de “Girl With No Face”?
Foram muitas tentativas e erros. Eu tentei muitas coisas até descobrir como seria. Então, eu fiquei muito frustrada e tive vontade de bater a cabeça na parede tentando descobrir como fazer várias coisas técnicas. Foi muita libertação emocional e, liricamente, foi muito fácil. As letras saíram de mim com muita naturalidade. Eu estava super cansada, alguns momentos foram muito estressantes e às vezes também eram muito divertidos.
Pensando na história que está sendo contada no álbum, acho curioso como você diz na primeira música, “Weird World”, que não quer mais sonhar, pois esse é um mundo estranho e cruel para quem está correndo atrás de seus sonhos, mas na última faixa, “Truly Dreams”, você diz que vai continuar sonhando e ter esperança, porque é isso que te mantém vivo. Como você vê essa jornada no álbum?
Acho que “Weird World”, a primeira faixa do álbum, é sobre dizer adeus à inocência e a uma certa forma de ver o mundo. E acho que à medida que o álbum avança, eu vou aprendendo a ver o mundo de uma maneira diferente e, no final, estou pronta para sonhar novamente, mas de uma forma diferente do que costumava antes.
Você traz muito do pop-punk britânico e do new wave em suas músicas, mas em “Girl With No Face” todas essas referências parecem estar ainda mais potencializadas, como foi para você trazer todos esses elementos?
Foi muito divertido. New wave é meu gênero musical favorito no momento, especialmente o do início dos anos 80. Eu estou aprendendo bastante sobre a cena cultural do Reino Unido nessa época e pesquisando bastante sobre esse contexto. E, claro, meus discos favoritos foram feitos assistindo documentários sobre esse tema. Então foi muito agradável, eu senti que estava me entregando musicalmente e sonoramente a esse disco.
“Galina” se tornou uma das músicas preferidas do fandom e sei que você se inspirou em uma pessoa real para compor essa faixa. Você pode nos contar sobre o processo criativo dessa música em particular?
Foi uma das primeiras músicas que escrevi para o álbum. Galena estava em minhas anotações por causa de uma experiência que tive no verão de 2022. Eu estava doente naquele ano e estava voltando para gravar. Acho que a primeira coisa que pensei no início do processo criativo foi uma frase que nem chegou a ser gravada. Era um riff e então coloquei isso na cabeça. Lembro que gravei enquanto estava no elevador. No final da noite, eu fiz o refrão e nos dias seguintes escrevi o primeiro verso e o pré-refrão. Tudo aconteceu bem rápido comparado às outras músicas. Na verdade, esse foi o mais rápido.
“Weird World” e “Black Eye” receberam videoclipes, podemos esperar que outra música também receba?
Sim, possivelmente. Mas ainda não tenho certeza.
O remix de “Black Eye” saiu há uma semana, como surgiu a ideia de colaborar com Tolentino, FUSO! e Frimes? E como foi trabalhar com eles?
Foi um processo mais rápido, diferente do álbum. Eu já conhecia o Tolentino há algum tempo e vi, obviamente, o vídeo da Frimes dançando Off With Her Tits com os peitos dela, o que foi muito divertido. E então eu ouvi o remix e achei que parecia legal. Eu disse “sim, vamos em frente e vamos lançar”.
Você tem muitos fãs brasileiros, eles adoraram o remix de “Black Eye” e estão loucos para que você venha ao Brasil. Como é para você ver essa repercussão dos fãs brasileiros em relação ao seu trabalho? E você tem alguma mensagem para compartilhar com eles?
É maravilhoso ouvir isso. Eu não vejo essa repercussão em primeira mão, porque estou em Los Angeles e não falo português. Então, acho que não estou tão por dentro dessa comoção, mas é muito bom ouvir isso.
Minha mensagem para os fãs é um agradecimento. Muito obrigado por sempre me apoiarem e celebrarem o que eu faço. Eu espero tocar ao vivo no Brasil, no momento certo. Espero fazer parte de um grande festival.
Essa pergunta é um pouco difícil para os artistas, mas você tem uma faixa favorita do seu novo álbum?
O disco acabou de ser lançado, então acho que eu precisaria de mais distância do álbum para responder com precisão, mas, no momento, talvez as minhas favoritas sejam “Weird World” e “Out o mundo estranho ou fora das tendas.
Como você usa a moda para expressar sua arte?
Eu gosto de usar os recursos visuais para criar uma versão mais ousada e estendida do que eu tenho dentro de mim. Uma versão mais forte, mais corajosa e talvez mais intimidante de mim. Acho que a moda é uma maneira realmente eficaz de fazer isso.