Todo ano, as pessoas se reúnem presencialmente e virtualmente para rir dos candidatos que chegam atrasados aos locais de prova do Enem. Além de virarem motivo de piada, eles são julgados a plenos pulmões e decretados culpados. “Mereceram! Por que não saíram antes de casa?”, acusam algumas pessoas. E essa tradição anual de transformar atrasados em memes ganhou o mundo! O dinamarquês Klaus Madsen foi a uma escola de Curitiba só para conferir de perto o que ele chama de “tradição brasileira”. Contudo, ele garante que jamais riria do sofrimento alheio – diferente de muitos de nós.
Mas você já parou para pensar que ao de rir de alguns candidatos que chegam atrasados, você está rindo também de muitos problemas do Brasil? É claro que nem todos os atrasos são justificáveis. Alguns são por pura falta de responsabilidade e engajamento. Entretanto, a culpa de muitos atrasos é do próprio Sistema. Esperamos que a lista abaixo te faça refletir duas vezes antes de ~dar virote~ no próximo camarote do #ShowDosAtrasados.
1. Araújo, 39 anos, não foi liberado a tempo pelo chefe
O confeiteiro Araújo da Silva, de 39 anos, perdeu o primeiro dia de prova do Enem 2017, em São Paulo, porque não conseguiu folga no trabalho e dependia da boa vontade do chefe para chegar a tempo. Como o dono da padaria demorou para liberá-lo, Araújo perdeu o exame. Ele precisava do Enem para finalmente conseguir o seu diploma do Ensino Médio.
2. Filho da Daise, adolescente negro, parado por policiais
Em um desabafo nas redes sociais, a baiana Daise contou que seu filho, de 19 anos, perdeu a prova pois foi abordado por policiais nos arredores de Pituba, bairro ao norte de Salvador, na Bahia. A abordagem foi agressiva e o jovem, além de precisar esvaziar sua mochila, que continha apenas itens de papelaria, o cartão de inscrição do exame e comida para a prova, levou tapas e teve um fuzil apontado na cara. O jovem tentou se explicar (por algo que não fez) para que não perdesse tempo, mas ele não foi ouvido. O jovem era negro.
3. Débora, 50 anos, o ônibus passou reto pelo ponto
Em Belo Horizonte, a mineira Débora Isaías, de 50 anos, chegou atrasada porque simplesmente o ônibus que deveria pegar para fazer a prova passou reto pelo ponto, mesmo ela dando sinal. A dona de casa, que dependia exclusivamente do transporte público, até tentou achar um jeito de reparar o erro do motorista, mas acabou se atrasando. “Ele não parou. Fui para outro ponto. A linha não passava por lá”, relatou ao Estadão.
4. José, cearense, enfrentou um acidente na via
O cearense José Renato Silva de Sousa saiu cedo do trabalho para justamente não se atrasar para o Enem 2016, mas não deu certo. O homem, que tentaria uma vaga no curso de Engenharia Mecânica, ficou parado no trânsito. O congestionamento aconteceu devido a um acidente com um caminhão. Ilhado, José Renato chegou segundos após o portão ter se fechado.
5. Ana Júlia, 17 anos, foi prejudicada pelo transporte público
Mesmo saindo com mais de três horas de antecedência para o fechamento dos portões, Ana Júlia Benigno, de 17 anos, não conseguiu chegar a tempo. “Tinha trânsito e muita gente no terminal”, desabafou ao jornal O Povo. A mobilidade urbana, que é um problema constante, principalmente para aqueles que dependem de transporte público, foi a razão pela qual a cearense não conseguiu fazer a prova. Se o transporte estivesse funcionando regularmente, sem falhas, ela teria chegado a tempo.
6. Amanda, 19 anos, precisava atravessar a cidade
Em 2014, muitos riram da carioca Amanda Alli, de 19 anos, que chegou atrasada ao local de prova e chorou descontroladamente segurando o portão, que já estava fechado. Na época, a estudante questionou a decisão do Inep: “não entendo, com tantas escolas perto de minha casa, por que me colocaram para fazer as provas na UERJ?”. O trajeto da jovem, que precisou atravessar a cidade para chegar ao local do exame, foi dificultado por um congestionamento surpresa. Desesperada, Amanda saiu do carro e pediu carona para um mototáxi, mas o esforço foi em vão.