Você nunca volta a mesma. Essa é uma frase dita com bastante frequência por pessoas que já viajaram para a Índia. Dizem que é transcendental, que você se reconhece, se reaprende e se apreende de novo, como diria a Anavitoria. Mas a Renata Piffer também concorda. Aos 23 anos, a jovem achou que era hora de fazer algum tipo de trabalho voluntário mundão afora e todos os caminhos a levaram até o país da Ásia Meridional. “Na época em que me inscrevi, estagiava na promotoria de violência doméstica e queria ajudar mulheres vítimas de violência, e 99% das vagas disponíveis para essa questão era na Índia. No fim, cheguei lá e o projeto tinha acabado. Acabei trabalhando com crianças, mas foi muito bom”, conta.
O país é um destino tradicional quando o assunto é intercâmbio voluntário, por ser um local muito carente em diversos sentidos. Apesar de a cultura ser bem diferente da brasileira, Rê afirma que algumas coisas são bem parecidas com as que ocorrem no Brasil: “Costumo dizer que tudo lá é intensificado. Todos os problemas que nós temos aqui, temos lá também, só que mil vezes mais intensos“, confessa a estudante, que completa explicando como é o dia a dia na Índia, que está na lista de países que mais estupram mulheres: “Os homens não vão te chamar de gostosa no meio da rua e dificilmente falarão com você, mas vão encarar bastante, principalmente se você for diferente (loira, branca e de olhos claros). Quase não vi mulheres na rua. Durante a noite, menos ainda! Cheguei a perguntar para algumas pessoas a razão disso e me diziam que, durante o dia, apenas mulheres casadas e em grupo saíam. Durante a noite, todas elas estavam em casa cozinhando”.
Como estava em um lugar em que a cultura era diferente da sua, Renata respeitou os costumes e usou calças longas e lenços para esconder os ombros. Essa parte não foi muito complicada. Agora, se você é do tipo que precisa de uma cama macia e um banheiro limpo para sobreviver a uma viagem, vai se espantar ao descobrir como era a moradia da voluntária. “Eu morava no oitavo andar, em um apartamento em que não podia nem abrir as janelas, pois minha casa seria invadida por pombos. Vaso sanitário não existia, nem água quente. Mas isso é algo comum na Índia, então comprei um aquecedor portátil de água e me virei”, relata.
Fácil não foi, mas a brasileira queria sentir na pele a realidade de muitos indianos. Então, já sabia que podia enfrentar alguns perrengues. “A Índia me ensinou a viver com pouco. Ela também me mostrou que viver sem água quente, cama ou vaso sanitário não é o fim do mundo. Tudo é adaptável, nós somos adaptáveis“, admite a voluntária. Hostel é a melhor opção para o caso de você querer visitar o país pagando pouco, mas tendo o mínimo de conforto. A comida por lá também é muito barata e, apesar de ser bastante temperada, Rê adorou. O único conselho que ela dá é pedir a versão não apimentada das coisas, caso tenha problema com aquele gostinho picante.
A brasileira sentiu que o povo indiano é muito curioso e pacífico. A brasileira, por exemplo, foi muitas vezes confundida com uma “garota de Delhi”, a segunda maior cidade do país, por ter o cabelo e os olhos escuros. Contudo, ela conta que basta você ter traços mais europeus para a galera te parar na rua e pedir uma foto.
“Pode parecer clichê, mas o melhor lugar, o mais grandioso em todos os sentidos, foi o Taj Mahal. É indescritível a grandiosidade daquele lugar! Também visitei o Deserto do Thar (conhecido também como Deserto de Sal) e os Himalaias. Os dois são lugares maravilhosos. O clima de montanha e a vista dos Himalaias é indescritível, já o Deserto do Thar te faz pensar que está entrando no céu, de tão branco e claro que é”, conta a viajante, que sente todo dia saudade da Índia (até do seu banheirinho).
Há várias agências de intercâmbio e ONGs que fazem essa ponte entre você e o trabalho voluntário. A questão de tempo é relativa. Existem programas que duram duas semanas e outros que duram um ano. “Minha principal dica é ‘go with the flow’, que em português seria ‘dance conforme a música’. A Katy Perry tatuou essa frase quando foi para a Índia e eu a achava até meio boba, mas agora vejo que faz todo sentido. Então, quando você for para lá, se planeje, mas se os planos não derem certo, fique tranquila, pois na Índia é assim mesmo. Siga o fluxo dos acontecimentos e lembre-se de que tudo vai ser um desafio, mas que se você conseguir extrair as coisas boas dos acontecimentos, eles vão se tornar positivos“, aconselha.
No fim, esses 42 dias pareceram quarenta e duas horas se focarmos no quanto Renata aproveitou cada segundinho da sua viagem voluntária, que passou voando. Em contrapartida, esse tempo se transformou em 42 anos se focarmos no quanto ela aprendeu nesse pouco tempo. Foi intenso, transformador e prazeroso. Renata Piffer não voltou a mesma depois de conhecer a Índia.
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