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‘Ver uma mulher fazendo rock com o útero e os ovários foi algo mágico’

A atriz Julia Cortez lembra a primeira vez em que viu a Rita Lee: ela estava na puberdade e teve sua vida transformada para sempre pelo 'roque enrow'

Por Isabella Otto Atualizado em 10 Maio 2023, 10h44 - Publicado em 10 Maio 2023, 06h00

Julia Cortez fez parte da Galera CAPRICHO 2013/2014 e desde então muita coisa mudou. Em 2021, ela se formou em Atuação para Cinema na ACI (Academia Internacional de Cinema), trabalhou em dois curtas (atrás e na frente das câmeras) e está na 2ª temporada da série da Disney+ Tudo Igual…SQN. Uma coisa, contudo, permace a mesma: o amor que a atriz carrega por Rita Lee Jones.

“Na infância, já tinha ouvido minha mãe falando da Rita. Falava com o mesmo brilhos nos olhos de quando ela falava de mim”, lembra Julia, hoje com 23 anos.

Foi na adolescência, porém, que a atriz foi mergulhar pra valer nas obras da artista, que é popularmente conhecida como a “Rainha do Rock” – mas rejeita o título. Prefere muito mais o apelido de “Padroeira da Liberdade”. Para Julia, assim como para Rita, “esse tal de roque enrow” foi muito importante, especialmente durante a puberdade: “Ver uma mulher fazendo rock com o útero e os ovários foi um acontecimento mágico!”.

'Ver uma mulher fazendo rock com útero e ovários foi um acontecimento mágico'
De cílios pintados no rosto e coraçãozinho na bochecha, a bruxa amarela inspirou uma multidão de fãs @vallenacor/Reprodução

Talvez você não saiba, mas a Rita Lee foi a cantora brasileira com maior número de músicas censuradas na Ditadura Militar – um tipo de desobediência e rebeldia que ainda hoje o Brasil precisa. “A Rita sempre falou o que pensava sem se preocupar com o que os outros pensavam. Ela confia nos seus instintos e por isso consegue se conectar com o público de forma tão intensa. Hoje em dia sinto que toda produção pensa muito no que os outros vão achar e olham pouco para dentro. Sempre vai ter lugar para a autenticidade! A força da Rita é prova disso“, opina Julia Cortez, que lista as principais características que admira na ídola: irreverência, humor, força e coragem.

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Aos 75 anos, Rita Lee alcançou novamente o topo da lista de livros mais vendidos do país ao anunciar sua segunda autobiografia, que vai focar nos últimos três anos de sua vida, em que precisou lidar com o diagnóstico de câncer no pulmão no meio da pandemia de coronavírus. Uma coisa puxou a outra e a primeira autobiografia, lançada por Rita em 2016, também entrou para o topo de obras mais vendidas. “Quando decidi escrever Rita Lee: Uma autobiografia, o livro marcava, de certo modo, uma despedida da persona Rita Lee, aquela dos palcos, uma vez que tinha me aposentado dos shows. Achei que nada mais tão digno de nota pudesse acontecer em minha vidinha besta. Mas é aquela velha história: enquanto a gente faz planos e acha que sabe de alguma coisa, Deus dá uma risadinha sarcástica“, escreveu a artista.

'Ver uma mulher fazendo rock com útero e ovários foi um acontecimento mágico'
Julia Cortez fazendo sua homenagem ao álbum “Fruto Proibido”, de 1975 @vallenacor/Reprodução
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É esse jeito de encarar a vida que cria identificação. “Tem algo muito sagrado na Rita sobre olhar para dentro. Saber quem você é, não dar muita importância para a caretice, ir e fazer mesmo. Em cena, a Rita me inspira imensamente, porque é um momento de tudo ou nada. E por mais que você sinta um medinho, é preciso se jogar, se divertir, tentar ser autêntica e original. Quando assisto à Rita em cena, vejo o tal santo batendo e isso é até espiritual. O momento que a gente está em cena é sagrado, mas quem disse que o sagrado tem que ser sério? Pode fazer um bando de gente feliz, como a Rita faz“, garante a atriz.

Quem também se identifica com a cantora é Manu Gavassi, que está realizando uma turnê especial em homenagem à Rita Lee, em que canta as músicas do álbum “Fruto Proibido”, seu favorito. É surreal pensar na importância de Rita como artista e mulher, e no quão maravilhoso é saber que muitas garotas vão descobrir sua obra por meio da homenagem de uma cantora mais jovem, de outra geração. “Sempre achei especial quando artistas homenageam as pessoas que nos formaram artisticamente. Somos todos frutos do que a Rita conquistou com a carreira e a existência dela. Eu digo e repito: o mundo todo precisa conhecer Rita Lee Jones!“, diz Julia.

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Para a atriz em ascensão, homenagear mulheres inspiradoras é também celebrar o que temos em comum: “É algo mágico! Eu, por exemplo, não conheço a Rita, mas o tanto que ela impactou minha vida e minha visão de mundo é extramente especial, porque mostra como a arte nos forma como pessoa. A homenagem é uma festa linda, que trás pra superfície aquilo que conecta a gente com o outro, e a Rita me deu muito para festejar”.

Em nome de Todas as Mulheres do Mundo, nosso muito obrigada, Rita. A gente sabe que você acha meio cafona esse negócio de ser tratada como “rainha” – e só quer curtir sua velhice em paz, no meio do mato, dos bichinhos e com a família -, mas sua rainha nunca foi convencional. Ela foi controversa, com cabelos e roupas coloridas, irreverente, humana, real, e vez ou outra uma verdadeira Glória Frankenstein. E encanta gerações justamente por estar longe de ser “toda boazinha, toda do bem e tão galera”. Do contrário, seria chata pacas!

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