a tarde da última terça-feira (23), o escritório do Pinterest no Brasil se transformou em um ambiente de conexão e de celebração da força afrolatina e periférica no universo digital, com a presença de personalidades que têm revolucionado o cenário virtual, como as mulheres do Afrohunting, um estúdio criativo e de conexão cultural, e o pessoal do Digital Favela – ecossistema de influenciadores de favela do mundo.
Pensar na presença negra nas redes sociais é celebrar quem começou esse movimento e gerou tanto avanço, mas também abrir espaço para a juventude negra que pega esse legado e acredita que pode fazer ainda mais. Como representantes desse futuro promissor, a Galera Capricho marcou presença. Para Mariana Costa, integrante da Galera CH 2024, as influências negras nas redes são uma “inspiração e um ar de esperança”.
Ela lembra como, para pessoas pretas e pardas, o caminho até o reconhecimento profissional é mais árduo do que para pessoas brancas, que não enfrentam as adversidades que ela, por exemplo, já enfrentou “por ter um cabelo e uma realidade diferente”.
“Poder olhar para a TV, para as revistas ou seja onde for, e ver um alguém igual a gente que, mesmo com todos os empecilhos, chegou ao seu objetivo, é muito gratificante e inspirador. Esse tipo de história nos faz pensar que somos capazes de fazer e conseguir o que queremos, e que vale a pena sim lutar por mais direitos, por reconhecimento e, acima de tudo, lutar por nós“, conta Mari.
Esse mesmo sentimento de força ao se reconhecer nas influências online também é sentido pela Daniele Peixoto. A representação, para ela, é importante não só nas redes, mas em todos os cenários onde há possibilidade de identificação para que ela não se esqueça de como é possível estar naquela posição. “Olhar para um post e pensar ‘nossa fulana é parecida comigo’ e ver ela fazendo algo que você também gosta é muito legal. Acho que hoje a gente dá palco para muitas pessoas brancas com o estilo de vida muito irreal e age como se não houvesse pessoas negras fazendo conteúdo na internet também, mas elas existem, só estão sendo invisibilizadas“, argumenta.
Além do reconhecimento, Ana Beatriz, da Galera CH 24′, trouxe outros dois fatores que definem a importância da influência negra nas redes na sua percepção: a conscientização e a reafirmação da própria identidade como pessoa negra.
“A internet pode alcançar qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, então as pessoas aprendem mais sobre o que é ser uma pessoa negra, sobre identidade e sobre a sua própria cultura, que, muitas vezes, foi escondida e apagada por não ser considerada ‘certa’. Então quando você vê mais criadores negros dentro de várias plataformas digitais, tendo espaço para expressar suas ideias e sua voz, eles também estão ajudando muitas pessoas que se sentiam apagadas e sem identidade a lembrarem quem elas são por meio da representatividade“, afirma Ana Bia.
A influencia na identidade como pessoa preta, pontuado por Ana Bia, também é percebido pela Andressa Melissa. Ela acredita que a diversidade de nichos dentro das redes de personalidades negras ainda influencia o público a se orgulhar de si. “As pessoas que se escondiam e sentiam vergonha agora tem o incentivo para se mostrarem e se orgulharem das características físicas, por exemplo”, explica.
Ela também acredita que a possibilidade de acompanhar um influenciador que se parece com você é um dos principais fatores de impacto da influência negra nas redes. “É muito legal como a internet mudou a vida de muitos jovens que agora não dependem mais de inspirações da TV e de revistas como era há alguns anos. Agora, é possível escolher as pessoas que queremos seguir e influenciadores que se assemelham com a gente”, comemora.
As redes como espaço para expor diversidade e influenciar
A presença negra nas redes, para Bruna Nunes, que foi da Galera de 2019 e depois foi estagiária da CH, possibilita ainda mostrar a diversidade da cultura negra, já que “por muito tempo as pessoas colocaram a cultura negra em uma caixinha e atualmente eu vejo cada vez mais uma abertura para mostrar as subculturas que a cultura negra tem”. Bruna lembra como essa diversidade é estética, opinativa e cultural, de forma geral, criando diversas tendências que hoje são entendidas como da ‘cultura negra’, mas que nasceram dessas subculturas.
“Com a presença das pessoas negras na internet a gente consegue ter uma noção maior [dessa diversidade] e entender quantas coisas têm origem negra, e são muitas coisas pela quantidade de diversidade também. É diferente entre pessoas negras de pele clara, elas têm uma vivência diferente das negras de pele escura, que também é diferente das pessoas pardas. São vivências diferentes mas que se encontram em um lugar”, pontua Bruna.
O impacto na moda a medida que as influências negras nas redes aumentam também foi percebido pela Aísha Moraes, que fez parte da Galera CH de 2022. Para ela, “a cultura preta, que já estava ali, mas não era vista, passou a ser”, e tendências como as tranças afro, o street style e o estilo mandrake, das periferias, se popularizou.
Apesar do avanço, Aísha sabe que ainda existem muitos pontos a serem melhoradso, mas ela não deixa de comemorar a representatividade negra como realidade em tantas marcas hoje. “É gratificante acompanhar a forma como o cenário vem sendo modificado e não há nada melhor do que consumir um conteúdo que te represente“, finaliza.