Trabalho sobre saúde mental na adolescência leva alunas brasileiras a NY
Três alunas de 16 anos foram selecionadas para apresentar o projeto científico em uma competição estudantil nos Estados Unidos.
As adolescentes Alessandra Hister Portinari Maranca, Catharina Faria de Morais e Maria Clara Batista Nascentes estavam no 9º ano do Ensino Fundamental quando decidiram iniciar um projeto científico que pudesse ajudar jovens e alertar a sociedade sobre os riscos dos padrões sociais.
O estudo começou em 2015, por meio do programa Cientista Aprendiz, do Colégio Dante Alighieri, em São Paulo, que incentiva alunos a produzirem conhecimento para mudar o mundo. Na hora de escolher o tema, as meninas já sabiam que queriam falar sobre as pessoas da idade delas.
“A pré-adolescência é um momento em que você está se adaptando ao fato de que está começando a ser sexualizado pelos colegas e a entender o que está acontecendo nas relações de poder, além de ser onde a maior parte do bullying é inserido. E nós três passamos por uma pré-adolescência horrível“, Alessandra explica.
Segundo ela, basta conversar durante cinco minutos com um jovem de 14 anos para perceber que ele muitas vezes tem baixa autoestima, se odeia, tem problema com amigos ou acha que ninguém gosta dele. Além disso, a própria vivência das meninas com alguns problemas fez com que elas ganhassem ainda mais motivação para estudar o tema. “A gente carregava umas coisas muito pesadas pra crianças de 14 anos e se perguntava se todo mundo também era assim“, Catharina diz.
Com isso, as alunas começaram a perceber que existe uma série de coisas que impactam a saúde mental dos jovens e que fazem parte da formação de identidade dele. Por isso, elas definiram 4 critérios principais: corpo, aparência e compra, popularidade e competência escolar. De acordo com elas, tudo que envolve a identidade do jovem, seja de classe alta, média ou baixa, se enquadra nestas quatro categorias.
Além disso, as meninas também destacam a influência da pós-modernidade nessa questão, que é a época em que estamos inseridos. “A gente tem um mercado ditando a nossa identidade sem a gente perceber. Por exemplo, temos toda aquela questão de ‘como está meu corpo?’ com alimento, academia, entre outros. E a gente acha que tudo isso está intrínseco na gente, só que, na verdade, é uma imposição do mercado que lucra com a nossa insegurança”, Alessandra diz.
O projeto incluiu um questionário destinado a adolescentes de 15 a 18 anos e aplicado em três amostras: alunos de classe média alta em uma escola privada, alunos de classe baixa em uma escola pública e jovens que não frequentam escola. Foram 8 perguntas de formação de identidade com 4 critérios e 22 perguntas de saúde mental com 11 critérios. A análise foi quantitativa com resultados binários, sendo apenas “sim” e “não” (0 e 1).
A questão da saúde mental na adolescência também foi abordada pela série 13 Reasons Why, que ganhou segunda temporada recentemente. Entretanto, as meninas não acham que ela seja uma boa recomendação sobre o assunto. “Seria contra ao que nós defendemos se falássemos que a série é boa porque discute esses temas, porque ela discute da maneira errada“, Alessandra opina. Segundo elas, tratar de suicídio e violência exige um cuidado muito delicado de quem decidir abordá-los. “Não sei até que ponto mostrar essa violência pode ser positivo para um jovem que está sofrendo com isso“, Catharina complementa.
As meninas embarcam para participar da Genius Olympiad, em Nova York, no dia 11. Apenas a Maria Clara e Alessandra viajam para apresentar o projeto, mas todas concordam que o mais importante é mostrar o estudo para o mundo. Além da competição estudantil internacional, o projeto também foi selecionado para a Mostra Internacional de Ciências e Engenharia do Rio Grande do Sul, em 2017, onde ficou em quarto lugar na categoria Ciências Sociais, Comportamento e Arte.
As alunas esperam uma boa avaliação na feira dos Estados Unidos e, quando voltarem, planejam desenvolver mais a proposta de intervenção, que é o objetivo principal do estudo. “A gente quer uma proposta que engloba uma ação comunicativa e reduz as ideias que o jovem tem sobre as instituições do seu corpo perfeito, da sua roupa de marca, da popularidade ideal e da nota 10”, Alessandra esclarece. Além disso, as meninas pretendem criar um guia metodológico com o que uma coordenação educacional pode fazer para implementar o tema nas escolas.
Nossos adolescentes mudam o mundo! #BeTheChange