Herman Poole Blount, nascido no Alabama, em 1914, foi um compositor de jazz, bandleader, pianista, poeta e filósofo conhecido por sua “filosofia cósmica”, suas composições musicais e performances.
Hernan estudou música na sua cidade natal e anos depois foi para Chicago, onde formou a banda The Arkestra e criou sua própria gravadora na Filadélfia, ali no início dos anos 70. Considerado o pai da estética sci-fi aliada à negritude e fascinado pela vida extraterrestre, ele considerava o Espaço Sideral um lugar onde o racismo não existia e as pessoas negras podiam viver livremente.
“Eu tenho muitos nomes”, afirmou Sun Ra na biografia Space is The Place – The Lives and Times of Sun Ra. Na época, com 52 anos, Sun Ra já se tinha reinventado algumas vezes: ele nasceu Herman Poole Blount, mas alterou seu nome para Le Sony’r Ra em 1952, no mesmo ano em que Malcolm Little saiu da prisão com sua nova identidade expressada em um simbólico marcadamente político, virando Malcolm X.
Sun Ra causava uma forte impressão onde quer que aparecesse: “Há quem me chame de Mr. Ra, quem me chame de Mr. Re. Há até quem me trate por Mr. Mystery”. Ele sempre usava mantos egípcios com listras douradas e enormes artefatos sobre a cabeça, que remetiam ao Sol, assim como todos os membros da Arkestra, que incorporavam figuras ancestrais e intergalácticas, promovendo juntos a exuberância de novos mundos.
Ra acreditava que nosso mundo era impossível de mudar, então a solução para a população negra era ir para o Espaço e colonizar outros planetas. Esse era o ponto de vista de um mundo perfeito para as pessoas negras, segundo Sun Ra. Uma espécie de utopia afro-americana. O nome Afrofuturismo só veio em 1993, pelo escritor e crítico cultural (branco) Mark Dery. No eixo da resistência racial, o movimento passou a pensar sobre pessoas negras no futuro e a pensar estratégias no presente para assegurar a sobrevivência desses grupos. Clique aqui para saber mais sobre o Afrofuturismo.
Considerado o pai do Afrofuturismo, Sun Ra afirmava publicamente que tinha sido raptado por extraterrestres e voltado à Terra com a missão de salvar o planeta. Ele dizia que uma das suas missões era libertar os povos africanos do racismo e da opressão, tornando o mundo um lugar melhor.
Os discos gravados por Sun Ra em Nova York, cidade em que morou de 1961 até 1968, antes de se mudar com a Arkestra para a Filadélfia, refletem um intenso período de procura. O “Cosmic Tones For Mental Therapy”, “Other Planes of There” e/ou os dois volumes de “The Heliocentric Worlds of Sun Ra” são documentos privilegiados de uma mente aberta a novas possibilidades, de um pensamento que não se conformava com a tradição, mas que também se recusava a deixá-la de lado. Quando a Filadélfia se tornou a base definitiva da Arkestra, nos anos 70, Sun Ra gravou trabalhos importantíssimos como o icônico “Space is The Place” e, um pouco mais tarde, “Lanquidity”.
Space is The Place foi descrito pelo biógrafo de Sun Ra, John F. Szwed, como “parte documentário, parte ficção científica, parte blaxploitation, parte épico bíblico revisionista”. Space is the Place, um filme de grande referência do movimento afrofuturista, conta a história do tocador de jazz experimental Sun Ra e sua Arkestra, que desejam explorar o espaço para criar um planeta com afro-americanos longe da Terra, tudo isso com o poder da música deles. Repleto de viagens intergaláctica, naves espaciais e músicas, eles embarcam em uma aventura para explorar o espaço, um lugar livre de racismo. Um filme que remete exatamente ao que Sun Ra acreditava. Quer mais algumas indicações de filmes afrofuturistas? Clica aqui.
Lá 2014, o “In the Orbit of Ra” surgiu como uma compilação do trabalho de Sun Ra, e foi apresentada pela Strut Records, uma gravadora britânica que se concentra em Dance Music e Afrobeat. Ainda hoje, a Askestra existe e é liderada pelo saxofonista Marshall Allen – e Sun Ra persiste vivo como o profeta do Afrofuturismo.