Em 1962, a pílula anticoncepcional chegou ao Brasil. Apesar de hoje muitos estudos comprovarem que ela pode ser perigosa se usada sem acompanhamento médico e por pessoas cujos exames não são compatíveis com o método contraceptivo, ela foi importante para a história feminina mundial. Afinal, ela iniciou uma discussão importantíssima sobre liberdade sexual feminina e deu mais autonomia às mulheres. Entretanto, muitos homens acabam depositando toda responsabilidade da prevenção de uma gravidez indesejada sobre a mulher: ela tem que tomar a pílula, ela tem que se cuidar, ela, ela, ela.
Essa foi uma das razões que levou o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos a elaborar uma pílula anticoncepcional masculina. Conhecida como DMAU, ela está em fase de testes, que têm se mostrado bastante promissores. Recentemente, a fase inicial completou um mês. 83 homens, de 18 a 50 anos, estão tomando o medicamento e a desistência foi baixíssima. O motivo? A pílula tem tido boa aceitação do corpo e as reações adversas são quase nulas.
Entre os efeitos colaterais, foram identificados um leve ganho de peso por parte dos homens e uma pequena redução do HDL, conhecido como “colesterol bom”. Alterações como aumento de acnes e mudanças no humor, muito presentes em mulheres que tomam a pílula feminina, foram tão baixas que não chegaram a ser relevantes.
A pílula anticoncepcional masculina funciona de forma simples: ela modula a quantidade de testosterona presente no corpo para evitar a produção de espermatozoides. De início, o organismo dos homens estava eliminando muito rapidamente a droga. Por isso, eles estavam precisando tomar dois comprimidos por dia. Isso não agradava os pesquisadores, pois as chances de rolar um esquecimento eram maiores. Depois, chegou-se a uma dosagem em que apenas um comprimido bastava por dia, como acontece com o anticoncepcional feminino.
Essa não é a primeira vez que um experimento do tipo é feito. Em 2016, testes com um anticoncepcional masculino foram interrompidos depois que alguns homens tornaram-se inférteis após o uso contínuo da droga. Por enquanto, a DMAU diminui a quantidade dos espermatozoides de forma eficaz e segura. Os testes vão continuar sendo feitos.
Mas será que a sociedade está preparada para a pílula anticoncepcional masculina? Parece que não. Comentários como “vão ficar com peitinho e ter osteoporose igual às mulheres” mostram como a sociedade machista ainda acredita que esse “fardo” seja apenas feminino – e que tudo bem se as mulheres tiverem problemas de saúde gravíssimos, porque o mais importante é não engravidarem de forma indesejada. Além disso, comentários como “mais anticoncepcional masculino, menos camisinha” provam que os homens se esquecem de que a pílula não evita infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, HPV e HIV.
Um estudo realizado pelo Ministério da Saúde em 2017 mostra que os casos de HPV entre jovens só estão aumentando. O principal motivo? De acordo com a Dra. Mariana Maldonado, ginecologista e especialista em sexualidade, “o uso da camisinha ainda é um desafio”. Saúde em primeiro lugar sempre! Prevenção e proteção são sinônimos de amor próprio.