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Síndrome de Tourette: entenda a doença de Billie Eilish

Conversamos com um especialista para entender mais sobre os tiques e movimentos involuntários da cantora causados pela doença

Por Amanda Oliveira 11 jul 2020, 10h04

Você sabia que a cantora Billie Eilish tem Síndrome de Tourette? Nem todo mundo conhece essa doença e os sinais dela podem passar despercebidos, principalmente quando a pessoa não costuma falar sobre o assunto. Mas, se você parar para notá-los, eles estarão lá. Em sua participação no programa da apresentadora Ellen DeGeneres, a cantora de 17 anos disse que a doença é algo com que ela teve que aprender a viver. “Todo mundo na minha família, todos os meus amigos e todas as pessoas mais próximas de mim sabem que eu tenho. Não é nada diferente. Eu só nunca falei sobre isso porque não queria que a Síndrome definisse quem eu sou. Não queria que fosse algo como ‘Billie Eilish, a artista com Síndrome de Tourette, está na Ellen’”, Billie disse. Mas, afinal, o que é a Síndrome de Tourette?

Reprodução/Facebook

Para entender mais sobre o assunto, a CAPRICHO conversou com o Dr. Daniel Costa, psiquiatra especialista em TOC do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Segundo ele, a síndrome é uma doença neuropsiquiátrica caracterizada pela presença de tiques motores e vocais. “Os tiques são gestos, movimentos ou barulhos que nos parecem esquisitos e sem propósito. Eles podem aparecer como parte do comportamento normal (como piscar os olhos, virar a cabeça ou encolher os ombros) ou como algo estranho, às vezes até bizarro (como expressões faciais ou gestos com a mão ou a cabeça)”, explica.

Já os tiques vocais, como o próprio nome sugere, estão relacionados a voz. Podem variar desde um pigarreio até sons, palavras e frases mais complexas ditas sem propósito. De acordo com o Dr. Daniel, os tiques possuem duração curta e acontecem de forma repetitiva e súbita. Ou seja, surgem de repente e com frequência. “Os tiques costumam desaparecer durante o sono, diminuem com a ingestão de álcool e durante atividades que exijam concentração. Por outro lado, são exacerbados (agravados) por estresse, fadiga, ansiedade, excitação e substâncias estimulantes, como café, chocolate e refrigerante com cola ou guaraná”, diz.

A maioria dos tiques costuma ser apenas desconfortável, mas uma pequena parte também pode chegar a causar dor. “Aproximadamente 5% dos pacientes têm tiques autoagressivos, como bater, golpear, arranhar a face, morder o punho, friccionar os olhos ou cutucá-los com os dedos. Há relatos de que esses tiques podem ser graves a ponto de causar cegueira”, afirma o psiquiatra.

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Não é classificada exatamente como uma doença hereditária, mas familiares de primeiro grau de portadores de TOC ou Síndrome de Tourette possuem maior risco de apresentarem a doença. De acordo com o Dr. Daniel, também é comum haver associação com outros transtornos psiquiátricos, como o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).

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Os sintomas da Síndrome de Tourette costumam surgir na infância, com tiques motores mais simples nos olhos, rosto ou cabeça, podendo progredir para os ombros, troncos e extremidades. “A maioria dos casos começa entre 2 e 15 anos de idade. No início do quadro, os tiques podem desaparecer por dias ou semanas. Com a evolução da doença, passam a ser mais duradouros”, explica o psiquiatra.

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De acordo com o Dr. Daniel, pode ocorrer remissão completa dos tiques em 30% dos casos mesmo sem tratamento. Não são todos os pacientes que precisam de tratamento específico que diminua a intensidade ou frequência dos tiques. “O tratamento é indicado quando os tiques são intensos a ponto de causarem algum tipo de prejuízo para o paciente“, explica. Entre as opções para tratar a síndrome estão o uso de medicamentos, como a clonidina e os antipsicóticos típicos e atípicos, além da psicoterapia, especialmente a terapia comportamental envolvendo técnicas de reversão de hábitos. Já nos casos muito mais graves, pode ser indicada a realização de neurocirurgia.

“Um aspecto importante a ser considerado no tratamento dos portadores da Síndrome de Tourette é a psicoeducação. Informar o paciente e familiares que os tiques são incontroláveis, e não intencionais, pode ajudar”, Dr. Daniel acrescenta. Ele também destaca a importância de reforçar que mais da metade dos casos da síndrome melhoram no final da adolescência ou início da idade adulta.

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Billie Eilish possui apenas tiques físicos, mas já contou que aprendeu a disfarçá-los. “Eu tenho jeitos para fazer os tiques desaparecerem dos meus vídeos. Normalmente, se é algo que foi filmado anteriormente, eles editam. É assim que eles ficam de fora”, afirmou durante sua participação no programa da Ellen. Segundo ela, saber que muitos dos fãs também tinham a Síndrome de Tourette fez com que ela se sentisse mais confortável em falar sobre o assunto. “Senti uma conexão. Senti que, quando falei sobre isso, eles estavam postando: ‘Meu Deus, eu sempre tive isso! Agora que ela tem também, é uma pessoa em quem eu posso me inspirar’”, disse. A cantora de 17 anos revelou o diagnóstico em novembro de 2018 e, desde então, prefere não falar muito sobre o assunto.

Para saber mais sobre a doença, confira um curto documentário da HBO em parceria com a Associação de Síndrome de Tourette:

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