Round 6: entenda as metáforas e críticas por trás do k-drama da Netflix
A série sul-coreana vai muito além dos jogos mortais! Será que você conseguiu identificar todas essas questões que escancaram desigualdades socioeconômicas?
Em menos de um mês, o k-drama Round 6 se tornou um sucesso de audiência no mundo todo e está prestes a desbancar Bridgerton como a produção mais assistida da história da Netflix. Alcançando a primeira posição em todos os 83 países que a exibem, a série criada por Hwang Dong-hyuk explora o melhor e o pior do ser humano, além de discutir problemas sociais, como a desigualdade e a pobreza.
A trama segue 456 pessoas endividadas que são convidadas para participar de um jogo misterioso e mortal. As regras são simples: se sobreviverem até a última rodada, elas poderão voltar para casa com uma grande quantia em dinheiro e resolver todos os seus problemas.
Inspirado por mangás e animes japoneses, como Battle Royale (2000-2005) e Liar Game (2005-2015), o diretor revelou que a ideia para Round 6 surgiu em 2008, quando ele mesmo passava por dificuldades financeiras. “Eu queria escrever uma história que fosse uma alegoria ou uma fábula sobre a sociedade capitalista, algo que mostrasse uma competição extrema”, disse Dong-hyuk à Variety.
Conexão com os personagens
Apesar da história se passar na Ásia e ser falada em coreano, Round 6 conseguiu apresentar, assim como Parasita, vencedor do Oscar de melhor filme em 2020, personagens universais, gerando identificação com o público global. “Eu queria usar aquele tipo de personagem que todos nós já encontramos na vida real”, explicou o diretor.
O protagonista Gi-Hun (Lee Jung-Jae), por exemplo, está desempregado, foi abandonado pela esposa e é viciado em apostas. Endividado até o pescoço e vivendo às custas da mãe, ele decide participar do jogo na tentativa de reconquistar a confiança da família. Lá ele encontra Sang-Woo (Park Hae-Soo), seu vizinho e amigo de infância, que se tornou um homem bem sucedido (o melhor do bairro), mas acabou falindo.
Outros personagens de destaque são Sae-byeok (Jung Ho-Yeon), uma fugitiva norte- coreana que precisa do dinheiro para cuidar do irmão mais novo e trazer o resto da família em segurança para o lado Sul da península, e Abdul Ali (Anupam Tripathi), um imigrante paquistanês que trabalha ilegalmente no país.
Jogos infantis e a crueldade como espetáculo
Todos os desafios da série são sangrentos, mas foram inspirados em brincadeiras infantis coreanas, como o cabo de guerra e a bolinha de gude. “As pessoas ficaram atraídas pela ironia de ver adultos sem esperança arriscarem suas vidas para ganhar um jogo de criança”, disse o diretor. “Os jogos são simples e fáceis, de forma que o público pode se concentrar mais nos personagens do que em regras complexas“.
Em determinado momento, a maioria dos participantes opta por ir embora do jogo com medo de morrer, o que é aceito pelas regras. Mas pouco tempo depois de retornarem às suas rotinas, eles percebem que a vida do lado de fora é muito mais terrível e cruel que o jogo em si. Então eles voltam. “Aqui, todos os participantes são iguais. Estamos dando a vocês, pessoas que sofreram um tratamento injusto ou foram discriminadas no mundo exterior, uma última oportunidade de vencer uma competição justa”, fala um dos juízes.
A personalidade e o estilo de vida também refletem na maneira como cada um joga o desafio. Enquanto Gi-Hun, que está à margem da sociedade, tenta apoiar e ajudar seus colegas, Sang-Woo, que é ambicioso, só pensa em se dar bem, mesmo que isso coloque em risco a vida dos outros concorrentes. Mulheres e idosos quase sempre são ignorados na hora de formar equipes. A discriminação de gênero, que infelizmente ainda é comum na sociedade, é mais uma das feridas que o drama coloca o dedo. As personagens femininas nunca são respeitadas ou ouvidas, e isso se reflete na própria estrutura do game.
Quem controla e organiza a competição é um homem mascarado e sem nome. Já nos últimos episódios, descobrimos também que pessoas ricas e poderosas, conhecidas como VIPs (nenhuma delas é mulher), apostam dinheiro nos jogadores e influenciam as regras enquanto assistem ao sofrimento alheio por pura diversão. Na série, a morte serve como entretenimento para os ricos.
Nas redes sociais, muita gente fez meme e comparou a situação com as dinâmicas dos programas de TV que oferecem dinheiro ou a realização de um sonho para pessoas pobres em troca de humilhações públicas. Não é tão diferente, né?
Eu tava esperando o Luciano Huck aparecer no final de Round 6 como o grande vilão da série que planejou os pobre jogando batatinha frita 1, 2, 3 valendo a própria vida em troca de dinheiro pic.twitter.com/qj8GWusNI1
— Régis Oliveira (@rgxmg) September 29, 2021
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Curti muito a série Round 6 inspirada nos games do Luciano Huck. Pegam os pobres devedores e joga todo mundo em games impossíveis. Mas ainda acho o Round 6 mais fácil.
— Alba Expider (@albaexpider) October 2, 2021
Outras metáforas e críticas sociais
No final, fica evidente que os jogos e os cenários lúdicos onde acontecem as batalhas (algumas arenas remetem a parquinhos e pátios de escola) são parte do entretenimento sanguinolento. Vestidos de uniformes, os jogadores são padronizados e condicionados a números, perdendo assim sua identidade e humanidade. Em cada rodada, é como se as crianças estivessem brincando enquanto os adultos assistem.
Os guardas que trabalham para o jogo também obedecem uma hierarquia específica e seu comportamento foi inspirado nas formigas. Além do uniforme vermelho, a máscara preta carrega uma figura geométrica correspondente a sua função: o círculo significa que o soldado está no nível mais baixo, já o triângulo corresponde aos soldados armados e o quadrado se refere aos comandantes. A corrupção também existe dentro da própria organização: em um dos episódios é revelado que há uma rede subterrânea de tráfico de órgãos acontecendo enquanto os jogos são realizados na superfície.
Embora o jogo se intitule justo, a competência não é um fator decisivo em Round 6. Em todos os desafios, os participantes acabam contando muito com a sorte – ou precisam enganar alguém para sobreviver. Da mesma forma como acontece na vida real, o sucesso, muitas vezes, está relacionado à meritocracia, ao status social, ao gênero ou a genética. Dá para dizer que viver pode ser uma competição mortal para alguns, não é mesmo?
Mas e aí, que outras metáforas você encontrou em Round 6?