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Quero ser uma menina: a história da Amanda Guimarães, a Mandy Candy

'Nós, transexuais, somos pessoais normais, iguais a qualquer outra.'

Por Isabella Otto Atualizado em 25 jun 2018, 19h20 - Publicado em 14 mar 2016, 18h00

“Numa tarde, quando eu tinha oito anos, minha turma recebeu a tarefa de escrever o que a gente queria ser quando crescesse(…) Zachary queria jogar futebol(…) Lexi sonhava em ser atriz(…) Simon desejava ser o Harry Potter(…) Mas eu não queria ser nenhuma dessas coisas. O que eu escrevi foi: ‘quero ser uma menina.’”

O trecho acima foi retirado do primeiro capítulo do livro A Arte de Ser Normal, da escritota inglesa Lisa Williamson . Ele conta a história de David Piper, um garoto que nunca se sentiu confortável no próprio corpo. Mas esta também poderia ser a história da Amanda Guimarães, mais conhecida como Mandy Candy.

Amanda Guimarães, mais conhecida como Mandy Candy, é youtuber trans e gamer
Amanda Guimarães, mais conhecida como Mandy Candy, é youtuber trans e gamer

Quando pequena, Mandy também dizia que gostaria de ser uma mulher. Ou melhor, que ela era uma mulher . “Lembro que com uns cinco anos, colocava calças na cabeça para fingir que tinha cabelo comprido”, conta a youtuber, que atualmente mora em Hong Kong, no China, e publica vídeos em seu canal (que você pode conferir clicando aqui ).

Mandy Candy é poderosíssima! Ela esbanja confiança ao falar sobre identidade de gênero e temas ainda considerados tabus pela sociedade, mas nem sempre ela foi assim tão segura. ” Cada vez que me olhava no espelho, sem roupa, era uma tortura. Algo não se encaixava. Eu me sentia um monstro !”, lembra sem saudade nenhuma dessa época.

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Você já deve ter tido aqueles dias em que passar longe do espelho é a melhor opção, certo? Você se sente feia, insegura, triste. Alguma coisa não bate. Agora, imagina sentir-se assim todos os dias? Para, finalmente, ser quem verdadeiramente era, Mandy se esforçou muito! Afinal, a cirurgia de mudança de sexo era uma questão vital . Em 2012, depois de trabalhar em call centers, revender produtos online e se desdobrar em mil, ela se deitou em uma cama cirúrgica na Tailândia, para ser operada pelo Dr. Kamol. “Quando me deitei na cama, pensei que se tudo desse errado e eu morresse, morreria feliz”, lembra Amanda, que explica brevemente o processo de transição: “no Brasil, é preciso dois anos de acompanhamento médico e tratamento hormonal para receber a permissão para passar pela cirurgia. O tratamento em si já é uma fase bastante especial, em que começamos a enxergar o mundo e a nós mesmas com outros olhos. Cada pequena mudança no meu corpo era motivo de alegria “.

Amanda Guimarães, mais conhecida como Mandy Candy, é youtuber trans e gamer
Amanda Guimarães, mais conhecida como Mandy Candy, é youtuber trans e gamer

No livro de Lisa Williamson, David recebe o apoio dos pais quando se abre para eles. Na vida real, as coisas nem sempre são tão compreensivas, mas Mandy tirou a sorte grande! Sua mãe, seus irmãos e amigos sempre a apoiaram. Ela, inclusive, é uma grande amiga da sua primeira e única namorada. “O máximo que rolava entre a gente era beijinhos. A adolescência, toda aquela pressão de ficar com alguém para não ser zoado… Hoje, rimos de tudo isso”, admite a youtuber, que mostrou vários documentários de crianças e jovens transexuais para a mãe quando tinha 19 anos, momento em que se sentiu plenamente segura para ter essa conversa : “foi quando contei que era uma mulher transsexual – apesar de achar que ela sempre desconfiou. Os pais sempre sabem, né? Ela me abraçou e disse que me amaria de qualquer forma”.

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Fã de Pókemon e de jogos online, Mandy conta que no início da transição queria mudar seu nome de batismo para Yuna, personagem de Final Fantasy XI, seu game preferido. Contudo, apesar da aceitação da família, a mais importante de todas, e de tudo parecer ter ocorrido tranquilamente, Mandy afirma que é vítima de transfobia diariamente. “Muita gente já me magoou. Já recebi e ainda recebo olhares tortos, como se eu fosse uma aberração . Infelizmente, as pessoas ainda não conseguem aceitar e respeitar o próximo”, desabafa a brasileira, que nasceu em Gravatí, no Rio Grande do Sul.

[youtube=https://www.youtube.com/watch?v=4IhuxkZz-Gc&w=640&h=390]

Representar as mulheres trans no YouTube é recompensador. Amanda lembra sempre de uma mensagem que recebeu de uma garota que graças ao canal teve coragem de pedir o apoio da família para realizar a transição. Sem contar as inúmeras mensagens de pessoas se aceitando após assistirem aos seus vídeos, independentemente do gênero. “Nós, transexuais, somos pessoais normais, iguais a qualquer outra. Fico emocionada de ajudar nem que seja um pouquinho”, emociona-se. Recentemente, Mandy passou por outra transição, a capilar, que a deixou ainda mais confiante!

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Não há nada mais importante nessa vida do que ser quem é. Sentir-se. Respeitar-se. Aceitar-se. Amar-se. Para algumas pessoas é um pouco mais difícil entender como alguém pode nascer homem e sentir-se mulher, e vice-versa. Não há vergonha nenhuma nisso. A Mandy, por exemplo, procura ser simples e direta em seus vídeos didáticos, e não se importa em responder as mais indiscretas perguntas, se o intuito delas for obter conhecimento para aprender mais sobre o próximo e respeitá-lo. Mas, na verdade, tudo é muito mais simples do que parece. Você deve ter um sonho. Aquele sonho que acalma a alma naqueles minutinhos antes de dormir, em que você pode imaginar o que quiser, ser quem quiser. Ou, no caso, ser quem realmente é. Alguns só vão se sentir completos quando conhecerem o ídolo. Outros, quando passarem na faculdade ou se apaixonarem ou conseguirem trabalhar na CAPRICHO . Outros, ainda, quando o corpo e a mente, finalmente, forem um só e viverem em completa harmonia. ” O momento mais feliz que já tive foi quando fiz xixi pela primeira vez depois da cirurgia . Nem todas as mulheres trans sentem necessidade de fazer a operação de mudança de sexo, mas, para mim, era algo fundamental. Era o sonho da minha vida!”.

E com sonhos não se brinca.

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Comportamento
Quero ser uma menina: a história da Amanda Guimarães, a Mandy Candy
'Nós, transexuais, somos pessoais normais, iguais a qualquer outra.'

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