No Brasil, uma pessoa morre por suicídio a cada 45 minutos. É uma das principais causas de morte entre jovens brasileiros de 15 a 29 anos. No mundo, uma tentativa falha de tirar a própria vida acontece a cada 3 segundos. A cada 40 segundos, uma tentativa se concretiza. São cerca de 800 mil pessoas que entram na estatística do suicídio por ano.
É claro que o desejo é que não tivéssemos que apresentar estatísticas tão fortes para abordar o tema, mas todos esses dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e servem de alerta para mostrar a necessidade e a importância de falar sobre a prevenção do suicídio – e essa foi a questão abordada pela Dra. Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, no Festival Amarelo, promovido pelo Instagram Brasil em parceria com a CAPRICHO.
“São irmãs que choram porque seus filhos não vão ter tio. Pais que choram porque não vão ser avós“, conta Dra. Karen, iniciando sua fala sobre a experiência que tem diariamente com pessoas, no painel intitulado “Por que precisamos falar sobre prevenção do suicídio?”. Muitas dessas pessoas perguntam qual é exatamente a diferença entre a tristeza e a depressão, que também é uma dúvida muito comum na população. Segundo a psicóloga, a primeira tem um motivo, começo, meio e um fim. A tristeza é normal, parte do diverso conjunto de sentimentos de todo ser humano. Já a depressão, não. “Ela vem mesmo quando tudo está bem”, comenta.
Um psiquiatra é o especialista indicado para tratar a depressão, mas um psicólogo pode ajudar a pessoa a entender como ela está se sentindo e como ela pode passar por algumas situações. O importante é não achar que pode lidar com a depressão sem ajuda. “Pra mim, a terapia é quase como atravessar um inferno, acompanhado, com um rumo, sabendo que você vai chegar na outra margem transformado e você vai se encontrar com a vida de outra forma”, afirma a Dra. Karen.
De acordo com a psicóloga, os jovens que pensam em se matar costumam ter vários motivos para isso: bullying, abuso de drogas, gravidez na adolescência, violência, abuso, injustiça, desigualdade social, entre outros. “A gente sabe que eles estão dentro do que nós chamamos de ‘3 Is’. Dentro de dores intermináveis que eles acham que não vão acabar nunca, inescapáveis, que eles não veem outra saída, e insuportáveis, que eles não aguentam mais”, explica.
Mas, afinal, o que você, que não é especialista na área, pode fazer para ajudar na prevenção do suicídio? Dar atenção para o assunto e para aquela pessoa que você sabe que está passando por uma situação difícil, mesmo que ela não seja tão próxima do seu convívio. A Dra. Karen usou a história de Kevin Hines, um homem que pulou da ponte Golden Gates e sobreviveu, para exemplificar que o simples ato de demonstrar preocupação e interesse no que uma outra pessoa está sentindo pode, sim, salvar uma vida. “Mesmo que a gente não saiba exatamente o que falar ou como começar essa conversa, mesmo que a gente não tenha palavras que tirem a dor dessa pessoa, a gente pode fazer alguma coisa (…) Podemos perguntar“, diz.
Ajudar alguém que está passando por essa situação não precisa ser necessariamente dar conselhos e orientações. Aliás, esse é o trabalho de um profissional. O que você pode fazer é orientar a pessoa a procurar uma ajuda médica, falar com os pais ou alguém de confiança. Escutá-la com atenção e compartilhar informações sobre o assunto são os primeiros e principais passos: “Dizem que o suicídio é um grito de socorro que não foi ouvido a tempo, então vamos gritar para acabar com esse silêncio porque esse silêncio mata (…) Precisamos falar sobre o suicídio porque, no silêncio, ele cresce”.
Uma experiência única sobre promoção de saúde mental, o Festival Amarelo aconteceu no dia 8 de setembro. Se você precisa de apoio emocional, entre em contato com o serviço gratuito de prevenção do suicídio CVV, o Centro de Valorização da Vida, através do telefone 188 ou do site www.cvv.org.br.