Quando o assunto é futebol no Brasil, todo mundo sabe que as oportunidades são dadas aos meninos muito antes de chegar às meninas. Quer fazer um teste? Pergunte a um homem quando ele começou a jogar futebol, mesmo que seja aquele mais amador na rua com os vizinhos. Provavelmente, ele irá responder que joga bola desde criança e começou pouco tempo depois de aprender a andar. Agora, faça a mesma pergunta para uma mulher. É bem provável que o primeiro contato dela com o futebol tenha sido apenas durante alguns minutos na aula de Educação Física. Ou, talvez, nem tenha recebido esse espaço!
No início de julho, a Nike organizou um bate-papo no Nike FTBL Studio, em São Paulo, para debater sobre o futebol feminino no Brasil. A CAPRICHO esteve presente no evento e conversou com a Júlia Vergueiro, que coordena o projeto Pelado Real Futebol Clube, que oferece treinos de futebol para meninas e mulheres de diferentes idades.
Para Júlia, o principal momento em que as pessoas formam a paixão pelo esporte acontece quando elas ainda são crianças. “Os meninos têm isso muito forte no Brasil e desde pequenos são incentivados a jogar bola, mas as meninas não. Inclusive, elas passam a jogar futebol e a praticar esportes mais tarde que os meninos e desistem dessa prática mais cedo“, revela Júlia. Por isso, ela acredita que, o quanto antes as meninas começarem a viver e se apaixonar pelo esporte, mais fácil será manter a prática esportiva depois.
O esporte, não somente o futebol, contribui em uma série de benefícios físicos e psicológicos na vida da menina: desenvolver coordenação motora, aprender a se relacionar com outras pessoas, saber definir e ir atrás dos objetivos… “Quando você faz parte de um time, você passa a aprender seu papel ali dentro e como você precisa cooperar para que todo mundo chegue em um mesmo objetivo. Esse é o tipo de aprendizado que a gente usa em qualquer momento da vida”, explica.
Júlia também destaca o autoconhecimento como outro benefício muito comum. “Ter vergonha do corpo é um problema que muitas adolescentes têm. Então, a menina que é esportista já conhece o corpo dela e passa por esses desafios de se tornar mulher de uma forma muito mais fácil“, comenta. Além disso, as meninas aprendem a trabalhar em equipe, estabelecer e fazer o que for preciso para conquistar as metas. E se não conseguir, aprender a perder e continuar lutando para alcançar a vitória.
É importante incentivar desde cedo meninas a praticarem esportes, mas será que tem alguma idade certa para começar? De acordo com Júlia Vergueiro, qualquer idade é boa para motivar a prática esportiva. Até mesmo quando a criança começa a andar, ter o contato com a bola é muito importante. Mas, na estrutura de jogos e treinos, a partir dos 5 anos já é possível iniciar, porque é quando a menina começa a ter um nível de atenção maior.
O apoio da família também é fundamental para que as garotas comecem no esporte, seja ele qual for. No Pelado Real, muitos pais levam as filhas para as aulas porque, na escola, os meninos não querem que elas joguem ou as intimidam de alguma forma. Mas, junto de outras meninas, a garota se sente mais parte daquilo e se permite viver o esporte com mais força de vontade e paixão. E isso faz uma baita diferença, viu?
Ainda é preciso traçar um caminho longo para transformar o futebol feminino no Brasil. Para Júlia, não existe uma solução mágica que faça o esporte crescer entre público e a mídia, mas uma soma de pequenas coisas farão a gente chegar lá. E cada um tem o seu papel nessa missão! O dela, como incentivadora da prática, já está sendo feito ao criar mais espaços e motivar meninas a jogarem bola. “Mas as famílias precisam entender que, se eles não levarem essas meninas, isso não vai acontecer. Quando você é criança, você depende muito do seu pai e da sua mãe. Então, a gente precisa criar uma cultura de que é importante ter o futebol e o esporte para a criança, independente de ser menino ou menina, porque isso vai gerar muito desenvolvimento para ela no futuro“, conclui.
Garotas, acreditem em vocês e se arrisquem. Vocês são capazes! E aí, já descobriu qual é o seu papel para o crescimento do futebol feminino no país? #PlayLikeAGirl