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Por que as bookredes ignoram as pessoas pretas que produzem conteúdo?

É preciso rolar o feed por mais de uma hora se quiser encontrar uma pessoa preta. Mas elas existem e têm muita coisa legal para mostrar

Por Roberta Gurriti Atualizado em 18 jun 2023, 11h22 - Publicado em 18 jun 2023, 11h02

Se você entrar em alguma rede social nesse momento e procurar pelas hashtags #booktok ou #bookstagram, verá milhares de posts nas plataformas que se encaixam nesse nicho. Se você olhar as mesmas hashtags, a possibilidade de encontrar uma pessoa preta que fala sobre as mesmas coisas que as pessoas brancas que utilizam essa mesma hashtag, é quase nulo. No #booktok então? É preciso rolar o feed por mais de uma hora se quiser encontrar uma pessoa preta. Mas, aí é que está! Elas existem, e são milhares! Mas, a visibilidade para essas pessoas é quase zero.

Ah! Não me entenda mal, quando falamos nessas mesmas plataformas, com essas mesmas hashtags, casos de racismo que sofremos por parte de um leitor, editora ou marca, nós somos o primeiro rosto que você vai encontrar. Isso somente até 24 horas (às vezes damos a sorte de ser 48) depois que o assunto esfriou e todos voltam a fingir que os casos de racismo nas book redes são isolados e não acontecem o tempo inteiro.

Se eu for te contar quantas pessoas pretas em um ano desistiram de criar conteúdo nas redes sociais, você se espantaria. E não é nem somente pelo fato de que as marcas, editoras e outros creators só nos chamam para algo em novembro, mas pelo descaso, pelo apagamento e pelo prazer de nos tirar do foco sempre. Se for para falar sobre livros de autores pretos, livros com protagonismo preto, somos ovacionados. “Sensata”, “Super necessária” entre outros, são comentados em nossos posts de desabafo. Mas em quê realmente estou sendo necessária?

Se for para falar sobre os mesmos livros que eles, não existimos. Por que? Ah! Pelo simples fato de só nos quererem no lugar de fala sobre racismo e literatura preta. Nós somos muito mais do que isso, poxa! Estudamos, nos profissionalizamos e aprendemos coisas para compartilhar na internet sobre qualquer coisa que gostamos como qualquer outra pessoa, mas, se for para falar sobre o mesmo que eles, somos jogados de lado porque “esse protagonismo não é nosso”, “devemos apenas falar de literatura preta, de coisas de pessoas pretas, de racismo…”.

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Não nos convidam para seus eventos chiques e enormes e, quando falamos disso nas redes, compartilham nossas postagens para se mostrar “antiracistas”, mas cadê essas mesmas pessoas quando precisamos de apoio para que as mesmas marcas que notam eles, nos note também? Cadê essas mesmas pessoas para compartilhar nosso conteúdo quando não estamos falando sobre racismo ou algo que aconteceu conosco? Sentem-se “antiracista” e “apoiador” da causa apenas quando convém, ou também vai nos apoiar de igual para igual?

É difícil criar conteúdo sendo preta em um nicho tão específico quando não querem nos ouvir, ouvir nossas opiniões sobre o livro hypado, nosso cantor favorito ou qualquer outra coisa que já não esteja sendo dita por eles! Claro que, há uma mínima porcentagem que ainda consegue se destacar e nos dar esperança, mas todos os dias essa esperança se vai de pouquinho em pouquinho. Não sou eu apenas dizendo, mas várias pessoas que compartilham comigo da mesma frustração.

Milhares de criadores pretos, com conteúdos incríveis, para todo gosto e com uma qualidade de cinema, se desdobram criando conteúdo todos os dias. Não estamos pedindo migalhas ou implorando por atenção. Queremos ser ouvidos, vistos e compartilhados tanto quanto qualquer criador branco. Apenas isso. Não vale dizer que não segue esses creators porque o algoritmo não te apresenta, se é tão anti racista assim, porque não pode partir de você a vontade de procurar?

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Comportamento
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